sexta-feira, dezembro 28, 2007

A primeira carta...



Após um dia um pouco cansativo e uma noite mal dormida, decidi descansar um pouco antes de jantar. De repente, comecei a ouvi a voz da minha mãe a aproximar-se pelo corredor. Acordei, meio atordoada do sono leve... Entrou no quarto e esticou-me um envelope, que trazia. Estava de tal forma que não percebi logo do que se tratava. Mas assim que vi o logotipo, aquele que tão bem conheço, o coração deu um salto, sentei-me na cama a sorrir... "Será que é?! Só pode ser...", pensava. Parecia uma criança em frente de um presente... e que presente!

Abri o envelope, desviei as 2 outras folhas dactilografas, e procurei aquela que me pareceu que poderia conter o que eu queria ler... Vi logo o nome familiar e sorri... Sorri muito. Olho para a folha, admiro-a antes de a ler, quero absorver ao máximo cada sensação, cada traço... Vejo o desenho que vem no final, e começo a ler as breves linhas manuscritas... O coração salta de alegria, e no fim já nem me lembrava do sono nem tão pouco do cansaço... Olhei novamente para aquela folha, aquele pequeno pedaço de papel, e para além do sorriso aberto e do coração apertado, não consegui dizer mais nada sem ser: "Vale a pena...!!"

Ontem recebi a primeira carta escrita pela minha afilhada, a pequena Aninha. Uma carta, com 9 ou 10 linhas, escritas num português correcto em que dizia pouco mas tanto ao mesmo tempo... A sensação de receber a carta é algo que não conseguirei transmitir... Existe felicidade, momentos, situações que só se consegue ter noção quando se vive, mas não podia deixar de o partilhar convosco, que acompanharam o apadrinhamento desde o início... Existe uma frase que costumo dizer: "Posso não mudar o mundo, mas posso mudar o mundo de alguém", parece que a Aninha veio sublinhar essa minha ideia.

A associação renascerá em 2008 como uma organização 100% portuguesa, com um novo nome, nova cara, um novo percurso, mas com a mesma vontade. Chamar-se-á Helpo e terá novo endereço em http://www.helpo.pt/. Conto com a vossa ajuda na divulgação, acredito que juntos poderemos construir um mundo um pouco melhor...

domingo, dezembro 23, 2007

Carta ao Pai Natal...



Olá Pai Natal,

Desculpa o atrevimento mas tenho alguns pedidos, espero que não fiquem nalguma prateleira esquecidos. Como nunca te pedi nada, peço tudo duma vez e fica a conversa despachada, mas talvez aches os pedidos meio extravagantes…

Queria que pusesses juízo na cabeça destes governantes, tira-lhes as armas e a vontade da guerra é que senão acabamos a pedir-te uma nova Terra. Ao sem-abrigo indigente, dá-lhe uma vida decente e arranja-lhe trabalho em vez de mais uma sopa quente; e ao pobre coitado, e ao desempregado arranja-lhe um emprego em que ele não se sinta explorado. Ao soldado, manda-o de volta para junto da mulher, acredita que é isso que ele quer. Ao idoso sozinho em casa, arranja-lhe boa companhia…

Vai ver África de perto, não vejas pelos jornais, dá de comer às crianças ergue escolas e hospitais; cura as doenças e distribui vacinas, dá carrinhos aos meninos e bonecas às meninas, e dá-lhes paz e alegria.

Já sei que só ofereces aos meninos bem comportados, mas alguns portam-se mal e dás condomínios fechados, jactos privados, carros topo de gama importados, grandes ordenados, apagas pecados a culpados…

Desculpa o pouco entusiasmo, não me leves a mal, não percebo como é que isto se tornou um feriado comercial! Parece que é desculpa para um ano de costas voltadas, e a única coisa que interessa é se as prendas estão compradas… Para mim Natal é a qualquer hora, basta querer, gosto de dar e não preciso de pretextos para oferecer!

