Acordo bem cedo, mas gosto de ficar ali na cama a olhar para aquele espaço cheio de pessoas, e vazio de memórias... "Será que é hoje?" Não sei quem me ensinou esta frase, esta pergunta, mas sei-a de cor, repito-a todas as manhãs. A verdade é que não sei ainda acredito que o "hoje" pode chegar. "Será?"
Vivo nesta casa há 11 anos, no total dos meus 12. Tenho os colegas, as pessoas que cuidam de mim, a minha escola, mas... Falta-me algumas coisas. Queria um quarto só meu com coisas compradas para mim... Queria alguém se preocupasse realmente comigo, com as minhas notas e que parasse com a sua labuta só para me ouvir contar o que se passou no meu dia. Queria uma festa de anos, com bolo e presentes, com amigos, e quem sabe até com um palhaço? Queria poder jantar à mesa onde se contavam as novidades, historias e ensinamentos. Queria que me ajudassem a fazer os trabalhos da escola, que me ensinassem a andar de bicicleta, a construir pequenas coisas e a jogar à bola... Queria aprender o significado de preocupação, e de carinho. Queria saber o significado da palavra família, e o poder de um abraço. Queria tanto uma historia contada ao deitar, um abraço e um beijo de boa noite...
Sonho acordado com tudo isto, vejo-me a correr, a brincar e a sorrir num jardim grande de um casa bonita. Cada vez que vejo um casal a entrar pela porta penso: "Olá, estou aqui e sou um bom menino. Não me querem conhecer?" Mas depois sou puxado para a realidade... Há 11 anos que espero, que sonho, mas os dias vão passando, as pessoas vão entrando e saindo e ouço continuamente aquele sussurro: "Ele não, que é grande demais, queremos uma criança pequenina..." Esta frase já não me faz chorar como me fez, das primeiras vezes... Aceito-a agora com normalidade. Vou ficando aqui até que um dia decidam o meu futuro.
CA
Vivo nesta casa há 11 anos, no total dos meus 12. Tenho os colegas, as pessoas que cuidam de mim, a minha escola, mas... Falta-me algumas coisas. Queria um quarto só meu com coisas compradas para mim... Queria alguém se preocupasse realmente comigo, com as minhas notas e que parasse com a sua labuta só para me ouvir contar o que se passou no meu dia. Queria uma festa de anos, com bolo e presentes, com amigos, e quem sabe até com um palhaço? Queria poder jantar à mesa onde se contavam as novidades, historias e ensinamentos. Queria que me ajudassem a fazer os trabalhos da escola, que me ensinassem a andar de bicicleta, a construir pequenas coisas e a jogar à bola... Queria aprender o significado de preocupação, e de carinho. Queria saber o significado da palavra família, e o poder de um abraço. Queria tanto uma historia contada ao deitar, um abraço e um beijo de boa noite...
Sonho acordado com tudo isto, vejo-me a correr, a brincar e a sorrir num jardim grande de um casa bonita. Cada vez que vejo um casal a entrar pela porta penso: "Olá, estou aqui e sou um bom menino. Não me querem conhecer?" Mas depois sou puxado para a realidade... Há 11 anos que espero, que sonho, mas os dias vão passando, as pessoas vão entrando e saindo e ouço continuamente aquele sussurro: "Ele não, que é grande demais, queremos uma criança pequenina..." Esta frase já não me faz chorar como me fez, das primeiras vezes... Aceito-a agora com normalidade. Vou ficando aqui até que um dia decidam o meu futuro.
CA
Nota Posterior: Ao escrever estes post "temáticos" a minha intensão é sempre colocar as pessoas a pensarem. Como eu costumo dizer, enquanto me leem e comentam pensam 5 minutos sobre o tema. Tento escrever algo que seja semelhante à realidade, mas (in)felizmente existem realidades que não conheço. Após escrever este texto, veio-me a chamada de atenção do Jorge:
Na realidade as pessoas não vão aos centros de acolhimento ver as crianças, aquela parte do "Ele não, que é grande demais, queremos uma criança pequenina..." ", realmente não é suposto acontecer. A segurança social apresenta os dados de uma criança especifica a quem quer adoptar e só depois de haver uma resposta positiva para aquela criança é que as pessoas vão ao centro de acolhimento... mas é ver aquela criança, não escolher uma criança.
