sexta-feira, dezembro 28, 2007

A primeira carta...



Após um dia um pouco cansativo e uma noite mal dormida, decidi descansar um pouco antes de jantar. De repente, comecei a ouvi a voz da minha mãe a aproximar-se pelo corredor. Acordei, meio atordoada do sono leve... Entrou no quarto e esticou-me um envelope, que trazia. Estava de tal forma que não percebi logo do que se tratava. Mas assim que vi o logotipo, aquele que tão bem conheço, o coração deu um salto, sentei-me na cama a sorrir... "Será que é?! Só pode ser...", pensava. Parecia uma criança em frente de um presente... e que presente!

Abri o envelope, desviei as 2 outras folhas dactilografas, e procurei aquela que me pareceu que poderia conter o que eu queria ler... Vi logo o nome familiar e sorri... Sorri muito. Olho para a folha, admiro-a antes de a ler, quero absorver ao máximo cada sensação, cada traço... Vejo o desenho que vem no final, e começo a ler as breves linhas manuscritas... O coração salta de alegria, e no fim já nem me lembrava do sono nem tão pouco do cansaço... Olhei novamente para aquela folha, aquele pequeno pedaço de papel, e para além do sorriso aberto e do coração apertado, não consegui dizer mais nada sem ser: "Vale a pena...!!"

Ontem recebi a primeira carta escrita pela minha afilhada, a pequena Aninha. Uma carta, com 9 ou 10 linhas, escritas num português correcto em que dizia pouco mas tanto ao mesmo tempo... A sensação de receber a carta é algo que não conseguirei transmitir... Existe felicidade, momentos, situações que só se consegue ter noção quando se vive, mas não podia deixar de o partilhar convosco, que acompanharam o apadrinhamento desde o início... Existe uma frase que costumo dizer: "Posso não mudar o mundo, mas posso mudar o mundo de alguém", parece que a Aninha veio sublinhar essa minha ideia.

A associação renascerá em 2008 como uma organização 100% portuguesa, com um novo nome, nova cara, um novo percurso, mas com a mesma vontade. Chamar-se-á Helpo e terá novo endereço em http://www.helpo.pt/. Conto com a vossa ajuda na divulgação, acredito que juntos poderemos construir um mundo um pouco melhor...

domingo, dezembro 23, 2007

Carta ao Pai Natal...



Olá Pai Natal,

Desculpa o atrevimento mas tenho alguns pedidos, espero que não fiquem nalguma prateleira esquecidos. Como nunca te pedi nada, peço tudo duma vez e fica a conversa despachada, mas talvez aches os pedidos meio extravagantes…

Queria que pusesses juízo na cabeça destes governantes, tira-lhes as armas e a vontade da guerra é que senão acabamos a pedir-te uma nova Terra. Ao sem-abrigo indigente, dá-lhe uma vida decente e arranja-lhe trabalho em vez de mais uma sopa quente; e ao pobre coitado, e ao desempregado arranja-lhe um emprego em que ele não se sinta explorado. Ao soldado, manda-o de volta para junto da mulher, acredita que é isso que ele quer. Ao idoso sozinho em casa, arranja-lhe boa companhia…

Vai ver África de perto, não vejas pelos jornais, dá de comer às crianças ergue escolas e hospitais; cura as doenças e distribui vacinas, dá carrinhos aos meninos e bonecas às meninas, e dá-lhes paz e alegria.

Já sei que só ofereces aos meninos bem comportados, mas alguns portam-se mal e dás condomínios fechados, jactos privados, carros topo de gama importados, grandes ordenados, apagas pecados a culpados…

Desculpa o pouco entusiasmo, não me leves a mal, não percebo como é que isto se tornou um feriado comercial! Parece que é desculpa para um ano de costas voltadas, e a única coisa que interessa é se as prendas estão compradas… Para mim Natal é a qualquer hora, basta querer, gosto de dar e não preciso de pretextos para oferecer!

E já agora para acabar, sem querer abusar, dá-nos Paz e Amor e nem é preciso embrulhar, muita Felicidade, Saúde acima de tudo…

Desculpa o incómodo e continua com as tuas prendas…
Feliz Natal para ti…


(Adaptado da música "Carta ao Pai Natal" de Boss AC)

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Metade de mim...


"Que a força do medo que eu tenho, não me impeça de ver o que anseio... Que a morte de tudo o que acredito não me tape os ouvidos e a boca, porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio...

Que a musica que eu ouço ao longe, seja linda, ainda que triste... Que a mulher que eu amo seja para sempre amada mesmo que distante, porque metade de mim é partida mas a outra metade é saudade…

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece, e nem repetidas com fervor, apenas respeitadas, como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos, porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo…

Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço, e que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada, porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão…

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo, se torne ao menos suportável… Que o espelho reflicta em meu rosto, um doce sorriso, que me lembro ter dado na infância, porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei…

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito, e que o teu silêncio me fale cada vez mais, porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço…

Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba, e que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer, porque metade de mim é plateia, e a outra metade é canção…

E que a minha loucura seja perdoada, porque metade de mim é amor, e a outra metade... também... "

(Ferreira Gullar, adaptado)

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Nesse lugar que é nosso...

Existe um lugar,
onde iremos juntos
e juntos havemos de o encontrar.
Lá existe um sentir,
Um abraçar, um sorrir,
que sabemos diferente...
Nesse lugar quero-te comigo,
Ficamos e sentimos...
Pensamos, e sentimos...
Lembramo-nos, e sentimos!
Sentimos, e pensamos
Como tudo é Simples
Doce e Perfeito
Nesse lugar que é nosso...

domingo, dezembro 09, 2007

Revolta...



Existem coisas que me revoltam... E a maldade humana é a provocadora de muitas dessas coisas. Estamos a chegar a uma época festiva, todos nós já respiramos a Natal, compramos os nossos presentes, preparamos o que irá ser a noite de Natal, enfeitamos as nossas casas... Mas existem pessoas que não compram presentes, não têm familia nem amigos, não têm casa para decorar... Existem centenas, milhares de sem abrigos neste nosso país...

Há umas semanas falei-vos de uma campanha desenvolvida pela Comunidade Vida e Paz, chamada "Junta as tuas meias às minhas", que pretendia juntar 5 mil meias para os sem abrigo de Lisboa. A campanha ultrapassou limites e ultrapassou os 12 mil pares... Eu própria contribui (modestamente) para a campanha, mas fiquei feliz quando percebi que esta associação estava a ser tão apoiada, que nem precisavam de mais voluntários para o Jantar de Natal.

Hoje quando vou ler as noticias, leio algo que me arrepia: "Assaltado armazém que reunia géneros para Jantar de Natal dos sem abrigo". Fiquei perplexa!! Afinal, há sempre algo que contrasta com a generosidade...

"Entre os bens roubados contam-se comida embalada recolhida pela associação para confeccionar as 4500 refeições que prevê distribuir durante os dias 14, 15 e 16, nos jantares organizados na Cantina 1 da Universidade de Lisboa.

(...) O desaparecimento de inúmera roupa que seria distribuída durante a acção de solidariedade, nomeadamente centenas de pares de meias novas recolhidas durante uma campanha que decorreu a nível nacional.

A associação pretende levar por diante o jantar de Natal, apelando, por isso, à solidariedade de todos, para que nos próximos dias seja possível recolher os bens alimentares para confeccionar as refeições previstas.

Precisamos da ajuda de toda a gente!! "

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Luta por um gesto...


Era o teu 1º aniversário, e estava desejosa para chegar a casa e poder passar o resto de dia contigo... Estava a chover e o trânsito estava ainda mais louco que o habitual... Em poucos segundos deixei de ter noção do que se passava, reinava o caos. Dei por mim deitada no frio do asfalto, e adormeci. Algo se tinha passado, mas não tinha forças para questionar... Vieram as ambulâncias e os bombeiros, deixei-me levar em silêncio, sem perguntas ou choros... Havia de chegar o momento para tudo isso.