E já agora para acabar, sem querer abusar, dá-nos Paz e Amor e nem é preciso embrulhar, muita Felicidade, Saúde acima de tudo…

Desculpa o incómodo e continua com as tuas prendas…
Feliz Natal para ti…


(Adaptado da música "Carta ao Pai Natal" de Boss AC)

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Metade de mim...


"Que a força do medo que eu tenho, não me impeça de ver o que anseio... Que a morte de tudo o que acredito não me tape os ouvidos e a boca, porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio...

Que a musica que eu ouço ao longe, seja linda, ainda que triste... Que a mulher que eu amo seja para sempre amada mesmo que distante, porque metade de mim é partida mas a outra metade é saudade…

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece, e nem repetidas com fervor, apenas respeitadas, como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos, porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo…

Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço, e que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada, porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão…

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo, se torne ao menos suportável… Que o espelho reflicta em meu rosto, um doce sorriso, que me lembro ter dado na infância, porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei…

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito, e que o teu silêncio me fale cada vez mais, porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço…

Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba, e que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer, porque metade de mim é plateia, e a outra metade é canção…

E que a minha loucura seja perdoada, porque metade de mim é amor, e a outra metade... também... "

(Ferreira Gullar, adaptado)

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Nesse lugar que é nosso...

Existe um lugar,
onde iremos juntos
e juntos havemos de o encontrar.
Lá existe um sentir,
Um abraçar, um sorrir,
que sabemos diferente...
Nesse lugar quero-te comigo,
Ficamos e sentimos...
Pensamos, e sentimos...
Lembramo-nos, e sentimos!
Sentimos, e pensamos
Como tudo é Simples
Doce e Perfeito
Nesse lugar que é nosso...

domingo, dezembro 09, 2007

Revolta...



Existem coisas que me revoltam... E a maldade humana é a provocadora de muitas dessas coisas. Estamos a chegar a uma época festiva, todos nós já respiramos a Natal, compramos os nossos presentes, preparamos o que irá ser a noite de Natal, enfeitamos as nossas casas... Mas existem pessoas que não compram presentes, não têm familia nem amigos, não têm casa para decorar... Existem centenas, milhares de sem abrigos neste nosso país...

Há umas semanas falei-vos de uma campanha desenvolvida pela Comunidade Vida e Paz, chamada "Junta as tuas meias às minhas", que pretendia juntar 5 mil meias para os sem abrigo de Lisboa. A campanha ultrapassou limites e ultrapassou os 12 mil pares... Eu própria contribui (modestamente) para a campanha, mas fiquei feliz quando percebi que esta associação estava a ser tão apoiada, que nem precisavam de mais voluntários para o Jantar de Natal.

Hoje quando vou ler as noticias, leio algo que me arrepia: "Assaltado armazém que reunia géneros para Jantar de Natal dos sem abrigo". Fiquei perplexa!! Afinal, há sempre algo que contrasta com a generosidade...

"Entre os bens roubados contam-se comida embalada recolhida pela associação para confeccionar as 4500 refeições que prevê distribuir durante os dias 14, 15 e 16, nos jantares organizados na Cantina 1 da Universidade de Lisboa.

(...) O desaparecimento de inúmera roupa que seria distribuída durante a acção de solidariedade, nomeadamente centenas de pares de meias novas recolhidas durante uma campanha que decorreu a nível nacional.

A associação pretende levar por diante o jantar de Natal, apelando, por isso, à solidariedade de todos, para que nos próximos dias seja possível recolher os bens alimentares para confeccionar as refeições previstas.

Precisamos da ajuda de toda a gente!! "

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Luta por um gesto...


Era o teu 1º aniversário, e estava desejosa para chegar a casa e poder passar o resto de dia contigo... Estava a chover e o trânsito estava ainda mais louco que o habitual... Em poucos segundos deixei de ter noção do que se passava, reinava o caos. Dei por mim deitada no frio do asfalto, e adormeci. Algo se tinha passado, mas não tinha forças para questionar... Vieram as ambulâncias e os bombeiros, deixei-me levar em silêncio, sem perguntas ou choros... Havia de chegar o momento para tudo isso.

