sábado, fevereiro 28, 2009

Desafio: os três anões (13)

Girassol


"Era uma vez um anão que teve três filhos: O Becas, o Bicas e o Bocas. Este último era tão pequeno, tão pequeno que casou e foi viver dentro de um sapato nº 32."

Que era de madeira azul-claro, quase um tamanquinho fechado. Junto ao decote, antes da ponta, tinha um raminho de margaridas amarelinhas. Este tamanquinho era muito especial. Nos dias de primavera, aqueles, quando as flores vêem espreitar todas gaiteiras, e, põem-se a dançar tremelicadas, nesses dias, Girassol, o tamanquinho-sapato, deitava as suas solas de madeira na terra húmida, e zás por ali ficava bem enterradinho.
Abria a porta de trás e deixava que Bocas, o anãozinho castanho se sentasse nas escadas. Bocas era especial.
Bocas o Feliz,
Era um anãozinho cor de chocolate dourado, cabelos de caracóis apertados e uns olhos grandes, escuros como se fossem as ameixas da sua carita.
Estava sentado na borda do seu tamanquinho-sapato baloiçando as suas pernitas que o solzinho deixava mais brilhantes ao lado da sua Cocas.
Cocas a sua mulherzinha-boneca
Um derriço de chocolate brilhante, muito, muito e com um chapeuzinho de palha apertado numa fita vermelha de bolinhas brancas que pareciam cogumelos.
Os dois estavam felizes e de mãozinhas dadas. Cantarolavam: “fui ao jardim da celeste giro-flé-giro-flá”
E batiam as mãozinhas de chocolate doirado.
De repente, muito de repente, uma nuvenzita zangada tapou o sorriso do sol. Fez-se frio. E começaram a cair lágrimas. Primeiro miudinhas, quase salpicos, depois, pesadas, grossas. Bocas e Cocas começaram a tremer, arregalaram os olhos redondos de ameixas e agarraram-se um ao outro. Estavam aflitos.
O tamanquinho-sapato-casinha estava a deslizar. Entraram e puseram-se à janela, os dois muito abraçadinhos.
A nuvem zangada achou-se divertida e a correr foi buscar as primas. Endiabradas como ela espirraram toda a água que as enchia cá para baixo. Vejam só no quintalzinho o tamanquinho-sapato já andava aos ziguezagues na poça que formara. Um lago barrento, que crescia, crescia, e, inundava a casinha do Bocas e da Cocas.
Tão aflitos estavam os coitadinhos, tremiam que nem varas verdes.
A sua casinha alagada!
O seu tamanquinho-sapato à deriva num lago barrento!
Bocas arregaça as calcinhas amarelas, calça as botas de borracha verde, pega na vassoura e numa na corda, e, diz para a sua Cocas que o olhava com os olhos muito esbugalhados
-Vá lá ata esta corda à minha cintura, e prende-a na argola da parede, depressa.