Passaram-se horas, dias, não sei quanto ao certo... Quando acordei estava deitada numa cama de hospital... Era altura de me questionar, de questionar sobre o que se tinha passado. Olhei em redor e não havia ninguém. A sensação que tinha em mim não era boa, sabia que algo se passava, sentia-me perdida em mim, só não sabia o porquê... Foi quando chegou o médico e começou a contar-me o que se tinha passado. Tinha sofrido um acidente com um camião e tinha sido projectada do carro. Cheguei inconsciente ao hospital, e fui operada, mas infelizmente não tinham conseguido travar as lesões da coluna. Estava paraplégica!! - "Como??" - Gritei. Fechei os olhos, "Foi um sonho mau", pensei. Depois de sairem daquele espaço, abri os olhos, e tentei contrariar tudo o que me diziam, mas foi uma tentativa em vão... Tirei os cobertores, e olhei para o meu corpo assim sem vida... Era este o meu final, um corpo deitado à mercê dos favores dos outros...

De repente, entraste naquele espaço. Reconheci a tua gargalhada, a tua expressão contrastava bem com o meu estado de espírito... Olhei-te em silêncio, o meu pensamento foi de desilusão... "Que raio de mãe foste tu arranjar?! Que desilusão serei para ti..." Olhaste para mim e disseste aquela palavra mágica: "Mamã!" Vieste para o meu colo, e sorrias... Sorrias para mim como sempre o fizeste. Naquele momento senti que não poderia deixar-me abater, que não poderia deixar de lutar, por ti não podia... Naquele momento, deu-se a minha iniciação para uma luta eterna, uma luta por um gesto meu, por muito pequeno que fosse...

Hoje, passados tantos anos, a vida vai correndo ao sabor de pequenas vitórias. Hoje sou independente dentro da dependência. A minha vida não voltou a ser a mesma, mas tentei minimizar os danos daquele momento que nunca me consegui lembrar... Guardo em mim aquele sorriso que me deste, aquela força, aquele amor desmedido, e é esse amor que me move...



A Marta desafiou os leitores a escreverem um post onde utilizassem o titulo dos ultimos 10 posts. Considerei um desafio interessante, e aqui está o resultado, dentro do possível. Neste Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, aproveitei para chamar a atenção para os desafios que os deficientes enfrentam ao longo da vida...

sábado, dezembro 01, 2007

Perdida em mim...


Caminho por entre as pessoas na rua... Passo por elas e sou-lhes indiferente.. Sinto-me que se afastam de mim, mas.. Como poderão saber?? Sei que passa tudo de um delirio da minha cabeça, mas não o controlo...

Sento-me num dos bancos que existem ali na praça. Há uns meses, estaria naquela agitação para ir para o emprego, sei que iria atrasada, e os passos seriam apressados. Hoje posso sentar-me ali, ninguém espera por mim, não tenho horários a cumprir... Olho para as pessoas que passam e pergunto-me se sabem a sorte que têm... A sorte que 33,2 milhões de pessoas neste mundo não têm. E eu sou mais um número, faço parte da estatistica... Tudo começou há uns meses quando fui parar às urgências de um hospital. Passadas umas horas, algumas confusões e descuidos, começou o fim da minha vida... Vieram-me dizer umas palavras que não percebi de imediato., seguidas de 3 letras: HIV!! Mas... Como podia ser?!

Hoje sinto-me perdida em mim... Perdi o emprego, perdi os amigos e as pessoas que me rodeavam... Ficou a familia mais próxima, mas por vezes sinto que até esses me olham de soslaio... Será que o mundo não percebe que a doença não é contagiosa ao contacto?! Que não se pega com abraço ou toque?! Aqueles porque tanto anseio... Sento-me naquele banco de jardim, e olho para os outros.... Sento-me e fico ali sozinha à espera do final já anunciado...

terça-feira, novembro 27, 2007

Iniciação...


Não dormi durante toda essa noite. Estava quase a chegar o momento, e o estomago estava às voltas, não me deixava descansar... A ideia de me apresentar numa sala cheia de homens com roupas deslumbrantes fazia nascer em mim um nervosismo que me fazia vibrar dos joelhos até ao peito. Eu poderia não ter mais de 16 anos mas parecia-me que já tinha vivido duas vidas. A minha nova vida estava ainda a começar embora a minha velha já tivesse acabado há muito tempo. Desde o dia que recebi as tristes noticias sobre a minha familia, que soube que tinha que encontrar um caminho... Na vespera da minha iniciação ainda não sei como tudo me parecerá depois, mas agora tenho uma imagem na minha cabeça, uma imagem do que quero vir a ser amanha...

Acordaram-me bem cedo, tinha que passar pelo ritual de preparação, afinal hoje era o dia!! Começámos pelo cabeleireiro, depois de cortar, pentear e despentear dez vezes, estava pronta... Seguimos para aquela loja onde nunca tinha parado, nem sequer para ver a montra... O almoço foi dedicado à aprendizagem, tinha que saber estar... Aprendi postura, aprendi alguns pormenores que tinha que ter em atenção, e até algumas conversas a ter... Depois da longa lição tinha que me preparar. Um longo banho perfumado, mas de água morna para não estragar o penteado, vestir e depois maquilhar... Tudo estava planeado desde o mais infimo pormenor, para todas as situações que surgissem. Quando terminaram o trabalho em mim, olhei-me ao espelho e veio a surpresa. Efectivamente sabia que a pessoa que estava ali era eu, mas havia ali uma mulher que me devolvia o olhar e essa, eu ainda não reconhecia. As lágrimas surgiram nos olhos, mas tive que olhar para cima para que não rolassem pela face...

Deixaram-me sozinha para que me preparasse para o que ia acontecer. Sabia que não me restava muito tempo, apenas alguns minutos... Respirei fundo, tentei acalmar o coração e repetir mentalmente alguns conselhos que me tinham dado naquela tarde. Ouvi um carro a parar em frente à porta da casa, cheguei-me à janela, com o cuidado de não ser vista, para lhe ver o figurino. Bem vestido e bem parecido até... Sabia que tinha que o deixar esperar por mim... Esperei 5 minutos e desci as escadas com passos firmes. Ele estava de costas, virou-se ao sentir a minha entrada, e sorriu... Disse-me o seu nome, ao mesmo tempo que estendeu o braço para sairmos. Teria os 15 minutos da viagem para o conhecer melhor... Sorri para todos, dei-lhe o braço e dirigimo-nos para a porta... O coração tremia, sabia que quando voltasse a entrar por aquela porta já não seria a mesma que agora estava a sair...

quinta-feira, novembro 22, 2007

Em silêncio...


Chego a casa do trabalho... O dia foi complicadíssimo, reuniões e mais reuniões, fechar alguns negócios e iniciar outros... Estou cansada e saturada, a responsabilidade e o stress são muitos. Apetece-me um banho, daqueles em que mergulho em mim e fico ali, minutos ou horas no calor dos pensamentos. Olho para o relógio, os miudos já devem estar em casa, por isso tenho que me apressar. Hoje não apetecia cozinhar, passei no restaurante da esquina e trouxe de lá o jantar...

Entro no silêncio do lar. Os miudos estão a estudar no quarto. Vou até lá, dou-lhe um beijo e pergunto pelas noticias do dia... Deixo-os a terminar e venho preparar o resto do jantar. Ligo o rádio para me fazer companhia e relaxar um pouco. De repente ouço um carro.. Chegou!! - pensei. Apresso-me a desligar a música. Espero que a reunião do Conselho lhe tenha corrido bem. Ouço a porta a abrir e a bater com força logo de seguida. O eco sobe as escadas até lá acima, e depois é um silêncio perturbador que reina por toda a casa. Já sei a resposta e temo o pior...

Acordo passado algumas horas. As luzes à minha volta são intensas, vejo várias pessoas... Vejo que falam comigo mas não consigo ouvi-las, o silêncio de outrora reina ainda na minha cabeça. Passado alguns minutos apercebo-me de onde estou, já passei por aqui outras vezes... Parece que desta vez ele exagerou. Penso nos miudos, e no que será que eles viram e no que sentirão neste momento... Penso (novamente) que esta é a ultima vez que isto acontece, que amanha sairei de casa e não o quero ver mais... O coração estremece, porque embora seja essa a minha convicção neste momento, sei que amanha o amor misturado com o medo virão ao de cima, e continuarei sempre por ficar...

sexta-feira, novembro 16, 2007

Guardo em mim...

