Passei toda a minha vida ao ar livre, com o barulho dos pássaros como banda sonora e o sol como maestro dos meus dias. Eram dias de trabalho que se confundiam com diversão, ou diversão que era também trabalho. Cuidava das hortas, do jardim, dos animais, da casa. Foi assim a vida inteira, cresci e aprendi a desfrutar do que a vida tinha para me dar. Aceitei cada queda, cada dificuldade para me tornar mais forte, para crescer, e alegrei-me por cada bênção, por cada dia vivido.
Sempre confiei em Deus, e no homem que Ele colocou ao meu lado. Era um homem bom, um homem que me amava como sabia amar, que me protegia e que eu amava no mais fundo do meu íntimo. Foi mais que um homem para mim, foi um companheiro de caminhada, de luta, de vida. O tempo foi passando, ano após ano. Os filhos apareceram, foram crescendo, saíram de casa e foi aí que ficámos os dois, um sendo a companhia e o apoio do outro, como sempre fomos a vida inteira. Um dia, a doença chegou e levou-o para longe de mim. Veio a solidão...
Sempre confiei em Deus, e no homem que Ele colocou ao meu lado. Era um homem bom, um homem que me amava como sabia amar, que me protegia e que eu amava no mais fundo do meu íntimo. Foi mais que um homem para mim, foi um companheiro de caminhada, de luta, de vida. O tempo foi passando, ano após ano. Os filhos apareceram, foram crescendo, saíram de casa e foi aí que ficámos os dois, um sendo a companhia e o apoio do outro, como sempre fomos a vida inteira. Um dia, a doença chegou e levou-o para longe de mim. Veio a solidão...
Passaram alguns anos, anos bastante dolorosos e sofridos. Tive que aprender a viver, aprender a superar a dor e ausência. Mas como mulher forte que sempre fui, mulher que do campo que sabe que tem que arregaçar as mangas e trabalhar, lutar pelo seu sustento, não podia parar. Continuei a dedicar-me as hortas, ao jardim, aos animais, e dando agora alguma atenção também às colheitas que antes faziam parte das tarefas dele. Apesar de sentir o peço da idade sabia que tinha as minhas obrigações e assim, dia após dia, ano a pós ano, continuava a lavoura do dia-a-dia.
Numa manha bem chuvosa de Outono, depois da colheita das uvas, os meus três filhos, aqueles que mudei as fraldas, aqueles que mimei e sustentei, chegaram-se a mim, e acharam que tinha chegado a minha hora de descansar. Tentei resistir a ideia, pedi alguns dias para pensar, embora a minha ideia fosse firme. Mas dia após dia, depois de sugestões e promessas que ecoam ainda dentro de mim, baixei as armas e vim. Fizeram-me a mala e trouxeram-me pela mão para este lugar escolhido por eles, que apenas conheci no dia em que aqui cheguei...
Olho em meu redor e sinto um vazio. As promessas de outrora, as promessas de uma vida descansada e serena com bom ambiente e visitas frequentes, as promessas de uma vida em família, mesmo que não a minha, ficaram por cumprir... Agora tenho apenas estas paredes brancas e vazias de histórias, este espaço amplo mas sem cor que me gela o coração, e estas pessoas que me acompanham mas que nunca deixarão de ser estranhos em mim. Já perdi a esperança de dias melhores, daqueles dias que mesmo que o corpo cedesse, ainda sorria só por sentir aquele cheiro da minha terra, das minhas plantas e do ar fresco, e não o ar condicionado que por aqui se respira.
Entrego-me à tristeza que é mais profunda em mim que a dor, à solidão e as recordações de um passado feliz que são agora a minha única companhia. Sinto o coração a bater descompensado no meu peito, como que ameaçando de parar a qualquer instante, mas que não pára! Outra promessa por cumprir…Fecho os olhos nesta cadeira de baloiço e rezo, enquanto aguardo que essa promessa um dia se torne realidade.
CA
foste fantastica.
ResponderEliminaremocionante.
cada palavra no seu sitio...cada palavra tocante...história muito realista nos tempos que correm.
o outrora sereno ... !
a paz.
terminaste de forma bela.
adorei imenso, imenso mesmo.