-Oh Bocas o que vais fazer?- Não me deixes aqui, choramingou a Cocas.
Abre a porta, a água chega-lhe quase até aos joelhos. Mal consegue andar. Porém corajoso lá vai ele de vassoura na mão.
Do lado esquerdo do tamanquinho-sapato as ondas, que as lágrimas pesadas fazem, estão a deslocar a sua casinha-sapato. Pega no cabo da vassoura, procura remar para a margem afastando o tamanquinho da poça. Tanta força. Tanta. O tamanquinho continua a rodopiar cada vez com mais força. O pobre do Bocas está ensopado até aos ossos
Uma desolação.
Os seus caracóis até lhe tapam os olhos-ameixa.
Não se importa e continua a empurrar, a empurrar.
E chuva a cair, cada vez com mais força, cada vez mais zangada.
E a casinha a girar, a girar.
Uma aflição!
A Cocas a gritar, a chorar.
Um pesadelo!
Olha desolado à sua volta.
Atira com o cabo da vassoura e core para junto da sua Cocas.
Agarra-se a ela e muito apertadinhos, esperam pelo fim.
De repente, o tamanquinho-sapato pára. Deixa de soluçar. Tudo se acalma em redor. Esperam mais um tempinho, os dois muito juntinhos, ouvindo o respirar um do outro. Depois, devagar, devagarinho, Bocas separa-se, e, pé ante pé vai até à janelinha, levanta a cortininha de margaridas deixa um olho-ameixa a ver tudo o que vai lá por fora.
Pasme-se!
Está tudo sereno.
Dá uma corrida e abre a porta. Vem cá fora.
O lago barrento estava sereno, as flores sacudiam os cabelos, a terra respirava fundo e as folhas verdes estremeciam lavadas.
O seu tamanquinho-sapato embora molhado estava mais tranquilo. Porém, o azul desbotara deixando a madeira nua. E cheia de lama. Bah, a sua casinha estava feia. Não gostava mais dela. E o medo que tivera.
Que perigo!
Bah, não ía viver mais num tamanquinho-sapato que lhe pregava sustos destes.
Não, ía não! Tinha a certeza!
Mas para onde ir?
Ah, já sabe. E sorri. Bate as mãozinhas felizes. Entra na casinha molhada do tamanquinho-sapato. Chama a sua Cocas e diz:
-Anda, anda, vamos embora.
-Para onde?
-Vamos procurar o canteiro mais lindo do mundo. Lá vou fazer a nossa casinha de pedra.
…………………………….
Cocas e Bocas estão sentados no banco da varanda. Ela tem outro chapeuzinho, uma túlipa vermelha com um laçarote cor-de-rosa, ele, umas calcinhas verdes da cor da Primavera. No chão um bombom de chocolate de caracóis apertados e olhos de ameixa brinca com um tamanquinho de quatro rodas.
-Brrrrr.Piiiii! -Deixa passar o giassol, papá! Tá atasado, tá brrrrrrrrrr!
E na janela de margaridas amarelinhas o sol pisca o olho ao dia sorrindo.