Era um dia de sol. O Sol já passava do seu pico quando cheguei ao jardim. Chego com a certeza que venho antes de ti. Olho para aquele espaço, parece-me perfeito. Percorro alguns metros numa tentativa de reconhecimento... Toca o telemóvel... Sei que chegaste, mas não atendo. Percorro mais alguns metros e vejo-te ao fundo. Olho-te sem me veres... Sabes que devo estar por perto, estás na expectativa de me ver, mas não sabes que te olho à distância. Sorrio... O meu coração bate mais depresa com o aproximar-se do instante em que estarei contigo.

As pernas mexem-se a custo, mas começo a subir aquele lugar. Viras a cara na minha direcção e vês-me a aproximar. Sorris para mim... Sei que o teu coração bate tanto quanto o meu, e aqueles segundos parecem-me intermináveis. A distância entre nós diminui a cada passo que damos e o coração parece cada vez mais que salta do peito. Quando a distância já não é nenhuma, veio o abraço, aquele que tantas vezes imaginámos... Naquele momento os nossos corações transformam-se num só. É aquele gesto, aquele cheiro, aquele carinho que guardo em mim... É aquela felicidade que transporto comigo a cada dia, com a certeza que se permanecerá...

terça-feira, novembro 13, 2007

Foi um sonho...

Hoje sonhei contigo. Estavámos num lugar lindo, onde o sol brilhava para além dos nossos olhos, e onde a alegria e o sorriso eram permanentes. Não havia tempo nem distância. Não havia responsabilidade, correria nem tão pouco preocupação. No fim do dia descansávamos lado a lado, sem trocar uma palavra. Sabiamos que o carinho era sincero e por isso não eram precisas palavras, apenas estar junto.

Durante momentos, disseste que estarias sempre comigo, e que poderia contar contigo para tudo. Terminavas sempre a dizer que o nosso carinho era para sempre... Sorria porque sabia que era verdade, não duvidei nem por um instante da tua palavra. A certeza dava-me conforto e segurança...

Até que acordei... Estava em casa, no meu quarto. Aquele onde vivi todos estes anos, e estava sozinha... Não estava apenas sozinha, provocado pela distância ou ausência, era algo mais profundo. Sentia um vazio em mim... Sabia que já tinham terminados aqueles instantes, e que tudo voltaria ao que antes acontecia. O coração ficou apertado e as lágrimas cairam repetidas noites. Sei que não estou só, sei que tenho muitos outros que me amam ao meu redor, mas as pessoas não se substituem e tu fazes-me falta... Vivo com a tua ausência e com a dor como companhia...

sexta-feira, novembro 09, 2007

O meu final...


Passei toda a minha vida ao ar livre, com o barulho dos pássaros como banda sonora e o sol como maestro dos meus dias. O tempo foi passando, ano após ano... Os filhos foram crescendo, sairam de casa e veio a solidão... O meu velho era a minha companhia, foi assim a vida inteira até um dia a morte o ter levado...

Passaram alguns anos e aqueles que mudei as fraldas, aqueles que mimei e sustentei, acharam que tinha chegado a hora. Fizeram-me a mala e trouxeram-me pela mão... É verdade que não queria, mas dia após dia depois de sugestões e promessas que ecoam ainda dentro de mim, lá baixei as armas e vim... As promessas de uma vida descansada e serena, com bom ambiente e visitas frequentes ficaram por cumprir...

Olho em meu redor e sinto um vazio... As paredes brancas vazias de histórias, o espaço gelido, e as pessoas que vejo são estranhos... A tristeza é mais profunda que a dor, a solidão e os fantasmas do passado são a minha companhia... O coração bate descompensado, ameaça parar mas não pára... Outra promessa por cumprir! Fecho os olhos e aguardo que esta um dia se torne realidade...

segunda-feira, novembro 05, 2007

Olhei-te em silêncio...


O Sol apresentava-se em sangue sobre o azul do rio... Olho-te ao sabor dos balanços do barco... Sabia que em breve chegaria a hora de dizer Adeus, aquela palavra que custa tanto dizer como pensar... Fiquei a olhar-te um pouco em silêncio, enquanto estavas distraída com a paisagem... Olho-te com um olhar distante, penso se saberás o quão és importante para mim... Chego-me a ti, coloco-te a mão sobre o ombro, como sinal de carinho... Queria dizer-te o que penso, mas não é o sitio nem a hora...

Chegamos ao cais e vamos para casa... Começa-se a sentir o cheiro das chamas sobre os pequenos troncos de madeira que estalam na lareira... O ambiente é acolhedor... Estás ali bem perto mas eu olho-te com a distância de kms... O silêncio reina no espaço, saem apenas algumas conversas ocasionais... Adormeço com a partida marcada...

Passa a noite, e o sol já atingiu o seu ponto alto quando chega a hora de ir... Eu estava um pouco como o sol de outrora, em sangue, não gosto destes momentos... O meu jeito não permite que mostre muito sentimento, mas choro por dentro, as lágrimas caem do coração... O acaso do momento, fez com que o relogio andasse rápido demais... Parto com passo apertado, não olho para trás, não te dou o abraço que desejava, não te digo o quanto te adoro... Fica a esperança que guardes as palavras, os gestos, o olhar de outros dias na lembrança...

quarta-feira, outubro 31, 2007

Sem vida...


Está a chegar a noite, e o frio está a tornar-se dificil de aguentar. Cada noite é uma luta pela sobrevivência, uma verdadeira luta que sei que só a custo ultrapassarei. Deambulo pela rua, e vou até ao restaurante da rua habitual: o caixote do lixo à porta do supermercado. Sei que a concorrência é grande, mas espero conseguir um pouco de pão, e umas frutas podres para o jantar. Com um pouco de sorte, ainda consigo arranjar mais qualquer coisa para amanhã. Chego e vejo os abutres de volta do caixote, hoje não me safo... Depois de um fraco almoço, ficarei sem jantar... Pode ser que o dia amanha corra melhor...

Sigo pela rua... Olho para o lado, e vejo algo que os meus olhos não querem acreditar: uma caixa de cartão de uma televisão enorme!! Que sorte... Pelo que vejo é resistente, e poderei utilizar como abrigo nos próximos dias e se não chover muito, poderá durar até algumas semanas, afinal presentes destes não encontro todos os dias por aí... Pego na caixa e levo-a até ao beco onde fica o meu lugar habitual... Esqueço-me da fome, o coração bate de contente...

Ao chegar lá, ajeito cuidadosamente a caixa, rasgo ali, junto aqui com a velha fita cola e fica pronta. Deito-me... A barriga volta a protestar e o corpo treme um pouco de frio... Olho para o céu, o único e verdadeiro tecto que tenho... Fecho os olhos, tento esquecer a fome, o frio e até os mil pensamentos que não me saem da cabeça... Adormeço com a certeza que, se voltar a abrir os olhos amanha, voltarei a ter novos desafios, uma nova aventura...

segunda-feira, outubro 29, 2007

Louco...


"Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim: Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas - as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em minhas sete vidas - e corri sem máscaras pelas ruas cheias de gente, gritando: "Ladrões, ladrões, malditos ladrões!"

Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim. E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: "É um louco!".

Olhei para cima, para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua. Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei minhas máscaras. E, como num transe, gritei: "Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!"

Assim me tornei louco. E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós. "

Gibran

sábado, outubro 27, 2007

1º Aniversário



"Cada pessoa que passa em nossa vida, passa sozinha, é porque cada pessoa é única e nenhuma substiui a outra! Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha e não nos deixa só porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós. Essa é a mais bela responsabilidade da vida e a prova de que as pessoas não se encontram por acaso." (Charlie Chaplin)

Faz hoje um ano que este nosso cantinho nasceu. Cada pessoa que por aqui passou deixou um pouco de si e espero que tenha levado um pouco de mim também. Foram 109 pessoas... 109 pessoas que encheram o meu coração de amizade.