Passaram-se horas, dias, não sei quanto ao certo... Quando acordei estava deitada numa cama de hospital... Era altura de me questionar, de questionar sobre o que se tinha passado. Olhei em redor e não havia ninguém. A sensação que tinha em mim não era boa, sabia que algo se passava, sentia-me perdida em mim, só não sabia o porquê... Foi quando chegou o médico e começou a contar-me o que se tinha passado. Tinha sofrido um acidente com um camião e tinha sido projectada do carro. Cheguei inconsciente ao hospital, e fui operada, mas infelizmente não tinham conseguido travar as lesões da coluna. Estava paraplégica!! - "Como??" - Gritei. Fechei os olhos, "Foi um sonho mau", pensei. Depois de sairem daquele espaço, abri os olhos, e tentei contrariar tudo o que me diziam, mas foi uma tentativa em vão... Tirei os cobertores, e olhei para o meu corpo assim sem vida... Era este o meu final, um corpo deitado à mercê dos favores dos outros...

De repente, entraste naquele espaço. Reconheci a tua gargalhada, a tua expressão contrastava bem com o meu estado de espírito... Olhei-te em silêncio, o meu pensamento foi de desilusão... "Que raio de mãe foste tu arranjar?! Que desilusão serei para ti..." Olhaste para mim e disseste aquela palavra mágica: "Mamã!" Vieste para o meu colo, e sorrias... Sorrias para mim como sempre o fizeste. Naquele momento senti que não poderia deixar-me abater, que não poderia deixar de lutar, por ti não podia... Naquele momento, deu-se a minha iniciação para uma luta eterna, uma luta por um gesto meu, por muito pequeno que fosse...

Hoje, passados tantos anos, a vida vai correndo ao sabor de pequenas vitórias. Hoje sou independente dentro da dependência. A minha vida não voltou a ser a mesma, mas tentei minimizar os danos daquele momento que nunca me consegui lembrar... Guardo em mim aquele sorriso que me deste, aquela força, aquele amor desmedido, e é esse amor que me move...



A Marta desafiou os leitores a escreverem um post onde utilizassem o titulo dos ultimos 10 posts. Considerei um desafio interessante, e aqui está o resultado, dentro do possível. Neste Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, aproveitei para chamar a atenção para os desafios que os deficientes enfrentam ao longo da vida...

sábado, dezembro 01, 2007

Perdida em mim...


Caminho por entre as pessoas na rua... Passo por elas e sou-lhes indiferente.. Sinto-me que se afastam de mim, mas.. Como poderão saber?? Sei que passa tudo de um delirio da minha cabeça, mas não o controlo...

Sento-me num dos bancos que existem ali na praça. Há uns meses, estaria naquela agitação para ir para o emprego, sei que iria atrasada, e os passos seriam apressados. Hoje posso sentar-me ali, ninguém espera por mim, não tenho horários a cumprir... Olho para as pessoas que passam e pergunto-me se sabem a sorte que têm... A sorte que 33,2 milhões de pessoas neste mundo não têm. E eu sou mais um número, faço parte da estatistica... Tudo começou há uns meses quando fui parar às urgências de um hospital. Passadas umas horas, algumas confusões e descuidos, começou o fim da minha vida... Vieram-me dizer umas palavras que não percebi de imediato., seguidas de 3 letras: HIV!! Mas... Como podia ser?!

Hoje sinto-me perdida em mim... Perdi o emprego, perdi os amigos e as pessoas que me rodeavam... Ficou a familia mais próxima, mas por vezes sinto que até esses me olham de soslaio... Será que o mundo não percebe que a doença não é contagiosa ao contacto?! Que não se pega com abraço ou toque?! Aqueles porque tanto anseio... Sento-me naquele banco de jardim, e olho para os outros.... Sento-me e fico ali sozinha à espera do final já anunciado...