Mateso do aArtmus

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Desafio: os três anões (12)

Um dia, igual a um outro qualquer, com a particularidade de se tornar diferente, Bocas enveredou numa viagem estranha. Estava deitado, junto com sua linda esposa, quando começou a ser chamado. Achou deveras estranho a voz de sua avó, que havia partido para outras paragens há cerca de doze anos, estar tão presente, tão clara. Não, não poderia ser um sonho, afinal de contas era uma voz tão clara e viçosa, como aquela que em criança o retirava das suas brincadeiras para o almoço, o lanche ou o jantar! A saudade que a voz lhe causou, actuou de tal forma no seu raciocínio que acabou por lhe causar amnésia, esqueceu que ela já não estaria entre eles e começou a caminhar no sentido de procurar essa voz que, a cada passo dado, mais próxima, mais clara e mais meiga se evidenciava. A certa altura deparou-se com uma luz resplandecente e, por entre esses raios luminosos que ofuscavam a sua visão, conseguiu vislumbrar vários vultos, todos eles com vestes brancas tão cintilantes que quase se tornavam transparentes. O seu olhar cruzou-se com um desses seres de luz e, mesmo estando o seu olhar ofuscado com tanta luminosidade, sentiu que…sim era sua linda e adorada avó que o tinha encaminhado até aquele local. A emoção era de tal ordem que as lágrimas começaram a correr pela sua suave face, como um riacho que flui, calmamente, sem nenhum obstáculo. A sua avó sorria, aquele sorriso que ele tão bem conhecia, abrindo-lhe os braços na ânsia de o abraçar. Sem mais esperar Bocas, correu e abraçou-a intensamente. Nesse momento sentiu como que se estivesse a fundir com o ser luminoso que abraçava, preenchendo-se com uma paz que nunca havia sentido, mesmo que a sua vida tenha sido sempre bastante serena. Seguidamente, de mãos dadas, começaram a rodopiar. Rodopiavam e sorriam, tal como faziam em tempos passados. Mas! Seria mesmo em tempos passado?! Era tudo tão real e presente, que lhe dava a sensação de ter feito uma viagem no tempo. Uma viagem ao passado, com a singularidade de estar num local tão belo que se assemelhava às descrições do paraíso. A certa altura, deparou-se com a serenidade dos restantes seres que os observavam, com um olhar de alegria pura, como se fossem as testemunhas da concretização de um sonho. Bocas parou e o seu olhar tornou-se sério e surpreso. Todos os presentes rodearam-no e deram as mãos formando um círculo. A luz começou a intensificar-se mais e mais, até que sentiu-se desmaiar. Não que as forças lhe faltassem, sentia sim uma explosão de bem-estar e fusão para com o todo que o fez ficar sem qualquer reacção, no seu pequeno corpo não habituado a tal frequência energética. Durante o seu desfalecimento sentiu-se descer, aliás sentiu que o levavam em braços até ao seu quarto, no sapato n.º 32, onde vislumbrou, nebulosamente, a sua esposa a dormir, tranquilamente. Quando sentiu que o haviam pousado, com cuidado, na sua macia cama, sorriu, mais uma vez, para o rosto que continuava a observar, a sua amável avó. Continuou a dormir e quando alvoreceu contou o sucedido à sua amorosa esposa que o inquiriu da veracidade do seu relato. Bocas insistiu: “Sim, estive nos braços da minha avó e foi tão bom voltar a senti-la, a ouvi-la.” Sua esposa encolheu os ombros e deixou-o a viajar nos seus próprios pensamentos.