Albertino; Alealb; Alexandre Monteiro; Amordemadrugada; Ana; Ana Sofia; Anawîn; Anita; Armanda; Arturibeiro; Bia; Bion; Bono_poetry; Bublicious; Cadinho roço; Caminhante; Carla Su; Carracinha Linda; Cat; Catarino; Catequista; CD; Conceição Bernardino; Cristina; David Santos; Delfim Peixoto; De-propósito; Efvilha; Elisheba; Elsa Nyny; Emília Almeida; Entre linhas; Erute; Fa –; Farinho; Felipe Fanuel; Ferípula; Figlo; Flor; Fontez ; Gk; Haras; Inês; Inspiração; Jefferson p.; João Araújo; João Filipe Ferreira; João Oliveira; Joaquim; José Gonçalves; José Manuel Dias; Ju; Kalinka; keimadela; Kelly; Lâmpada de mervelha; Lia; Lindona; Lobo; Lu; lu@r; Luita; Luna; Lusófona; Madga / Susana; Márcia; Margadivo; Mari crrrrruuuu; Maria; Marlene Maravilha; Marta; Mina; Miosótis; Miudaaa; Morgaine; Moura; Né; O alquimista; Ofélia Ribeiro; Ouriço; Patrícia; Paulo Costa; Paulo Sempre; PCL; Pepe luigi; Perola&granito; Poetaeusou; Porque te amo; Professora; Profundamente; R. Filgueira; Ritinha; S.; Sailing; Sandra Dantas; Sandro; Serenidade; Sílvia; Sofia; Sonhadora; Sónia Farmacêutica; Tarina; Teresa Calcao; Tiago Almeida; Tozé Franco; Varão Van Blogh; Wolfhunter; Zetrolha.

Este dia é vosso... Obrigada pela amizade, pelo carinho, e por tudo o que partilhámos por aqui.

Beijo terno,
Cátia

segunda-feira, outubro 22, 2007

Ouço-te...

Olho para o céu, fecho os olhos e sinto o sol bater-me na face... Sabe-me bem sentir este calor. Abro os olhos lentamente e olho em redor... Vejo aquele terreno que para mim é quase infinito, tão grande que raramente chego ao final... Vejo o dourado a sair do chão... Vejo a figueira logo ali ao lado, aquela que costumo subir para te roubar os figos. Sei que não gostas, não por causa dos figos, mas porque tens medo que me magoe. Durante uns tempos colocaste-me ali um baloiço, mas que por um motivo que já não me lembro, retiraste-o de novo. Mas não me importo porque no seu lugar construí uma cabana... Sim, aquela cabana onde me refugiava do sol, onde vivia mil aventuras que te contava depois. Mas hoje não me dirijo para lá...

Ouço as vacas do terreno ao lado, ouço o teu tractor lá ao fundo. Bem me parecia que estarias por ali, penso enquanto desenho um sorriso. Corro terreno abaixo com cuidado para não cair... Não te vejo, afinal estás mais abaixo que imaginei... Passo o canavial, do lado direito o tanque onde brinco enquanto ela lava a roupa... Depois os morangos e o limoeiro... Do lado esquerdo o poço, aquele de onde atiro e retiro canas... ups, não te devia dizer, pois tens medo que caia lá dentro. Não te preocupes, sabes que sou cuidadosa...

Mas hoje não me distraio com nada, nem mesmo com os morangos que gosto de ver crescer... Sigo o som, percorro as laranjeiras mas não te vejo… Deves estar no fundo do terreno a cuidar das pereiras... Começo a ficar cansada... Sabes que o sol aperta e as minhas pernas pequenas estão a ficar cansadas de andar sobre os torrões... Mas vim com o propósito de passar a tarde contigo e por isso sigo o caminho na tua direcção...

O som é nítido, sei estás aí... Desço até ao fim, chego ao fundo do terreno mas não te vejo. Estarás por trás de alguma árvore? São tão grandes e carregadas de fruto que me tapam a visão de ti. Chamo-te... mas não me respondes. É o som do tractor que não permite que me ouças... Grito mais uma e outra vez... Percorro novamente o terreno com o olhar… Será que vens pelo caminho de baixo?!! Debruço-me sobre o muro... Olho para um lado e para outro. Não te vejo mas chamo por ti... Sabes que nunca me engano, conheço o som do teu tractor desde sempre, e reconheço-o a kms de distância... Onde estás??!!

Olho para o caminho que percorri... Não, não quero subir tudo sozinha, não quero voltar para casa a pé... Estou cansada, quero subir contigo... Onde estás??!! Sento-me sobre os torrões e enrolo-me sobre mim... Neste momento aquele desconforto já não me importa... Com a cara entre os joelhos, as lágrimas caem... Não sei se caem de cansaço, se por não me responderes...

Sei que não estás aqui, mas ainda és tu que me fazes caminhar...

És e serás o meu ídolo, o meu modelo de Homem... Obrigada pelo carinho, atenção e pelo tanto que me ensinaste… Adoro-te avô!

Para J.L.

sexta-feira, outubro 19, 2007

Ir mais além...

(Foto de Teresa Calcao)

“Fernão Capelo Gaivota treinava. A trinta metros de altura, baixou as suas patas com membranas, ergueu o bico e tentou a todo o custo, com a força das asas aguentar uma contorção difícil e dolorosa. Isso queria dizer que deveria voar devagar, e então abrandou até sentir o vento passar pelo seu corpo como um sussurro, até sentir o oceano por debaixo de si. Franziu os olhos, em intensa concentração, susteve a respiração, e forçou um… só mais… um... centímetros… de… curva. Então as penas ruflaram, ele desequilibrou-se e caiu.

Como sabem, as gaivotas nunca hesitam, nunca se desequilibram. Desequilibrar-se no ar é para elas uma desgraça, e uma desonra. Mas Fernão Capelo Gaivota não era um pássaro vulgar. Sem se atrapalhar, abriu de novo as asas naquela difícil curva, abrandou e desequilibrou-se de novo. A maior parte das gaivotas não se querem incomodar a aprender mais que os rudimentos de voo, como ir da costa à comida e voltar. Para a maior parte das gaivotas, o que importa não é saber voar, mas comer. Para esta gaivota, no entanto, o importante não era comer, mas voar. Mais que tudo, Fernão Capelo Gaivota, adorava voar. (...)

Passados três meses, Fernão já tinha seis estudantes, todos banidos, mas, no entanto, curiosos em relação àquela nova ideia de voar pelo prazer de voar. Contudo, era-lhes mais fácil executar difíceis posições do que compreender a razão que havia por detrás.

- Cada um de nós é na realidade uma ideia da Grande Gaivota, uma ideia ilimitada da liberdade – costumava dizer-lhes Fernão, à noite, na praia – E o voo de precisão é um passo em direcção à nossa verdadeira natureza. Daí a razão de todo este treino da alta velocidade, baixa velocidade e acrobacias aéreas…

E os seus alunos adormeciam exaustos. Gostavam dos treinos porque eram rápidos e excitantes e porque lhes saciavam a fome de aprender que aumentava em cada lição. Mas nenhum deles conseguia acreditar que o voo de ideias pudesse ser tão real como o voo de vento e penas.

- Todo o vosso corpo, desde a ponta de uma asa, até a ponta de outra asa – costumava dizer Fernão - não é mais do que o vosso próprio pensamento, numa forma que podem ver. Quebrem as correntes do pensamento e conseguirão quebrar as correntes do corpo… Mas, por muito que falasse, soava como uma agradável ficção e eles precisavam dormir."

(In Fernão Capelo Gaivota – Richard Bach )

segunda-feira, outubro 15, 2007

Quem toca piano?


Certo dia caminhava pela praia... Aquele dia parecia-me diferente de todos os outros, apesar de, à primeira vista, ser igual a todos os dias anteriores. Caminhava tranquilamente à borda de água quando o meu olhar desviou-se da areia. Os meus olhos não queriam acreditar no que viam. Aproximei-me devagar mas quanto mais me aproximava, maior era o meu espanto. Sim, era... era um piano!!

Precipitei-me para ele. Ainda não queria acreditar no que os meus olhos me mostravam. A magia daquele sitio, daquele momento, puxou-me para as teclas. Toco uma e outra vez. Aquele som interrompe toda aquela tranquilidade que reinava à minha volta. O som pareceu-me desafinado e não encaixava no ambiente. Mas a magia do momento não permitia que me afastasse. Limpei as teclas, apertei as cordas... e construi um pequeno banco na areia. Sento-me e olho para aquele piano...

Sei que não está afinado, sei que os sons não sairão alinhados com a orquestra à minha volta, mas mesmo assim anseio pelo momento em que voltarei a interromper a serenidade. Quero ser maestro daquele piano, aquele que já considero meu...

Respiro fundo, fecho o olhos, coloco as mãos sobre as teclas e começo a tocar... tropeço no bater das ondas, no som das gaivotas e dos barcos lá ao longe, mas não paro... Aquele é o meu momento... o meu momento com o meu piano, e aquela a melodia que nos sai do coração!

quarta-feira, outubro 10, 2007

Entre o hoje e o amanhã...

