terça-feira, novembro 27, 2007

Iniciação...


Não dormi durante toda essa noite. Estava quase a chegar o momento, e o estomago estava às voltas, não me deixava descansar... A ideia de me apresentar numa sala cheia de homens com roupas deslumbrantes fazia nascer em mim um nervosismo que me fazia vibrar dos joelhos até ao peito. Eu poderia não ter mais de 16 anos mas parecia-me que já tinha vivido duas vidas. A minha nova vida estava ainda a começar embora a minha velha já tivesse acabado há muito tempo. Desde o dia que recebi as tristes noticias sobre a minha familia, que soube que tinha que encontrar um caminho... Na vespera da minha iniciação ainda não sei como tudo me parecerá depois, mas agora tenho uma imagem na minha cabeça, uma imagem do que quero vir a ser amanha...

Acordaram-me bem cedo, tinha que passar pelo ritual de preparação, afinal hoje era o dia!! Começámos pelo cabeleireiro, depois de cortar, pentear e despentear dez vezes, estava pronta... Seguimos para aquela loja onde nunca tinha parado, nem sequer para ver a montra... O almoço foi dedicado à aprendizagem, tinha que saber estar... Aprendi postura, aprendi alguns pormenores que tinha que ter em atenção, e até algumas conversas a ter... Depois da longa lição tinha que me preparar. Um longo banho perfumado, mas de água morna para não estragar o penteado, vestir e depois maquilhar... Tudo estava planeado desde o mais infimo pormenor, para todas as situações que surgissem. Quando terminaram o trabalho em mim, olhei-me ao espelho e veio a surpresa. Efectivamente sabia que a pessoa que estava ali era eu, mas havia ali uma mulher que me devolvia o olhar e essa, eu ainda não reconhecia. As lágrimas surgiram nos olhos, mas tive que olhar para cima para que não rolassem pela face...

Deixaram-me sozinha para que me preparasse para o que ia acontecer. Sabia que não me restava muito tempo, apenas alguns minutos... Respirei fundo, tentei acalmar o coração e repetir mentalmente alguns conselhos que me tinham dado naquela tarde. Ouvi um carro a parar em frente à porta da casa, cheguei-me à janela, com o cuidado de não ser vista, para lhe ver o figurino. Bem vestido e bem parecido até... Sabia que tinha que o deixar esperar por mim... Esperei 5 minutos e desci as escadas com passos firmes. Ele estava de costas, virou-se ao sentir a minha entrada, e sorriu... Disse-me o seu nome, ao mesmo tempo que estendeu o braço para sairmos. Teria os 15 minutos da viagem para o conhecer melhor... Sorri para todos, dei-lhe o braço e dirigimo-nos para a porta... O coração tremia, sabia que quando voltasse a entrar por aquela porta já não seria a mesma que agora estava a sair...

quinta-feira, novembro 22, 2007

Em silêncio...


Chego a casa do trabalho... O dia foi complicadíssimo, reuniões e mais reuniões, fechar alguns negócios e iniciar outros... Estou cansada e saturada, a responsabilidade e o stress são muitos. Apetece-me um banho, daqueles em que mergulho em mim e fico ali, minutos ou horas no calor dos pensamentos. Olho para o relógio, os miudos já devem estar em casa, por isso tenho que me apressar. Hoje não apetecia cozinhar, passei no restaurante da esquina e trouxe de lá o jantar...

Entro no silêncio do lar. Os miudos estão a estudar no quarto. Vou até lá, dou-lhe um beijo e pergunto pelas noticias do dia... Deixo-os a terminar e venho preparar o resto do jantar. Ligo o rádio para me fazer companhia e relaxar um pouco. De repente ouço um carro.. Chegou!! - pensei. Apresso-me a desligar a música. Espero que a reunião do Conselho lhe tenha corrido bem. Ouço a porta a abrir e a bater com força logo de seguida. O eco sobe as escadas até lá acima, e depois é um silêncio perturbador que reina por toda a casa. Já sei a resposta e temo o pior...

Acordo passado algumas horas. As luzes à minha volta são intensas, vejo várias pessoas... Vejo que falam comigo mas não consigo ouvi-las, o silêncio de outrora reina ainda na minha cabeça. Passado alguns minutos apercebo-me de onde estou, já passei por aqui outras vezes... Parece que desta vez ele exagerou. Penso nos miudos, e no que será que eles viram e no que sentirão neste momento... Penso (novamente) que esta é a ultima vez que isto acontece, que amanha sairei de casa e não o quero ver mais... O coração estremece, porque embora seja essa a minha convicção neste momento, sei que amanha o amor misturado com o medo virão ao de cima, e continuarei sempre por ficar...

sexta-feira, novembro 16, 2007

Guardo em mim...