Carla Madureira de Serenidade

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

Desafio: os três anões (11)

O mundo também é nosso!

Era uma vez um anão que teve três filhos: O Becas, o Bicas e o Bocas. Este último era tão pequeno, tão pequeno que casou e foi viver dentro de um sapato nº 32."

O Bocas casou-se com a Pétala, uma menina linda que tinha o tamanho de uma pétala. Foi um casamento memorável, todos os seus amigos estavam lá, e o amor entre eles algo de maravilhoso, em que todos os preconceitos caíram por terra, seres assim tão pequeninos também têm direito a ser felizes. E nós, gigantes, curvamo-nos perante a humildade do amor.

Bocas é um homem lindo em miniatura, tem um coração maravilhoso, perto dele não há tristeza e tem o seu emprego - Chefe de qualidade - numa empresa de frutas. Dá gosto ver o seu profissionalismo e a sua maneira humana de lidar com todos; homens e mulheres respeitam-no como ser humano e como seu chefe! Bocas mostra assim ao mundo que de facto "os homens não se medem aos palmos"

Pétala tem um temperamento algo diferente, é muito insegura, e acha que o seu tamanho conta, por isso refugia-se em casa, pois teme sair à rua, temendo ser esmagada por algum "gigante". E em casa, no seu refúgio vai dando largas à sua criatividade e imaginação, tornou-se uma costureira primorosa e nos tempos livres dedica-se à pintura. A casa de Bocas e Pétala...O sapato nº 32, esta decorada harmoniosamente pelas admiráveis mãos de Pétala!
Bocas ama Pétala, assim como ela é, mas ele não desiste de a tornar ainda mais feliz, é por isso que faz tudo para que Pétala se abra ao mundo e passe a confiar nos "gigantes":
- Pétala, eu sei que és feliz no nosso casamento, na nossa casinha, mas eu quero que sejas ainda mais feliz; tens que confiar, tens que arriscar mais, acreditar!
- Eu sei Bocas, mas tenho medo, toda a gente vai achar que eu sou diferente...
- Querida, claro que és diferente, e isso tem algum problema? O ser diferente não implica que seja negativo, repara nos nossos amigos "gigantes", eles adoram-nos e imagino que se esquecem do nosso tamanho!
- Adoro o teu coração! De facto nós temos limitações, porque o mundo está feito para "gigantes", mas, e apesar da nossa diferença, também temos lugar nesse mundo e também podemos ser construtores e não meros espectadores.
- Sim, querida, é isso mesmo! A nossa casa é um sapato nº 32, e já reparaste, é uma mansão e não precisamos de pagar nada, quantos amigos nossos passam a vida a pagar as suas casas? Também não temos carro, mas temos o Popy, o nosso querido cão, que nos leva a todo o lado, e com uma vantagem, não precisa de gasolina, nem pneus, óleo ou revisões!
- Oh Bocas! És um amor, sem ti, eu passaria pelo mundo carregando a minha pequenez como um fardo muito pesado. Prometo que a partir de hoje vou tentar modificar a minha maneira de encarar o mundo!
- Amo-te Pétala!
- Também te amo Bocas!
O sapato nº 32 era assim o ninho do amor e felicidade de dois corações!
O tempo foi passando e Pétala a pouco e pouco ia aceitando o mundo como seu, não era fácil, mas ela esforçava-se.
Certo dia, Pétala estava no jardim de sua casa a pintar um quadro, quando alguém a interceptou:
- Menina! Que quadro lindo estás a pintar!
- Oh! È para passar o tempo!
- Mas é magnifico, em miniatura...desculpa.
- Não tens que pedir desculpa, tudo é relativo, e as coisas acabam por Ter o nosso tamanho, repara, para ti é miniatura, mas, para mim é de tamanho normal.
- Tens razão, linda! Gostas de pintar?
- Sim, gosto muito!
- Olha, e será que consegues pintar um quadro, para ti "gigante" e para mim normal?
- Claro que sim! Levaria mais tempo e teria que ser noutro espaço, mas claro que conseguiria. Isso é um desafio?
- Talvez. Tenho uma galeria e quem sabe se do teu hobby fizesses trabalho?
- Estás a falar a sério?
- Claro que estou!
- Mas, eu teria que falar com o meu marido.
- Tudo bem. Deixo-te um cartão meu e fico á espera. Como te chamas?
- Pétala e tu?
- Que nome lindo! E que combinação, eu chamo-me Rosa, Temos futuro!

Pétala não cabia em si de contente, que bom que tinha decidido enfrentar o mundo, se estivesse fechada em casa, ninguém poderia descobrir as suas pinturas. Ansiava pela chegada de Bocas, ele ia certamente ficar muito contente.
O sol ia-se despedindo no horizonte, Pétala tratava do jantar, quando ouviu o latir de Popy. Bocas estava a chegar:
- Amor! Tenho uma surpresa para ti
- Minha querida! Diz-me! Que bom ver-te tão feliz!
E Pétala, com uma alegria que a ultrapassava foi relatando os acontecimentos dessa tarde.
- Está a ver, meu amor! È isso mesmo, agora sei que és muito mais feliz!!

E Pétala foi contratada para trabalhar na galeria de Rosa, a sua obra-prima, dia a dia ia tomando forma, e Pétala sentia-se realizada e feliz com o seu querido Bocas. O mundo já não a atrapalhava e ela sentia-se parte dele, completamente integrada e útil. E todo este clima de felicidade foi abençoado. Pétala estava grávida, e uma nova aventura se abeirava do sapato nº 32!

Elsa Sequeira do Eu estou aki

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Desafio: os três anões (10)