Existe uma grande diferença entre o hoje e o amanhã. Hoje sei onde estou, como estou e o que sonho. Amanhã não sei se estarei aqui, não sei como estarei, não sei o que sentirei e por quem. Hoje sei o que penso, amanhã espero pensar igual... ou diferente, se significar crescimento. Hoje sonho, sonho por momentos melhores, sonho por um futuro... Amanhã não sei se continuarei assim, não sei se me desiludirei e deixarei de sonhar, ou se os sonhos estarão já realizados...

Hoje caminho pela estrada da vida. Muitos que hoje me acompanham, amanhã já não me acompanharão... Sei que, o que me hoje tomo por certo e concreto, amanhã dissipar-se-á... Mas hoje quero iludir-me e pensar que as amizades são para sempre, acreditar que as coisas não mudam e que terei sempre aquele conforto. Amanhã olharei para trás e verei que não é bem assim, entre aquela curva, aquele cruzamento, algumas pessoas foram ficando para trás ou tomando outras opções...

Sei que existem vários tipos de amizades, aquelas que estão comigo por "uma razão", por um motivo que se calhar nem entendo qual... Talvez para me ajudar numa necessidade ou para eu os ajudar, não sei... Mas que após terminado, afastar-se-ão naturalmente... Sei que existem amigos que estarão comigo por "um tempo", e que serão os meus melhores amigos durante este periodo. Contarei com eles e eles comigo... Poderei pensar que serão para sempre, mas com o caminhar haverão opções, motivos (ou talvez não existam) que nos afastarão... Ficará o carinho, a lembrança, mas a necessidade da presença vai ficando cada vez mais ténue... até que amanhã não sentiremos já a falta... lembraremos apenas com carinho quando alguma situação faça saltar à memoria aquela pessoa, ou um momento partilhado...

Mas hoje penso que existem também amizades "para sempre". Que mesmo por entre as curvas e cruzamentos, que nas subidas e nas descidas, alguns conseguirão seguir o meu passo e continuarão a caminhar comigo... Hoje quero crer que alguns dos que me acompanham, acompanharão no futuro também... Hoje penso assim... Mas como disse, existe uma grande diferença entre o hoje e o amanhã... Hoje penso assim... amanhã gostaria de pensar igual.

sábado, outubro 06, 2007

Uma carta...

(foto de Teresa Calcao)

"Sinto a tua falta, meu amor, como sempre, mas hoje é particularmente difícil porque o oceano tem estado a cantar para mim, e a canção é a da nossa vida juntos. Quase consigo sentir-te ao meu lado enquanto escrevo esta carta, e consigo cheirar o aroma de flores silvestres que me faz sempre lembrar de ti. Mas neste momento, essas coisas não me dão qualquer prazer (...)
À noite quando estou sozinho, chamo por ti, e sempre que a minha dor parece ser maior, encontras constantemente maneira de voltar para mim. Ontem à noite, nos meus sonhos, vi-te no pontão (...). O vento soprava através do teu cabelo e os teus olhos retinham a luz pálida do Sol que se desvanecia. Fico espantado quando te vejo encostada ao parapeito. Tu és bela, penso, enquanto te vejo, uma visão que nunca consigo encontrar em mais ninguém. Começo a andar lentamente na tua direcção e quando, finalmente, te voltas para mim, reparo que os outros têm estado a observar-te também. "Conhece-la?" perguntavam-me em sussurros invejosos, e enquanto sorris para mim, respondo simplesmente com a verdade. "Melhor do que o meu próprio coração."
Paro quando chego perto de ti e envolvo-te nos meus braços. Anseio por esse momento mais do que qualquer outro. É a razão da minha vida, e quando tu retribuis o meu abraço, eu entrego-me a esse momento em paz mais uma vez.
Levanto a mão e toco suavemente na tua face e tu inclinas a cabeça e fechas os olhos. (...) Interrogo-me durante um momento se vais afastar-te, mas claro que não o fazes. Nunca o fizeste, e é em alturas como esta que eu sei qual é o meu objectivo na vida.
Estou aqui para te amar, para te segurar nos meus braços, para te proteger. Estou aqui para aprender contigo e para receber o teu amor em troca. Estou aqui porque não existe outro sítio onde possa estar.
Mas depois, como sempre, a neblina começa a formar-se enquanto permanecemos juntos um do outro. É um nevoeiro distante que nasce do horizonte, e descubro que começo a ficar com medo à medida que ele se aproxima. Ele insinua-se lentamente, envolvendo o mundo à nossa volta, cercando-nos como que para evitar que fujamos. Como uma nuvem rolante, cobre tudo, fechando, até mais nada restar senão nós os dois.
Sinto a minha garganta a começar a fechar e os meus olhos a encherem-se de lágrimas porque sei que são horas de partires. O olhar que me lanças naquele momento persegue-me. Sinto a tua tristeza e a minha própria solidão, e a dor no meu coração, que permanecera silenciosa só por um pequeno intervalo de tempo, torna-se mais forte quando tu me soltas. E quando estendes os braços e dás uns passos para trás, desaparecendo no nevoeiro porque ele é o teu lugar e não o meu. Anseio por ir contigo, mas a tua única resposta é abanares a cabeça porque ambos sabemos que é impossível.
E eu assisto com o coração a partir-se enquanto desapareces lentamente. Dou comigo a esforçar-me por lembrar tudo acerca daquele momento, tudo acerca de ti. Mas depressa, sempre demasiado depressa, a tua imagem desaparece e o nevoeiro recua para o seu lugar longínquo e eu fico sozinho no pontão e não me importo com o que os outros pensam quando baixo a cabeça e choro e choro e choro."


(As Palavras que nunca te direi)

sexta-feira, setembro 28, 2007

Procura-se um amigo...

Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor.. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.

Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoa tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.

Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.

Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.

Vinicius de Moraes

segunda-feira, setembro 24, 2007

Aninha...


Cheguei a casa depois de uns dias fora. Estava cansada e com um pouco de sono... Quando entrei veio ao pensamento uma carta.. "será que chegou?" Mas depois de entrar em casa vi que não havia nada de novo... Mas quando cheguei ao quarto os olhos viraram-se logo para a cama, havia algo de diferente. Olhei e sorri... Um envelope, tamanho A4 aguardava-me. Olhei para remetente apenas para confirmar, apesar de ter a certeza... Deixo-o ali durante mais alguns minutos. Após aquelas conversas tipicas de quem chega de viagem: "Como correu?", "Que fizeste?", "Como foi?", etc., voltei ao quarto com a certeza que agora seria o momento. Fechei a porta, sentei-me na cama e comecei a minha viagem. Sabia qual o conteudo... Abri o envelope e vi uma revista e outro envelope. Abri e vi folhas e outro envelope. Começou a minha procura incessante... "Quem será? Como será?". A procura era frenética, mas não encontrava nada para além de folhas e mais folhas... A desilusão já estava a apoderar-se dos meus pensamentos, quando finalmente vi a foto... "A minha afilhada!! É uma menina...." Fiquei ali, a contemplar a foto, e a ler toda a informação... Li tão rapido que nem consegui captar. Voltei a ler... E apaixonei-me imediatamente.

Já por diversas vezes, falei aqui sobre a necessidade de ajudar. Mas torna-se mais facil falar teoricamente do que ajudar realmente. Pois bem, decidi passar a prática. Já escrevi aqui por diversas vezes sobre o Apadrinhamento à distância, levado a cabo pelo CCS Portugal - Centro para a Cooperação e Desenvolvimento (associação sem fins lucrativos para o desenvolvimento). Esta é uma forma de poder apadrinhar uma criança de Moçambique, Zâmbia, Angola ou Nepal, ajudando-os financeiramente, contribuindo para que tenha uma vida melhor. Após alguma reflexão e pesquisa sobre todo o processo, candidatei-me a madrinha de uma criança... E chegou agora a informação!

Foi assim que conheci a Ana, ou Aninha como é carinhosamente chamada pelos familiares. É uma menina linda de 11 anos, timida e serena... Tem 3 irmãos e 1 irmã, e vive com a mãe (porque o pai faleceu com malária) numa casa feita de materiais locais, na Ilha de Moçambique, que se situa a norte, a cerca de 180 Km de Nampula. A Aninha, encontra-se de boa saúde, anda no 3º ano da escola primária, e fala português. E a partir de agora é minha afilhada!! Pagar-lhe-ei o sustento completo: condições de saúde, alimentação e o ensino.