A verdade é que, em todo o caso, existe a escolha, seja presencial ou em processo... Mas fica a informação para todos e fica reposta a verdade. Obrigada Jorge.
Pois... tantos queriam ser escolhidos. Tantos são já "grandes demais". Tantos queriam adoptar, sem "escolher" e não preenchem os requisitos.
ResponderEliminarCreio que rever todo este processo seria importante. Seria importante para os que querem uma familia.
Beijo grande!
Olá
ResponderEliminarExistem muitos milhares de crianças em Portugal nessa situação, infelizmente é verdade, crianças que não tem um projecto de vida, que nunca terão uma família, porque ninguém se preocupa em mudar essa situação.
Todos deveríamos lutar para que isso mude e para que essas crianças possam ter uma família.
Jorge
Cátia, mais um texto teu que chama a atenção para problemas graves da nossa sociedade. Concordo com a Marta, é que há tanta gente a querer adoptar sem olhar a idade ou cor... Estaria, se calhar, na altura de começarmos a bater o pé, de gritarmos a nossa indignação.
ResponderEliminarLágrima...
ResponderEliminarBeijos
Marta,
ResponderEliminarÉ bem verdade primota, há mesmo demais "grandes demais" e ha mesmo tantas familias que seriam optimas familias adoptimas mas os critérios sao demasiado rigorosos e até exagerados e descriminatorios. É importante rever tudo isso sim...
Beijinho
Jorge,
Obrigada pelo teu contributo sincero e real para esta realidade. Agradeço eu, e agradecem os milhares de crianças.
Abraço.
Cris,
Como sabes gosto de escrever sobre "alguns" assuntos que muitos não querem ver. Este é demasiado importante para ser ignorado.
Era optimo que houvesse uma mudança na lei... mas não será facil, ainda somos "atrasados" nalguns assuntos...
Beijinhos
Lua,
É muito bom ver-te por aqui. De facto este assunto é tocante, e mais tocante quando se pensa nos milhares de crianças que se encontram entregues ao "sistema".
Beijos
Olá Amiga!
ResponderEliminarAlgo me dizia (após a nossa conversa) que te preparavas para postar algo sobre o assunto... e fizeste muito bem! De forma real (apesar do texto de ficção), tocante e bastante ilucidativo.
Parabéns!
Sobre este tema, há tanto, tanto para dizer... Familias que querem uma criança, crianças que querem uma familia... Crianças que porque não são bébés, louros, de olhos azuis, simplesmente NÃO SERVEM!! Mas todo esse imenso RESTO de crianças é tão desejado por tantas familias..... Tanto para dizer....
Vou contar-te algo que, até à data, nunca te disse: tenho um plano na minha vida - quando a minha princesa for mais crescidita tenciono candidatar-me à adopção de uma criança "diferente". Imaginas quantas crianças como a minha filha e com outros problemas bem mais sérios FICAM DE PARTE???? Além de não preencherem os requisitos fisicos, de idade, AINDA SÃO DIFERENTES!!!!!!!
Como já sabes, acho que um pouco por parte de todos, e o mundo pode ficar um pouco mais colorido (no minimo para as pessoas que recebem algo que possamos dar-lhe; NOTA: quando falo em receber algo, deixo a materialidade em segundo plano)
Vamos, aos poucos, tentar sensibilizar as pessoas para estes e para outros problemas que são verdadeiros carrascos dos nossos tempos.
Beijoca grande
CA
Cristina
ResponderEliminarAmiga, minha vontade de escrever sobre este assunto veio da minha "conversa" com o Jorge, e com a passagem pelo blog dele de adopção. A verdade é que eu refiro varias vezes aqui no ticho outros problemas, mas adopçao falei apenas uma vez e foi com um texto da Marta. Este texto não me saiu bem como eu queria, mas a verdade é que não posso dizer que sei como sentem ou pensam estas crianças, apenas imaginar. Mas pelo menos falei...
