terça-feira, julho 28, 2009

Marinheiro...

Conhecemo-nos quando tínhamos cerca de três anos. Ele chamava-se Tito. Lembro-me que era moreno de olhos castanhos, com o cabelo um pouco caído. Lembro-me que era giro para os meus padrões da altura. Lembro-me que usava um chapéu à marinheiro. Faria ele o sucesso dos marinheiros e das mil aventuras? Lembro-me que éramos muitos parecidos e isso acabou por nos juntar. E foi assim que passámos a namorados... Alguém acreditará que os namorados dessa altura não se esquecem?!

Os caminhos separaram-se mas reencontramo-nos num Verão de praia, uns anos mais tarde, ainda em criança. Teríamos os nossos 8 ou 9 anos. Ele continuava a ser o Tito para mim, aquele de há anos atrás, aquele por quem tinha um sentimento diferente, aquele por quem chamava meu...

Nunca mais o vi desde esses dias, e já se passaram mais de 40 anos... Mas hoje cruzei-me com ele em sonhos. Dentro dos seus 50 anos, não o reconheci. Como poderia?! Mas acordei com a imagem dele, uma imagem que não será real mas que o foi naqueles segundos... Acordei com a imagem daquele homem que me marcou sem saber, daquele primeiro amor que me acompanhou a vida inteira...

Pergunto-me por ele, como será ou o que fará? Pergunto-me se terá família, amigos ou conhecidos por perto. Pergunto-me se foi feliz como eu não fui... Pergunto-me por ele e se ele se lembrará dos tempos em que era o meu marinheiro.

Adenda: Este post foi linkado aqui

sábado, julho 25, 2009

Entre o sono e o sonho...

"Entre o Sono e o Sonho" é uma antologia de poesia contemporânia que juntou 41 pessoas que amam a escrita e a poesia. Mas, para mim, mais que 41 pessoas juntou, sem saberem, duas amigas minhas, duas amigas do ticho, lado a lado, página a página, literalmente. Duas amigas juntas nas mesmas páginas, haverá maior orgulho? Uma que apareceu recentemente na minha vida, mas que de uma forma tão sua entrou profundamente no meu coração, entrou com um carinho, com um gesto, com um poema dito no silêncio das palavras... Outra que entrou na minha vida há para mais de dois anos, e que se tornou para mim uma pedra preciosa.


Hoje foi o lançamento do livro, pelas 20h30 no Cáfé In, em Lisboa... E eu não podia deixar de estar presente, para estar lá, com uma fisicamente com outra no coração.


O Café In fica bem junto ao rio Tejo, com uma vista fantástica. O clima, o ambiente ajudavam, adivinhava-se bons momentos. O livro foi apresentado pelos representantes da Chiado Editora e do Portal Lisboa, e depois, um a um foram chamados os autores para partilharem algumas palavras.



E foi assim, que no meio de imensa gente, pude conhecer uma pessoa linda com um coração lindo e com uma escrita extraordinária. Uma pessoa que eu gosto e admiro...

Sei que não foi possível estarmos muito tempo juntas e as palavras também não foram muitas mas quero dizer-te que... Foi mesmo um prazer enorme conhecer-te e as tuas palavras... têm a característica de me tocar bem fundo... Cada palavra tua têm um perfume especial. Foi o que mais me surpreendeu, e o quanto mais me cativou, quando me deparei com elas pela primeira vez...

Parabéns Luísa e Parabéns Fa pelo livro, pelos poemas lindos que escreveram e pelas pessoas extraordinárias que são.

Convido todos os meus leitores a comprarem este livro que já tive oportunidade de ler grande parte dos seus poemas. E para além de ser um belissimo livro, os direitos de autor foram doados a uma instituição de solidariedade social.

terça-feira, julho 14, 2009

Fico em silêncio...


Eu fico em silêncio... Mas deixo-vos música para alegrar a casa... Até quando? Até amanhã, depois ou só depois ainda... Não sei.

Adenda às 21h54: Se estava já em silêncio, agora por ti e pela Rinha, deixo aqui o meu silêncio de coração. Que possas saber-me sempre perto.

Até ao meu regresso!

segunda-feira, julho 13, 2009

Não percebo...