Senti de imediato uma felicidade imensa, e as lágrimas subiram-me aos olhos... A felicidade permanece e sei que ficará. Estou feliz pela minha atitude, mas ainda mais feliz por ter a Aninha na familia.

quarta-feira, setembro 19, 2007

Desabafo...


Durante todos estes anos, muitas foram as vezes que precisei de ouvir um "adoro-te" ou sentir um abraço apertado... Precisei de sentir algum aconchego e precisei de um minuto de atenção. Saber que me ouviam e que prestavam atenção no que dizia... Mas esse adoro-te não chegava, o abraço, o aconchego e a atenção também tardavam... É verdade que também sempre me fechei... Fechei-me para os meus pais, para o meu irmão e julgo que muitas vezes até me fechava para as minhas amigas... Mas num certo momento, as coisas mudaram... aliás, acho que tudo mudou! Entraram pessoas na minha vida sem eu esparar e com quem estabeleci um verdadeiro encontro de corações... Criaram-se laços que perduram, muito para além do tempo e do espaço... Veio o carinho, veio a atenção, o adoro-te...e já veio o abraço e o aconchego também.

Vivi recentemente momentos maravilhosos que quero guardar em mim... Foram momentos felizes e de grande partilha... Partilha de carinho, de momentos, de sentimentos, uma partilha pura e sincera... Momentos em que parecia que o tempo tinha parado e que o resto do mundo não existia. Para mim, existiam apenas aqueles instantes, aquelas pessoas, aqueles lugares... Para mim aquilo era tudo, e o resto era nada. Mas o tempo, aquele que para mim não existia, foi passando e fui puxada repentinamente para a realidade... Fica a saudade do toque, do cheiro, das vivencias... Fca a saudade de tudo...

Poderão chamar-me carente... Pois é, se calhar sou... Costumo dizer que "sou uma piegas mascarada de durona", não choro, e supostamente não ligo a nada... Entro, saio, e ninguém dá por mim... Muitas vezes tenho até a sensação de sombra... Mas na realidade não sou nada assim, as coisas dentro de mim não acontecem dessa forma. Muitas são as vezes que "choro para dentro", que sinto as lágrimas a cairem no coração... Outras vezes sinto o coração tão pequenino que chego a duvidar que ele ainda existe... Magoo as pessoas que me rodeiam, e a ausência de carinho faz-me sangrar...

Hoje choro, as lágrimas caem duas a duas... Porque choro?? Não sei bem... Se calhar porque tenho saudades de tudo o que tive naqueles dias... Ou se calhar porque vejo agora o que nunca tive...

sábado, setembro 15, 2007

De mãos dadas...



Ouço a melodia que toca em mim...
Voo, sem ter asas,
Vejo-te, de olhos fechados,
Sinto-te, estando sozinha,
Quero-te, estando longe.

Momentos que acontecem,
Sorrisos que se desenham,
Carinhos que se tocam,
Mãos que se dão,
Abraços que se entregam
Sentimentos que se sentem...
O tempo que pára.

Cada gesto
Tranforma em si um sorriso,
E a ausência
uma lágrima sofrida
Que não consigo
Esconder de mim...

quarta-feira, setembro 12, 2007

Já está...

Hoje foi um dia importante. Pude finalmente concluir o que havia para concluir. Neste momento sinto-me livre!! Sei que sou livre apenas por alguns dias, mas sabem-me bem... muito bem!!

Ando a precisar de descanso, de aliviar a cabeça. Preciso sair daqui... Nada melhor que descansar e divertir com os amigos, nao é verdade? Pois bem, é o que farei nos proximos dias... Irei... sorrirei, festejarei... irei aproveitar o melhor possivel de pessoas que me são muito especiais.

Até breve!
Beijinhos e um abraço para todos
CA.

quinta-feira, setembro 06, 2007

página 161



A Carracinha Linda, a Marta, a Patrícia, e a Sofia desafiaram-me e cá estou eu a responder... Eu deveria:

Pegar no livro mais próximo; Abrir na página 161; Procurar a 5ª frase completa; Colocar a frase no blog; Não escolher a melhor frase nem o melhor livro (usar o mais próximo).

Nunca pensei que este desafio se tornasse tão complicado... Sim, é verdade, complicado!! Primeiro livro - o mais próximo: não tinha 161 paginas. Segundo livro: tinha uma imagem nessa página!! Terceiro: nao tinha 5 frases nessa págin!! Próximos... hum... livros de José Saramago e por isso impossível de contar frases.. Depois outros com menos 161 páginas... Bem, estava a tornar-se complicado... Fui a estante e escolhi criteriosamente o livro, não a frase mas não queria continuar na busca em vão... Ao fim de tantos livros, lá achei um com mais de 161 páginas e com mais de 5 frases nessa página...

O livro chama-se "Se isto é um homem" de Primo Levi. Este livro retrata os tempos que ele passou nos campos de concentração: primeiro em Fòssoli e posteriormente em Auschwitz.

Ora aqui vai...

"Normalmente não se trata de coisas muito elevadas: o trabalho, os companheiros, o pão, o frio; mas há uma semana para cá há algo de novo: Lorenzo traz-nos todas as noites três ou quatro litros de sopa dos trabalhadores civis italianos"

Aconselho-vos o livro... ainda nunca o li na totalidade, por falta de tempo, mas acho que é bom ler outras realidades...

Desafio respondido... Sintam-se todos desafiados!! E boas leituras...

quinta-feira, agosto 30, 2007

Ando assim...


Esta semana ando assim, a correr desenfreadamente de um lado para o outro, e a ter que ultrapassar várias barreiras. Estas barreiras são problemas que vão aparecendo no trabalho, discussões na equipa de projecto (expulsão de um elemento, a menos de uma semana de entrega), e as que me têm custado mais: o cansaço. Ando a trabalhar entre 12 a 15 horas diárias, sempre com viagens para o Alentejo... Parece que um comboio me passou por cima.

Peço desculpa a todos vós por não vos visitar nos cantinhos que eu adoro, ou dado a atenção que tanto merecem, mas tem sido de todo impossível.

Beijinhos grandes e até a momentos mais serenos...
CA.

sábado, agosto 25, 2007

Distinções...

Hoje é dia de prémios... É com muito prazer e honra que os recebo. É bom sentir que gostam de passar pelo meu cantinho... Um cantinho que é meu, mas muito vosso também. Quero que se sintam bem, confortaveis... Que se sintam bem ao vir aqui...


O João Fragmentos nomeou o Ticho como um Blog 5 Estrelas..



A Fa menor nomeou o Ticho como sendo um blog com poder schmooze, isto é, um blog que promove o relacionamento inter-blogs...



No dia em que criei o Ticho, não fazia ideia do que iria acontecer, das pessoas maravilhosas que iria conhecer e as amizades que iria criar. Hoje agradeço a Deus por me ter dado a ideia de o criar.

Estes prémios não são meus, mas vossos... Infelizmente não posso nomear toda a gente. Os que não nomearei não pensem que tenho menos amizade ou respeito pelos blogs. Apenas não posso nomear todos... Assim nomeio os 5 blogs:

More Than Words - Patrícia
Conto Aqui - Marta
Gostar de Viver - Teresa
Amor Fraternal - Anita
O desabrochar de uma simples flor - Flor

Aceitem estes prémios com todo o meu carinho...

terça-feira, agosto 21, 2007

Grande demais...