Aqui o meu menino da historia "apenas" era grande demais... Muitos outros medidos com pequenos "problemas" ainda mais ficarão de lado. Falas aqui na tua princesa, uma menina linda e inteligente mas que tem um pequeno "problema" fisico que não a impede de ser a pessoa linda que é (por esta altura já estás toda babada, ja sei...). Mas imagino (ou se calhar nao) o que acontece a essas crianças numa instituição destas. É que para além de nao terem uma familia, terão que superar todo o preconceito sem nenhum apoio...
Fico muito feliz pela noticia que me dás. Quando disseste que era um assunto que te era muito querido, vi que haveria algo mais por trás... Sei que serás uma optima mae para essa futura criança. Mas não achas que a tua menina ja a aceitaria? Porquê deixar passar muito mais tempo?
Obrigada por seres a pessoa que és.
Beijinho grande
Gostei!!!
ResponderEliminarCátia
ResponderEliminarNão tens o teu mail no perfil,podes por favor enviar-me um mail para jfreitas.soares@sapo.pt ? preciso de trocar uma ideia contigo sobre este texto.
Obrigado
Jorge
Um dia quero entrar e sair com ele... dar-lhe o que sonha e o que a realidade o vai ensinar a sonhar.
ResponderEliminarSabes?! És linda!
Bjinhos
Minha maninha linda,
ResponderEliminarAdorei este texto! Este é um dos temas que mais me sensibiliza e... nada mais tenho a acrescentar......................
Obrigada por teres tocado no assunto.
adoro-te
Amiga,
ResponderEliminarpois é... quantas e quantas não ficam eternamente sem saber o que é o aconchego de um lar de verdade?!... mas também, quantas não têm que ser retiradas aos progenitores e colacadas em instituições porque no seio da família, que as deveria proteger, acontecem tantos abusos e tantas negligências?!...
O mundo hoje está muito EGOÍSTA. Só se pensa no que pode girar à volta do EU.
E até uma criança, quando vem e só vem, para fazer a felicidade dos pais, se não descarta-se! (Isto em todos os sentidos) A criança, para uns é um adulto em miniatura; para outros, um brinquedo; para outros, uma coisa; para outros, nem nada chega a ser, apenas uma relação sexual mal sucedida.
Quando a criança só precisa de ser CRIANÇA com todos os direitos que lhe dão o verdadeiro sentido do termo.
É esta a sociedade egoísta que estamos a construir e que daqui a algum tempo dará os seus frutos!
Belo tema e bonito texto, querida amiga!
Um grande beijinho e um óptimo dia.
Uma vez mais a realidade é bem diferente. Somos familia de acolhimento de crianças em urgencia(maltratos, abandonos, adopçoes...) Tivemos a IMENSA honra e o ENORME prazer de ter, em acolhimento um recem-nascido, Alexandre Nicolás, com apenas 6 dias...pasado o mes de reflexao da mae (2ª renuncia)a familia que o ia adoptar - nao o quiz... "QUE TINHA PENSADO MELHOR"... e o insolito é que nao é inedito...
ResponderEliminarPode-se adoptar, acolher, apadrinhar...
Esta é uma causa prioritaria
um xii
Olá querida venho só dizer que tenho andado sem net...dai a minha ausência. Beijinhos MIL =)
ResponderEliminardo tema em causa, é melhor post q já li.
ResponderEliminarbelieve.
infelizmente é assim.
de salutar os teus posts que abordam temas muitissimo importantes.
bj grande dear e good week.
delfim peixoto,
ResponderEliminarObrigada. Passe sempre..
Jorge,
Já vi o mail que me enviaste, assim que tiver 5min faço as alterações e faço o reparo por aqui.
Obrigada, de facto nem todos nos sabemos a realidade destes processos.
Beijinhos
Ni,
Seria mesmo muito bom que todas as crianças pudessem ter os seus sonhos realizados... Nem que fosse "apenas" um carinho, um mimo, um dia especial.