Não percebo. Não percebo o que me dizem. Não percebo o que me querem dizer. Não percebo porque lidam diferente comigo. Não percebo porque não entendem o que digo. Não percebo porque não entendem o que quero. Não percebo porque é que acham que sinto diferente. Não percebo porque me olham diferente na rua. Não percebo porque tenho eu que ficar em casa. Não percebo porque não vou à escola normal. Não percebo porque não posso ir brincar para o parque. Não percebo porque não consigo andar sozinho. Não percebo porque não consigo comer pela minha mão. Não percebo porque não tenho amigos.

Não percebo... Porque é que não me percebem.

quinta-feira, julho 09, 2009

Estrelas no olhar...

Está uma noite límpida de Verão. A janela está entreaberta e chama-me lá para fora. Paro o que estou a fazer e aproximo-me do parapeito. Olho lá para fora e sinto toda aquela tranquilidade que a paisagem me transmite. O céu está limpido e as estrelas puxam-me o olhar... São tantas e tão belas que me perco no pensamento. Mas uma chama-me a atenção por ser mais brilhante que todas as outras... Sorrio de mansinho. É nessa altura que, de repente passa uma estrela-cadente e eu, como que por reflexo, fecho os olhos para pedir um desejo. Mas lembro-me de ti e não o faço... Aquela estrela já trouxe algo de muito especial à minha vida... O olhar vai novamente para aquela outra estrela brilhante e acabo por sussurrar um simples "Obrigada".

Há uns meses, pediste-me que te falasse sobre amizade. Se mo pedisses hoje, dar-te-ia simplesmente um abraço apertado e apontaria para aquela estrela... Neste dia especial, deixo-te o meu coração cheio de carinho e amizade... Neste dia especial, escrevo-te com estrelas no olhar para desejar muitas felicidades.


Muitos Parabéns Querida Amiga!


terça-feira, julho 07, 2009

Caça ao tesouro..

Saimos de casa depois de jantar. Tinhamos uma missão, seguir as indicações que nos tinham dado, passar pelos locais pre-estabelecidos, recolher o que haveria a recolher, tentar desviar dos perigos que nos prepararam e chegar lá... ao fim. As coisas nunca corriam assim de forma tão simples, sabiamo-lo. Todos sabiamos... menos os recém chegados. Mas esses, no fundo até tinhamos prazer os ver amedrontados. Nós, da velha guarda, tinhamos já feito caminhos semelhantes vezes sem conta... Eram terrenos irregulares, eram canaviais, eram pomares, por vezes eram riachos... uma ou outra vez foi o cemitério. Sabiamos que os perigos viriam, sabiamos que nos iriamos perder, sabiamos que iriamos ter alguma fome. Mas também sabiamos o que fazer, como agir... Caminhar todos juntos com alguém destemido à frente e alguém responsável atrás para nos guardar as costas, fazê-lo em silêncio para que não dessem pela nossa passagem com muita antecedência. Para além disso deviamos caminhar com a lanterna apagada, mesmo nos espaços desconhecidos: a lua é a melhor guia, faz-nos ter perspectiva de todo um espaço e não apenas de uma parte.

Eram mil ataques com medo e sobressalto. Mas sabia que chegariamos, com vida e entusiasmados por reencontrar quem gostamos, com mil histórias para contar, histórias de uma sobrevivência...

Lembro-me de uma dessas noites, em que exausta cheguei a uma praia. Cheguei às portas da morte, com fome e sede, depois de ser atacada por uns e outros, depois de me perder por caminhos desconhecidos e ter que entusiasmar e cuidar dos mais novos que já choravam... Cheguei tarde, mais tarde do que desejaria, mais tarde que a hora marcada. Mas cheguei e lembro-me de ter ver e de ver o teu sorriso... Lembro-me de nos sentarmos lado a lado na areia, pegares na viola e cantares para tranquilizares os que ainda tremiam... E fez-se silêncio. Eu olhava para o mar tranquilo da meia-noite e para a lua cheia enquanto sentia a brisa gelada do oeste e ouvia-se apenas a tua voz embalada pela viola...

... Esse era o meu tesouro.

sexta-feira, julho 03, 2009

És bom?! Só lá fora...!

Nascida a 23 de Julho de 1944, Maria João Pires aprendeu muito cedo a tocar piano: aos cinco anos deu o seu primeiro recital e aos sete anos tocou publicamente concertos de Mozart.