Os risos ecoavam ainda pelos corredores largos, afastando-se. Nunca soube muito bem por ordem naquela correria desenfreada, nos atropelos à saída. Confesso mesmo, que em muitos dias, me apetecia simplesmente sair a correr com eles, esquecer tudo, e voltar a ter direito a brincar. Reconquistar os meus minutos de recreio!
Depois de todos terem saído, reparei na Sofia, ficara sentada, carita escondida pela cabeleira. Caminhei para ela, ouvindo apenas o som seco do tacão a bater na madeira velha do soalho e o frenesim distante que chegava da rua, para lá das velhas portas em arco.
“Posso sentar-me contigo?” – Perguntei com um sorriso, tentando adivinhar o motivo da sua tristeza. Limitou-se a acenar com a cabeça.
“Não queres brincar com os teus amiguinhos hoje?”
“Não! Já sou muito crescida!”
O seu tom era realmente o de um adulto triste, aprisionado no seu corpo e voz infantil. Avistei-lhe uma lágrima a despontar nos belos olhos negros. Senti o coração apertar-se face ao sofrimento daquela criança que aprendera com o tempo a amar.
“Sabes uma coisa Sofia, eu sou ainda mais crescida que tu e está a apetecer-me ir lá fora aos baloiços. Queres ir comigo?”
Fitou-me de frente, com os olhos arregalados de espanto.
“As duas? No baloiço?”
Sorri-lhe como resposta.
“Não!” - Disse peremptória e novamente cabisbaixa. – “Eu ontem ouvi que já sou grande demais...”
“Ouviste? Quem te disse?”
“Não foi a mim... Eu é que ouvi... Afinal já não vou ter uma mãe nova... Já sou muito grande...”
Apeteceu-me sair aos berros com quem o tivesse dito, mas em vez disso forcei um sorriso e tentei confortá-la.
“Pois eu não te acho muito crescida, acho que és uma menina linda e que quando tiveres uma mamã nova, ela será muito feliz contigo, terá muita sorte por te ter!”
“Achas?!”
“Tenho a certeza!”

O seu rosto abriu um sorriso rasgado e os bracitos magros atracaram-se no meu pescoço. Não lhe vi o rosto quando ela me fez a pergunta mais doce que algum dia escutei e eu tomei a decisão que me fez mais feliz.
“Isso quer dizer que gostavas de ser minha mãe?”

(escrito por: Marta)

segunda-feira, agosto 20, 2007

Escrevo para ti...

(foto de Tarina: Porto Dinheiro)



Hoje escrevo para ti... Sei que em condições normais, provavelmente não o faria... Mas hoje quero escrever para ti. Quero homenagiar o menino-homem que conheci... Aquele que eu via ao longe e sorria na certeza que seria um grande Homem neste mundo... Aquele que se fazia de rebelde mas que era rapidamente era desmontado por um sorriso e um piscar de olho... Aquele que tanto brincava como a seguir estava a sugerir ajudar alguém... Quero falar da grande pessoa que ninguém que cruzou o teu caminho irá esquecer... Hoje escrevo para ti... hoje quero lembrar-me de ti...

Quero viver como tu viveste
Quero ser feliz como tu foste
Quero sorrir como tu sorrias,
Quero sonhar como tu sonhavas
Quero aproveitar como tu aproveitavas
Quero amar como tu amavas...

... tudo e todos ao teu redor.


"Quando eu morrer voltarei para buscar os instantes
que não vivi junto ao mar"

(Sophia de Mello Breyner)

sábado, agosto 18, 2007

Orgulho...


Já falei aqui de muitos assuntos e temas, mas hoje o assunto é outro... TRABALHO! No outro dia fiquei muito admirada quando um outro blog referia um artigo que fiz. Fiquei admirada, mas muito contente e feliz... Sim, confesso... fiquei orgulhosa de mim! Percebi entao que o ticho merecia um post sobre o que faço... Poderão assim conhecer-me um pouco melhor.

Muitos de vós sabem que eu estou a terminar a minha Tese para a obtenção do grau de Mestre em Eng. do Ambiente e Urbanismo. A tese tem como titulo "Análise de viabilidade de equipamentos de saúde ponderada a questão da localização territorial", e tem por objectivo perceber se os hospitais e os centros de saude (do Alentejo) dão resposta às necessidades da população.

"O Serviço Nacional de Saúde não apresenta uma estratégia de integração efectiva entre o funcionamento das várias redes de cuidados (Primários, Hospitalares e Continuados Integrados) o que dificulta o aumento da eficácia e eficiência do sistema. A reestruturação em curso ao nível do sistema de saúde torna necessário o estudo da distribuição espacial e organização da capacidade dos serviços nos vários níveis. É necessário um esforço cumulativo no desenvolvimento de equipamentos, com uma forte articulação possibilitando o rápido acesso a serviços de saúde eficientes e de qualidade. Esta distribuição e este desenvolvimento deve ter por base um planeamento claro e efectivo que permite optimizar a sua localização assim como minimizar os seus impactos negativos e optimizar as suas mais valias." (CA; 2007)

Cátia Azenha

terça-feira, agosto 14, 2007

Miguel Torga... 100 anos!


AOS POETAS

"Somos nós
As humanas cigarras!
Nós,
Desde os tempos de Esopo conhecidos.
Nós,
Preguiçosos insectos perseguidos.
Somos nós os ridículos comparsas
Da fábula burguesa da formiga.
Nós, a tribo faminta de ciganos
Que se abriga
Ao luar.
Nós, que nunca passamos
A passar!...

Somos nós, e só nós podemos ter
Asas sonoras,
Asas que em certas horas
Palpitam,
Asas que morrem, mas que ressuscitam
Da sepultura!
E que da planura
Da seara
Erguem a um campo de maior altura
A mão que só altura semeara.

Por isso a vós, Poetas, eu levanto
A taça fraternal deste meu canto,
E bebo em vossa honra o doce vinho
Da amizade e da paz!
Vinho que não é meu,
mas sim do mosto que a beleza traz!

E vos digo e conjuro que canteis!
Que sejais menestreis
De uma gesta de amor universal!
Duma epopeia que não tenha reis,
Mas homens de tamanho natural!
Homens de toda a terra sem fronteiras!
De todos os feitios e maneiras,
Da cor que o sol lhes deu à flor da pele!
Crias de Adão e Eva verdadeiras!
Homens da torre de Babel!

Homens do dia a dia
Que levantem paredes de ilusão!
Homens de pés no chão,
Que se calcem de sonho e de poesia
Pela graça infantil da vossa mão!"

(Miguel Torga)

Miguel Torga era filho de familias humildes, que apenas pode estudar porque teve apoio do tio após emigrar para o Brasil. Formou-se em Medicina. A sua obra é de caracter humanista, onde as paisagens transmontanas são um frequente cenário. Foi-lhe atribuido o prémio Camões no ano de 1989.

Existem grandes poetas Portugueses que, apesar de premiados, temos certa tendência de ignorar. No passado Domingo comemorou-se o 100º aniversário do seu nascimento... Hoje desafio-vos a conhecer MIGUEL TORGA.

sábado, agosto 11, 2007

Ajuda-me...


Sabes que muitas vezes falo contigo a agradecer-te tudo o que me ofereces, que muitas vezes falo contigo a pedir-te para os meus amigos... Mas hoje venho pedir-te por mim. Sei que nem sempre tenho o melhor comportamento, que nem sempre faço aquilo que nos ensinaste, mas sei também que me amas com os meus defeitos e por isso venho pedir-te ajuda... Preciso que me dês força e esclarecimento, sapiencia... Sabes que momentos se aproximam, sabes o quão dificil vai ser... Tenho perdido (aparentemente) algumas batalhas, mas esta preciso de vencer...

Ajuda-me Senhor...

terça-feira, agosto 07, 2007

Momentos...


Existem momentos em que tudo brilha...
Um gesto, uma palavra,
Um olhar penetrante em que tudo se transforma...
Naquela hora, naquele lugar, mais nada importa...
O tempo parou, o mundo lá fora não existe mais,
Tudo se desenrola em mim e naquele momento.

Tudo poderá acontecer amanha,
Mas o hoje é especial e já é meu...
São momentos que ficarão guardados em mim...

quinta-feira, agosto 02, 2007

Hoje escrevo uma carta...

O sentimento estava ali, senti saudades de ter uma carta à minha espera, tive o desejo de adivinhar uma caligrafia, ao mesmo tempo me pego a pensar quão raras são as cartas pessoais, ao que parece já não se desnuda a alma sobre o papel, sinto saudades desse despojamento, que nos faz expor as entranhas de quando em vez.

Penso em cada uma das pessoas que conheço por este mundo de Deus, e que talvez estejam agora a pensar em mim... Penso em todos e penso em ti... A rapidez do computador aproximou-nos do mundo, mas roubou-nos esse momento de reflexão...na era dos e-mails são poucas, senão raras, quem ainda escreve uma carta... Mas então seja essa a carta que quero escrever e que quero que seja especial...