Era uma vez um anão que teve três filhos: o Becas, o Bicas e o Bocas. Este último era tão pequeno, tão pequeno que casou e foi viver dentro de um sapato n.º 32.
Bicas, o irmão do meio, assim conhecido por tirar as melhores bicas do país, morava em cima de uma máquina de café: um loft luxuoso com aquecimento central. Era solteiro e tinha já uma fortuna considerável. O pai anão estava sempre a perguntar-lhe quando casava, mas Bicas gostava da sua vida de bon vivant.
O monstro das bolachas…
- Um momento!
- Sim?
- Queres explicar-me para que metes o monstro das bolachas agora?
- Venerando Narrador Omnisciente, ia falar do Becas que me faz lembrar os Marretas, ou seria a Rua Sésamo? Isso não interessa nada. Apeteceu-me meter o monstro das bolachas.
- Mas isso não está de acordo com a sinopse que nos foi dada.
- Venerando Narrador Omnisciente, não queria ter que o lembrar que nós, Narradores Inconscientes, ainda temos uma certa liberdade criativa. Vem no n.º 3 do artigo 10.º do Código dos Bloguistas.
- Pronto, fantasia lá à vontade!
- Aonde é que eu ia?
- No monstro das bolachas.
- Ah, sim. Isto porque queria falar do Becas, o herói desta história.
- Ai, esta história é de heróis?
- Não é de heróis, é do herói!
- Hum,
- Venerando Narrador Omnisciente, vê algum inconveniente nisso?
- Não, não, continua, que esta conversa já se alonga.
- Muito bem.
Becas, o irmão mais novo, era um intelectual sonhador. Morava numa estante de livros e tinha como função afastar os bichos do papel e os ácaros. Era amigo das aranhas e tinha um acordo com elas, deixando-as fazer teias dentro de determinados limites, o que protegia os livros de outros bichos.
- E pronto.
- Desculpa lá, mas que raio de herói é esse?
- Venerando Narrador Omnisciente, é o meu herói!
- Santa paciência…
:p

Cris do Procurar-se

terça-feira, fevereiro 24, 2009

Desafio: Os três anões (9)

"Splash...!!"
- Socorro, acudam-me...estou a afogar-me...! – desesperadamente berrava Boquitinho.
- Que se passa?? Que atrofio é esse, estares a incomodar o sono da gente?- questionou o pai Bocas.
- Apaa-paanhe-eeii...com água ...penseiii...que fossseee...afogar-me...!
- Só estás molhado...Vai-te secar e deixa-te de andar pela torianda.
Torianda era uma espécie de terraço bem organizado que se situava no calcanhar do sapato.
- Não preciso de me secar...tenho calor.
- Filho, deixa-te de coisas...vai para o teu quarto secar-te e depois vai dormir...!
- A sério pai, a água está quente...olhaa-aa...nã...
"Splash...!!"
Desta foi o Bocas vitima do misterioso liquido.
- Eii...puxa...! Que se passa por aqui? ...filho vai andando para casa que vou ver de onde vêm esta água...quente!
- Ohhh pai, deixa-me ir contigo.
- Não! Vai e avisa a tua mãe, se tiver acordada, que eu já volto, para não se preocupar.
Bocas começou a subir o godiote, um banco mágico, em que se dobrava um eixo e se transformava em câmera lenta num escadote...capaz de chegar ao cimo do sapato...! Tinha sido uma prenda do seu mano
Bicas. Não foi preciso subir tudo...pois deu pela nascente do estranho liquido...! Era um sem abrigo a chorar! A baixa-estima infestava o aroma do ar. As lágrimas corriam como se de uma torneira louca se desvairasse. Bocas já estava todo encharcado e não sabia o que fazer! O perigo eminente do seu lar ficar inundado pairava pela sua mente. Olhou de leve para o caminho que teria de percorrer até chegar lá cima. "Mesmo que consiga, coisa improvável, chegar, como parar as gotas?" – matutava. O sapato continuava a ser atacado pelas gotas e a ansiedade e medo já começavam a atormentar o anão. "Tão íngreme é a subida...mas vou arriscar...!" - sua consciência parecia algo decidida. O big casaco estava infestado de borbotos e tal amedrontava Bocas. Fez os cálculos e chegou à conclusão que demoraria muito tempo a chegar à cara do gigante. "Por essa altura as lágrimas já teriam feito grandes estragos ao meu querido lar" –
pensava. O perfume da fatalidade agitava o coração do pequeno. De repente um tempestivo impulso levou-o a decidir pela subida, sem saber o que fazer quando chegasse ao destino, e se chegasse. Sua mente estava mergulhada num cocktail de pensamentos...só pensava subir acontecesse o que acontecesse!