Com nove anos recebeu o prémio da Juventude Musical. Torna-se reconhecida internacionalmente ao vencer o concurso internacional do bicentenário de Beethoven, em 1970, realizado em Bruxelas.

Decepcionada com o modo como tem sido tratada a nível governamental, sobretudo no seu projecto de ensino artístico de Belgais (Castelo Branco), Maria João Pires, que tinha dupla nacionalidade, decidiu agora ficar apenas com a brasileira. Em Junho de 2006, Maria João Pires abandonou o Projecto Educativo de Belgais, que desenvolveu no concelho de Castelo Branco, e decidiu ir viver para o Brasil, onde pediu autorização de residência. A pianista está a viver em Salvadora, no Estado da Bahia, e vai dedicar-se à hotelaria.

Hoje, com os seus 65 anos, Maria João Pires renunciou à nacionalidade portuguesa, tornando-se cidadã brasileira. A pianista fartou-se “dos coices e pontapés que tem recebido do Governo português".

Maria João Pires renunciou à cidadania portuguesa mas não aos concertos em Portugal, estando igualmente a preparar um novo disco.

É assim que tratamos os que, por alguma forma, se destacam? Já sabes, se és bom nalguma coisa e se queres ser reconhecido... Só lá fora!

Não se esqueçam: esta mulher foi Portuguesa!

quinta-feira, julho 02, 2009

Chuva no Laranjal...

Acordei com a música compassada da chuva de primavera a bater na janela do quarto. Enrolei-me nos lençóis desalinhados na noite passada quando senti os contornos do teu corpo a afastarem-se dos meus. Tinha vontade de te puxar para mim, sentir os teus braços a contornarem-me o corpo e sentir novamente o teu calor a aquecer-me o coração... Mas não o fiz. Fiquei a sentir-te os movimentos lentos pelo espaço... Ouvi a água a correr lá dentro enquanto lavavas o rosto e logo a seguir o armário da entrada onde guardas a gabardina e as galochas que comprámos na feira da aldeia do ano passado. Sorri ao imaginar-te a calçar as galochas sobre o pijama e a saíres para o alpendre... E se alguém te visse que dirias? Dei uma gargalhada silenciosa só pelo pensamento...

Espreitei-te dali. A chuva tocava-te por mim e os pássaros segredavam-te ao ouvido segredos inconfessáveis... Que te diriam? Talvez tudo aquilo que tantas vezes não te disse... Descias pelo laranjal onde, por entre árvores, cheiravas as laranjas lavadas pela chuva. Escolheste as melhores, as mais maduras e as mais cheirosas e trouxeste-as no balde que carregavas contigo.

Pouco depois ouvi novamente a porta mas com os teus passos agora a preencherem o espaço... Ouvi o tilintar da loiça na cozinha, o barulho da cafeteira e... Fui invadida pelo cheiro do café que preparavas. Levantei-me suavemente dos nossos lençóis, desci as escadas silenciosamente para que não te apercebesses da minha chegada. Parei à entrada da cozinha e fiquei a ver-te em silêncio. Tinhas um sorriso terno enquanto preparavas o sumo das laranjas que colheste. Nesse momento o coração estremeceu, via um quadro que jamais quererei esquecer...

CA


Ontem, li o post "2 acordares" neste blog, um post fantástico (não consegui adicionar o link do post, mas procurar no dia 1 Julho de 2009). Apesar de todos os posts serem muito bonitos, este transmitiu-me uma imagem, um flash. Quem já falou comigo sobre a minha escrita sabe que por vezes tenho flashs a passarem-me à frente, como se um filme se tratasse, e devo aproveitar para os escrever ou descrever... Confesso que ontem não o fiz porque o flash original não era meu. Mas hoje, ao voltar lá, nao resisti a escrevo-lo. Espero que a Luísa e o Francisco Ré me desculpem pela ousadia. Obrigada por esta Chuva no Laranjal.

quarta-feira, julho 01, 2009

Porque sim...

... e porque apetece-me ouvir... Não é uma boa razão?


[Esta é a terceira versão deste post... Quem aqui passa, vai tendo sempre algo novo para ler... A música anterior era esta mas, e porque sim também, mudei.]