No mundo inteiro estão quase todos inquietos, stressados, e descontentes... Olhamos para o mal e principalmente para o mal... Guerras, injustiças, insegurança e politica... Mas não é sobre isso que eu hoje quero escrever...

Quero fazer desta carta um caminho dividido, compartilhado... Quero escrever sobre tudo e sobre nada, quero escrever sobre sentimentos, sobre gestos de carinho... Quero escreve-la sobre sobre este ceu estrelado que nos une e que nos liga às estrelas... Tudo se tranforma num poema que nos convida à serenidade, que se alarga para novas constelações, e para o sorriso do sol no novo dia...

O céu fala-nos de eternidade para tudo e para todos. Nascentes madrugadoras, poentes coloridos, adormecendo devagar, na esperança de que os contemplemos. As estrelas falam-nos também de Deus, de mistérios insondáveis, que vao acontecendo na nossa vida...

Música que ouvimos sem ser tocada, pois somos apenas um... Almas que se comunicam, que se encontram no caminho da vida...

Escrevo sobre o tempo e as maravilhas que nos são proporcionadas, e nem sempre nos damos conta delas... São palavras abertas, antigas e novas canções da nossa vida.. Hoje escrevo sobre alguns desses mistérios que o Homem vai esquecendo.. Escrevo sobre o Amor!

Hoje escrevo uma carta, que não é somente uma carta, são palavras, respostas, sonhos, desejos e principalmente sentimentos que a minha alma envia a outra e que a entende e sente tão bem...

Vou envia-la...

quarta-feira, agosto 01, 2007

Parabéns...




Muitas pessoas passam na nossa vida, mas umas marcam mais que outras... Hoje é o Aniversário de uma pessoa que conheci através do Ticho, mas que muito me tem acompanhado e marcado... É sem duvida uma pessoa especial, com um coração dos mais lindos que conheço, uma pessoa que eu guardo num lugar especial no coração!

É com imenso AMOR e carinho que faço este post hoje... Tudo para dizer o quanto gosto dela, o quanto é importante para mim, e o quanto quero preservar a sua Amizade... Tudo para lhe dizer...


Feliz Aniversário Patrícia!!

More Than Words...


Minha querida, desejo-te tudo de bom, tudo o que a vida tem de maravilhoso para te oferecer... Desejo que sejas muito feliz, pois se há pessoa que merece és tu... Eu estarei sempre por perto, em todos os momentos que precisares...


And you can tell everybody this is your song
It may be quite simple but now that it's done
I hope you don't mind
I hope you don't mind that I put down in words
How wonderful life is while you're in the world


Tem um feliz dia Querida...

sexta-feira, julho 27, 2007

Balanços...

(Quadro: J. M. W. Turner)

Ando meio desaparecida daqui, digo que é do cansaço do trabalho e da tese. Sim é verdade que ando muito cansada, mas julgo que não é só... Tento fazer-me de forte, dizer que não é dada e dizer que vai correr tudo bem (e eu sei que vai) mas como me disse uma amiga ontem: "sinto-te desorientada, sem rumo, mas respeito o teu estado..." Fiquei a pensar no que me disse e é bem verdade... Ela sabia-o e eu também!!

Ando um pouco desanimada com a vida que levo, pensava que seria temporário, mas como sabem, Deus trocou-me as voltas... Há então que traçar novo rumo. E eu sei o que quero, não sei é como chegar lá... Sei que terei quem me ajude, não só os amigos, mas também alguém que percebe das rotas a seguir. Mas por enquanto sinto-me como Turner se sentiu... Turner amarrou-se ao mastro do barco para perceber como abanava o barco, sentir os balanços para poder pintá-los, descrevê-los... Tenho estado a sentir os balanços, mas deve estar a chegar a hora de passar à pintura!

domingo, julho 22, 2007

Para ti....

Quando eu tinha medo, olhava-te nos olhos, sorria para ti e abraçava-te com toda a força... Dava-te beijinhos e sentia que me protegias de tudo e que eu poderia proteger-te também. Nada importava se te tivesse junto a mim... Estava segura por te saber nos meus braços!!

Eu pareço já crescida e poderás pensar que já não preciso de ti... Que tenho a minha independencia, que sei-me cuidar sozinha.. Se calhar mostro que já não preciso do teu aconchego... Mas vou-te contar um segredo... preciso muito ainda sim! Sei que tomas conta de mim, sei que me proteges, e sei que te poderei contar tudo, mesmo sem dizer nada.

Tu conheces-me melhor que ninguém. Quantas noites passámos juntos a contar segredos que ninguém mais sabia? Quantas vezes foste o meu porto de abrigo, o meu confidente?

Sei que precisas de mim também, que gostas de sentir-te nos meus braços, de sentir os meus beijinhos, sentir os meus miminhos... e eu gosto de fazê-lo tambem... Esta noite gritaste por mim e não te ouvi.. de manhã acordei e fui logo abraçar-te. Quero que me sintas sempre perto, quero que saibas que nunca te deixarei... Por muito que a vida me mude, ficarás sempre na minha memória, no meu coração...

Este post é para te mostrar o quanto te amo... Este post é para ti, meu ursinho de peluche...





terça-feira, julho 17, 2007

Uma forma de ajudar...

Amigos... quantas vezes a nossa vida é feita de futilidades? Quantas vezes damos importância ao que não importa? Pensei um pouco...... pensaram?



Muitas vezes vemos estes videos, lemos mensagens, pensamos durante 5 segundos e depois mudandos o que estamos a fazer e esquecemos logo de seguida. Afinal "que poderemos nós fazer?"

Se alguém quiser mudar alguma coisa do que viu deixo aqui uma sugestão:

Existe um projecto chamado "Apadrinhamento à Distância" levado a cabo pelo CCS Portugal - Centro para a Cooperação e Desenvolvimento (associação sem fins lucrativos para o desenvolvimento). Consiste em apadrinhar crianças de Moçambique, Zâmbia, Angola ou Nepal, ajudando-os financeiramente... Existem vários tipos de apadrinhamento: Sustento completo; Sustento escolar, e sustento colectivo "adopte uma turma". Se acham que é muito caro, desde 9 euros mensais é possível ajudar... Quanto mais não gastamos nós em coisas desnecessárias?

Passado algum tempo ser-nos-à atribuido um criança ou turma e receberemos todos os dados relativos à criança, uma fotografia e um jornal actualizado de todos os projectos da associação que vão efectuando ao longo do trimestre!

Basta ir ao site oficial do Centro: www.ccspt.org e ver toda a informação. Conheço duas pessoas que já o fizeram e garantem a credibilidade da associação.

Pensem nisso!

segunda-feira, julho 16, 2007

Um momento especial...


Existem momentos que não se explicam, ficam apenas nos corações de quem os vive. Eu tenho tido a felicidade de vivenciar experiências óptimas, de grande alegria e amizade. Ontem foi mais um desses momentos... São momentos que ficarão registados nos nossos corações com muito carinho. Agradeço-te /agradeço-vos os momento que me proporcionaste /proporcionaram.

Agradeço a Deus por tudo o que Ele me tem proporcionado, pelas amizades que tenho cultivado, o carinho e o amor que sinto dentro de mim...

sábado, julho 14, 2007

Oração...


Ó Senhor! Somos fracos: fortalece-nos. Ó Deus! Carecemos de conhecimentos; torna-nos conhecedores. Ó Senhor! Somos pobres; enriquece-nos. Ó Deus! Estamos mortos; vivifica-nos. Ó Deus! Somos a própria humilhação; glorifica-nos em Teu reino.

Se Tu nos ajudares, Ó Senhor, nos tornaremos estrelas cintilantes. Se não nos ajudares, nos tornaremos inferiores à terra, Ó Senhor! Fortalece-nos. Ó Deus! Confere-nos vitória. Ó Deus! Capacita-nos a sobrepujar o ego e superar o desejo. Ó Senhor! Livra-nos da escuridão do mundo material. Ó Senhor! Vivifica-nos através do sopro do Espírito Santo de modo que possamos nos -levantar para Te servir, nos empenhemos em Te adorar, e nos -esforcemos em Teu reino com a máxima sinceridade.

Ó Senhor! Tu és poderoso! Ó Deus, Tu és clemente! Ó Senhor, Tu és compassivo...

Hoje deixo esta oração para alguém que eu gosto muito, por quem tenho orado bastante... Que Deus esteja contigo e com a tua família.

Beijinhos CA.