- Nãooo...!! – gritou. Um abanão brusco fez girar o casaco e o anão caiu...caiu...e foi parar ao bolso direito. Era um casaco de lã...quentinho...próprio para aquecer nestes dias de inverno. Meio atordoado...recompôs-se e deu-se rodeado de uma escuridão. Ergueu-se firmemente e com esforço, nos meios dos "escombros" pegou na sua lanterna lovix que levava sempre consigo. A luz do seu delicado utensílio jorrava por todos os ângulos. Sentiu-se menos nervoso e mais seguro. Sentiu o chão demasiado escorregadio...e apontou para
baixo...! Parecia-lhe uma foto...gigante...! Surgiu-se-lhe a ideia de ver o que continha tal quadro...mas repentinamente veio à mente a delicada situação do ser lar, das "lágrimas" que abalariam sua família. Bocas ficou eximindo cálculos para a subida do bolso. Era bom a fazer contas. Não foi por acaso que sua casa ficou
impecavelmente bem estruturada. Encontrou uma solução. Tratava-se de um lápis gasto e cheio de cortes. Tais cortes dava-lhe para se apoiar e descansar um pouco na subida. Chegou. Estava no cimo do bolso; este era largo, o que lhe proporcionava espaço para grandes vistas. Lembrou-se da foto e apontou a sua lovix para baixo. Eram dois rostos...um feminino na casa dos 29 anos e outro mais meigo, mais angélico pelos 2 anitos. Ao ver aquela tela lembrou-se do seu boquitinho...e da sua mulher. Apesar de a foto estar de lado
conseguia ver todas as linhas daqueles rostos sorridentes. Numa tentativa de ver um pormenor dos olhos da singela figura juvenil precipitou-se e deixou cair a sua lanterna. Tal descuido provocou um estrago. Caiu por debaixo dos olhos da figura juvenil e borrou tinta vermelha. A lanterna de Bocas não funcionava a pilhas, tinha um liquido vermelho, que sugava energia solar provocando luz no arredondado pináculo da lanterna. Era um mecanismo muito eficiente. "Não posso esperar" - disparou sua mente. De novo à aventura, esgrimiu-se para alcançar portos seguros. Agarrava-se com firmeza aos pontiagudos pelos de lã.Estava quase a chegar aos cabelos quando um reflexo de luz atingiu seus olhos deixando-o anestesiado. Quase caía de novo. Suas fortes mãos evitaram mal maior. Recomposto tentou ver de onde teria vindo a fustigante luz. Ficou abatido com o que viu. Lá baixo estava a sua mulher e filho a debaterem para sacudiram as águas ...as lágrimas. Olhou e gritou para a mulher ... mas o som não chegava, olhou para cima e gritou para o ser e nada. Ficou desesperado. Nada lhe valia ao ficar aos gritos...e fazendo força de punho continuou a subida...! Estava pendurado em vários pêlos do cabelo perto da orelha do gigante. Encheu os delicados brônquios de ar e brotou:
- Por favorrrrrrrrrr...pára de chorarrrrrrrr...!!
Subitamente o anão é sacudido e foi parar ao outro lado ... ficando de frente perante a outra orelha. Tinha sido o ser. Abanou a cabeça com rapidez. Tal grito de Bocas não passou despercebido. Não desta vez. O medo assombrava calorosamente Bocas. O silêncio reinava. A tremer todo, foi ganhando calma...quando reparou que as águas já não caíam. Mas tal não serviu de desafogo para o pobre anão pois este sabia muito bem que sua família estaria em apuros. Afinal o choro do ser não foi curto. Nasceu (momentos raros) algum ódio no anão pelo ser. Na máxima força nos pulmões soltou:
- Só sabes destruir com as tuas lágrimasssss...!
Foi fatal. O ser levantou-se energicamente e Bocas foi cuspido pelo ar.
- Nãoooooooooo...splasssh!
Caiu ao lado do seu filho e sua mulher. Ainda apoquentado tentou situar-se. Nadou um pouco e deu-se pelo boquinhas e mulher. Fraco mas com forças para abraçar a mulher e filho. As águas salpicavam loucamente. Bocas começa a chorar...!
- Eiii então paizinho...já não basta este lago de lágrimas??
Bouquitinho e sua mãe também já estavam a par do sucedido, pois o maroto não tinha obedecido o pai. Em vez de ter ido para casa avisar a mãe seguiu o pai e viu o que se passava, mas voltou logo pois ficou com medo, dando a conhecer à mãe do sucedido.
- Ai meu filho...meu querido filhooo...!
- Poupem os afectos para mais logo, temos esta água toda para tirar...e para variar...está a ficar fria...! - berrava a mulher.
Alegria dos três pequenotes infestava as águas...as lágrimas. A aurora do sol já estava à espreita e os primeiros raios provocavam no sapato um brilho, um reflexo brilhante. Bonito.