Era um dia de sol. O Sol já passava do seu pico quando cheguei ao jardim. Chego com a certeza que venho antes de ti. Olho para aquele espaço, parece-me perfeito. Percorro alguns metros numa tentativa de reconhecimento... Toca o telemóvel... Sei que chegaste, mas não atendo. Percorro mais alguns metros e vejo-te ao fundo. Olho-te sem me veres... Sabes que devo estar por perto, estás na expectativa de me ver, mas não sabes que te olho à distância. Sorrio... O meu coração bate mais depresa com o aproximar-se do instante em que estarei contigo.

As pernas mexem-se a custo, mas começo a subir aquele lugar. Viras a cara na minha direcção e vês-me a aproximar. Sorris para mim... Sei que o teu coração bate tanto quanto o meu, e aqueles segundos parecem-me intermináveis. A distância entre nós diminui a cada passo que damos e o coração parece cada vez mais que salta do peito. Quando a distância já não é nenhuma, veio o abraço, aquele que tantas vezes imaginámos... Naquele momento os nossos corações transformam-se num só. É aquele gesto, aquele cheiro, aquele carinho que guardo em mim... É aquela felicidade que transporto comigo a cada dia, com a certeza que se permanecerá...

terça-feira, novembro 13, 2007

Foi um sonho...

Hoje sonhei contigo. Estavámos num lugar lindo, onde o sol brilhava para além dos nossos olhos, e onde a alegria e o sorriso eram permanentes. Não havia tempo nem distância. Não havia responsabilidade, correria nem tão pouco preocupação. No fim do dia descansávamos lado a lado, sem trocar uma palavra. Sabiamos que o carinho era sincero e por isso não eram precisas palavras, apenas estar junto.

Durante momentos, disseste que estarias sempre comigo, e que poderia contar contigo para tudo. Terminavas sempre a dizer que o nosso carinho era para sempre... Sorria porque sabia que era verdade, não duvidei nem por um instante da tua palavra. A certeza dava-me conforto e segurança...

Até que acordei... Estava em casa, no meu quarto. Aquele onde vivi todos estes anos, e estava sozinha... Não estava apenas sozinha, provocado pela distância ou ausência, era algo mais profundo. Sentia um vazio em mim... Sabia que já tinham terminados aqueles instantes, e que tudo voltaria ao que antes acontecia. O coração ficou apertado e as lágrimas cairam repetidas noites. Sei que não estou só, sei que tenho muitos outros que me amam ao meu redor, mas as pessoas não se substituem e tu fazes-me falta... Vivo com a tua ausência e com a dor como companhia...

sexta-feira, novembro 09, 2007

O meu final...


Passei toda a minha vida ao ar livre, com o barulho dos pássaros como banda sonora e o sol como maestro dos meus dias. O tempo foi passando, ano após ano... Os filhos foram crescendo, sairam de casa e veio a solidão... O meu velho era a minha companhia, foi assim a vida inteira até um dia a morte o ter levado...

Passaram alguns anos e aqueles que mudei as fraldas, aqueles que mimei e sustentei, acharam que tinha chegado a hora. Fizeram-me a mala e trouxeram-me pela mão... É verdade que não queria, mas dia após dia depois de sugestões e promessas que ecoam ainda dentro de mim, lá baixei as armas e vim... As promessas de uma vida descansada e serena, com bom ambiente e visitas frequentes ficaram por cumprir...

Olho em meu redor e sinto um vazio... As paredes brancas vazias de histórias, o espaço gelido, e as pessoas que vejo são estranhos... A tristeza é mais profunda que a dor, a solidão e os fantasmas do passado são a minha companhia... O coração bate descompensado, ameaça parar mas não pára... Outra promessa por cumprir! Fecho os olhos e aguardo que esta um dia se torne realidade...

segunda-feira, novembro 05, 2007

Olhei-te em silêncio...


O Sol apresentava-se em sangue sobre o azul do rio... Olho-te ao sabor dos balanços do barco... Sabia que em breve chegaria a hora de dizer Adeus, aquela palavra que custa tanto dizer como pensar... Fiquei a olhar-te um pouco em silêncio, enquanto estavas distraída com a paisagem... Olho-te com um olhar distante, penso se saberás o quão és importante para mim... Chego-me a ti, coloco-te a mão sobre o ombro, como sinal de carinho... Queria dizer-te o que penso, mas não é o sitio nem a hora...

Chegamos ao cais e vamos para casa... Começa-se a sentir o cheiro das chamas sobre os pequenos troncos de madeira que estalam na lareira... O ambiente é acolhedor... Estás ali bem perto mas eu olho-te com a distância de kms... O silêncio reina no espaço, saem apenas algumas conversas ocasionais... Adormeço com a partida marcada...

Passa a noite, e o sol já atingiu o seu ponto alto quando chega a hora de ir... Eu estava um pouco como o sol de outrora, em sangue, não gosto destes momentos... O meu jeito não permite que mostre muito sentimento, mas choro por dentro, as lágrimas caem do coração... O acaso do momento, fez com que o relogio andasse rápido demais... Parto com passo apertado, não olho para trás, não te dou o abraço que desejava, não te digo o quanto te adoro... Fica a esperança que guardes as palavras, os gestos, o olhar de outros dias na lembrança...