De louvar o texto, pois serve o exemplo da solidão que o ser humano sofre. Os idosos mandados para o lar, uns por necessidade outros para 'despachar', mas a casa, o cheiro, a natureza, a brisa...n é o mesmo...é uma solidão deveras ofegante!
Rezemos por eles.
p.s. Um aparte(irrelevante claro):
"...Apesar de sentir o peço da idade sabia...". Peso e não peço! :)
Olá primota!
ResponderEliminarJá sabes o que penso deste texto. É simples, claro, real. Gosto muito dele.
Para hoje, teria preferido algo mais impróprio para diabéticos, mas isso deve ser da minha fome de bolo... ;)
Desculpa a ausência, mas tem acontecido um pouco de tudo. Além da falta de tempo, tem reinado a falta de vontade.
Beijoca grande com saudades!
Sabes que este tema interessa-me muito. E escreves maravilhosamente! Fico sempre à espera de mais. Sei que o tempo não é muito, mas esta fã aguarda sempre mais textos teus! ;)
ResponderEliminarBeijocas
vai ver o post que escrevi hoje, tenta retirar a mensagem principal que lá deixei... joquinhas
ResponderEliminarsem querer não ficou ai o meu nome... sorry
ResponderEliminarFantástico! É caso para dizer: Vale a pena pensar nisto...
ResponderEliminarbeijos em Cristo e Maria
Solidão... há quem lhe chame "o mal do século".
ResponderEliminarA solidão não é querer estar só, ainda mais quando se sabe que há alguém disponível para nós. Isso é uma necessidade que todos temos de vez em quando.
Solidão é não querer estar só, mas saber que não se tem ninguém para nos dar a mão.
Solidão é sentir-se num buraco sem ninguém que nos tire dele.
É quando te relegam para segundo ou terceiro plano. Quando ninguém quer estar contigo pelo que és, mas apenas pelo que tens...
É quando só se aproveitam do que podes dar sem te darem nada em troca, nem um sorriso, um olhar de agradecimento.
Quando não tiveres que dar já não prestas.
E saem gritos, choros, lamentos que ninguém ouve.
E o que resta são recordações.
Querida, o teu texto, muito bem conseguido, é um grito de ALERTA para este mal do presente século.
Não podemos ficar indiferentes porque
A solidão MATA!
A solidão só se vence com AMOR!
Quem mais capacidade tiver para amar, tem que AMAR MAIS, fazer a diferença.
Às vezes basta um sorriso de passagem no meio da multidão, um olá, um bom dia... e assim se quebra um ciclo vicioso de solidão!
Gostei muito do teu conto.
Um grande beijinho e um sorriso graaaaande!
Olá AMIGA!
ResponderEliminarLindo este texto!!
Em cada palavra, cada linha, a verdade de um dos males dos nossos tempos... Só com muito amor podemos ir fazendo a diferença; não conseguimos nem iremos conseguir eliminar estas "promessas", mas tudo o que fizermos será sempre mais do que o não fazer nada.
Beijinho grande, amiga
CA
Maninha querida,
ResponderEliminarGosto muito deste teu texto. Como sempre, procuras salientar pontos importantes que tantas vezes são esquecidos! Parabéns mais uma vez por isso.
Este é um tema sobre o qual muitas vezes reflicto. Costumo dizer que a realidade às vezes é tão cruel que até custa pensar!
A solidão pode ser evitada, se todos ajudarmos e se, principalmente, deixarmos os outros serem felizes!
Muitos beijinhos para ti e um abraço
p.s- tens que divulgar mais contos :P
É difícil escrever triste e ser bonito... só quem é especial e tem a doçura da alma também nas palavras o consegue.
ResponderEliminarPrometo... que estarei aqui... mesmo que pareça ausente. A vontade e o pensamento leva-nos onde queremos estar.
Bjinhos
Lindíssimo texto Cátia. Infelizmente triste porque o tema é assunto real. Ainda bem que nos alertas.
ResponderEliminarQue saibamos então aproveitar o teu talento para agir um pouco mais.
Bêjos.
Olá,td bem?
ResponderEliminarSeu texto me emocionou...
Um abraço!
Bom domingo!