(...)

Estava frio e o ser andava pelas ruelas solitárias. "só sabes destruir com as tuas lágrimas" - mastigava o pensamento. Ele sempre foi uma pessoa humilde e activo até à morte das duas pessoas que mais amava na vida. Um estúpido acidente rodoviário ceifou as duas vidas e quase a sua. Desde este dia fatídico deixou de pensar, de falar, pior, de crer em Deus. Tal sussurro que tinha ouvido foi um clique para a sua alma. Imaginou coisas, imaginou anjos, imaginou mensageiros, e também coisas maradas. Algo que não fazia há muito
tempo..., pegou na foto que tinha no bolso. Sentou-se num velho banco. Chorou...chorando com o olhar colado aos olhos dos seus, outrora, mais que tudo. Nova faísca soltou-se-lhe. Reparou que na face do seu filho, um choro vermelho pingava. Ficou brutalmente aterrado com tal visão. Ficou segundos, minutos, horas...a vislumbrar tal quadro soberbamente triste. "só sabes destruir com as tuas lágrimas..." – de novo se lembrava do sussurro. Sentiu-se impelido a sair dali e levantou-se. Andou sem destino. Ao passar por
uma capela olhou para a cruz. Ficou tocado. Entrou na capela. Estava vazia, muito vazia, muito solitária. Sentou-se no banco da frente e ficou a olhar para o santo que estava de frente, ao lado do altar.
Lembrou-se do dia do velório. A saudade começava a apertar. Apesar da luz das velas, a escuridão triunfava. Ainda ansioso com a visão, decidiu tirar de novo a foto da sua famí lia. Surrealmente, a escuridão da capela foi desaparecendo! O ser sentiu-se atingido por forças de libertação, sentiu-se noutro lugar e notou uma
diferença..., os olhos do seu filho estavam brilhantes, imaculados, o sorriso fustigante! No seu coração nasce uma força. A semente da esperança, da luta que há muito estava enterrada, começou a florescer! Ganhou coragem e foi ao cemitério. Os mochos cantavam...melodia vampirica. A porta estava semiaberta. Entrou.
(...)
Campas caídas...abandonadas...figuras...anjos...folhas voando...Parou! Num cantinho estava uma campa. Estava coberta de folhas, velas tombadas. Era a campa mais mal tratada. De joelhos e derreado perante a laje deixou cair uma lágrima, mais uma...a última.

"Acabaram-se as lágrimas, não posso nem vou continuar assim!! Vou à luta nem que tenha de morrer pela descoberta da paz na minha vida...! Desculpem o meu estado. Desculpem por vos ter dado tristeza com as minhas lágrimas"
Levantou-se. Com um semblante rejuvenescido, tirando a foto do bolso olhou para o céu e beijou a foto. "A mudança é hoje. Tentarei nunca mais vos desiludir e obrigado meu Deus. Até já!". Limpou a sujidade. Hoje era uma campa aprumadinha. O brilho floreava a campa. Posou a foto e prendeu bem.
O homem foi caminhando em frente semblante de energia positiva, ...,e com destino! Tinha renascido.