Quanto ao resto, nao exageres ;)
Beijinho grande
Patrícia,
Manocas, infelizmente nunca tinha tratado este assunto aqui, para além do texto da prima "grande demais", há já bastante tempo. Mas este é de facto um tema a tratar, a nao fechar os olhos. E em breve será novamente tratado... Existem muitas crianças que merecem ter voz.
Abraço apertado
Fa
ResponderEliminarÉ bem verdade, existem muitas crianças que são retiradas, muitas que apenas entram e saem nas casas para satisfação dos adultos.. Existem realidades bem cruéis.. Mas nao podemos esquecer que existem crianças que são adoptadas e são felizes.
Obrigada pelos pontos de vista.
Beijinho muito grande
r.filgueira,
Nem sei bem o que lhe dizer. Imagino que ser família de acolhimento seja mesmo uma honra e um prazer. Quero felicita-la por tudo isso. Quanto à situação que nos conta, nao imagino os números de casos semelhantes que existem.
Xi apertado
kleine hexe,
ResponderEliminarObrigada pela visita querida, gosto de te ter por cá. Aguardo as tuas visitas...
Beijinho muito grande
Fontez,
Es o mesmo exagerado de sempre. Apesar de ter tentado dar o ponto de vista das crianças, pelo que já me foi dito, este nao reflete bem a realidade.. Em breve teremos correcções..
Gosto de chamar a atenção dos que me lêem para alguns assuntos. Penso que pelo menos nos 5min em que lêem e comentam, pensam nisso..
Beijinho p ti
Querida Amiga,
ResponderEliminarPasso para te deixar um beijinho grande.
CA
sim é o q dizem,... q a minha sinceridade é exagerada!
ResponderEliminarbjs
peace.
a simplicidade e espontaneidade que demonstram os teus posts é que valem peso de reflexão e chamada de atenção.
a questão de fundo não está na diferença que a realidade tem perante o que escreves, mas sim o estímulo de reflexão que tu crias em assuntos delicados e importantes!
ResponderEliminargood day.
Quando fui buscar a minha princesa a um centro de acolhimento, ao olhar para um menino que estava na instituição tive exactamente essa sensação. A criança devia ter 10, 11 anos e o olhar dele reflectia exactamente esse pensamento: "Mais um que tem uma família, e eu?". Senti uma tristeza enorme.
ResponderEliminarBeijos
Gostei da nota posterior.
ResponderEliminarPor cá, zapaterolandia, tb em circunstancia alguma (adopçao ou acolhimento) se vai "ver/escolher" a criança... Pelo contrario a essas idades sao eles que na ultima fase nos escolhem ou nao...Depois de todo o processo a criança pode "nao ir com a nossa cara" e é a sua vontade a que prevale se.
A adopçao nao pode ser um processo simples e facil pq um filho nao pode ser uma decisao tomada por impulso, mais valias/seguros vitalicios de casamentos ou para complementar carencias pessoais... Depois é o que acontece: querem "devolver" as crianças - "pq esta tem/da problemas"...
Um filho é para toda a vida pelo que adopçao é e tera de ser um assunto muito serio
Ja agora - quando vamos buscar os "anjos" - nao contactamos com outras crianças pelo que nao somos vistos nem nos veem e se me permite, Ticho, 5 minutos aqui+ 5 por acola mais outros 5...proponho vos SEJAMOS DONANTES DE TEMPO em causas concretas
xii
Cristina Arriaga,
ResponderEliminarAmiga querida, beijinho para ti tambem, sempre! :)
Xi
Fontez,
Es um exagerado sim. E ainda bem que os meus posts conseguem passar essa reflexão.
Beijo para ti
Cristina,
Não consigo imaginar os sentimentos que nos envolvem nessa altura, a tristeza, a revolta.
Obrigada pelo testemunho, passe sempre.
Beijinhos
R. Filgueira,
Pelo que percebi, cá em Portugal tem-se contacto com as outras crianças na altura da entrega... De facto uma criança nao pode ser descartavel, e tem que ser reflectido. Mas a verdade é que em Portugal só complicam...
Em causas concretas? Quer dar-me uma sugestão?
Xi para si