*Nada acontece por acaso...um "acidente" que quase destruía o lar do Bocas fez renascer o laço fraterno entre este e a sua família e paralelamente fez acordar o ser para o caminho da paz.*

segunda-feira, fevereiro 23, 2009

Desafio: Os três anões (8)

OS TRÊS ANÕES

Era uma vez uma história
De três anões muito catitas
Ficarão na nossa memória
As três palavras benditas

Eram o Bicas, Becas e Bocas
Três anões muito pequenos
Não vão ser só palavras ocas
Pois isso nós não queremos

O Bicas simboliza o "Amor"
Que deverá existir completamente
Sempre com seu muito calor
Que ás vezes falta infelizmente

O Becas simboliza a "Esperança"
Que deverá existir na dose certa
Tal como os pratos da balança
Que com os seus pesos se acerta

O Bocas simboliza a " Paz"
Que tanto queremos observar
Em qualquer situação nos satisfaz
Em todo o lado e além mar

Agora só por curiosidade
Andavam sempre dois a dois
E viviam todos numa cidade
Um, em sapato trinta e dois

Reafirmo também o meu querer
Amor, Paz e Esperança
Pois sempre se ouviu dizer
"Quem espera sempre alcança"

Belisa da Estrela do Céu

domingo, fevereiro 22, 2009

Desafio: Os três anões (7)

Era uma vez...

Dois anõezinhos havia
Num país algures distante
Trabalhavam todo o dia
Até sua casa um instante

A sua casinha bonita
Parecia um cogumelo
Era toda forrada a chita
E lá dentro tudo muito belo

Tinham três filhos lindos
E seus nomes tinham graça
Todos eles muito bemvindos
E houve festa na praça

O primeiro era o Bicas
Pequeno com olhos chorões
Gostava muito de fitas
Para prender seus balões

O segundo era o Becas
Mais pequeno que o primeiro
Andava sempre em cuecas
Estava alegre o dia inteiro

O terceiro era o Bocas
Pequenino até mais não
Sempre com ideias loucas
Sempre muito brincalhão

Sendo este o mais pequeno
E com suas ideias ousadas
Lembrou-se pôr no terreno
Uma das suas moradas

Imaginam como era ela
Digo-vos já e não depois
Era mesmo muita bela
Um sapatinho trinta e dois

Belisa do Estrela no Céu

sábado, fevereiro 21, 2009

Desafio: Os três anões (6)

“Era uma vez um anão que teve três filhos: o Becas, o Bicas e o Bocas. Este último era tão pequeno, tão pequeno, que casou e foi viver para um sapato nº. 32.”

“Hey!” – puxou-me violentamente pela manga do casaco e quase me derrubou da cadeira…- “Não gosto nada desses nomes! Então vais dar-nos esses nomes horríveis?!”
“Bem…” – respondi, atónita – “eu ainda só estava a ler aqui as indicações para escrever este conto, nem fui eu que sugeri os nomes…”
“Pois é! Mas vais precisar de mim para escrever esta história, certo?!” – e abria ainda mais os grandes olhos, de um castanho salpicado de verde e dourado.
“Então é assim: se queres saber a história, para a poderes contar, tens que rectificar os nossos nomes!”
“Está bem!” – respondi – “Devo confessar-te que ainda estou sem saber o que dizer… De onde surgiste?...”
Riu-se com um ar subitamente infantil – só tinha setenta e cinco anos, como vim a saber mais tarde, o que, para um GNOMO, era uma idade muito jovem ainda… Bem, regressando à história:
Riu-se e gargalhou uma resposta já bem disposta:
“Primeiro, não somos anões, somos GNOMOS! Depois, os nossos nomes têm uma grafia difícil, pois são de origem gaélica, mas, para efeitos da história, podes escrever que o nosso Pai, o respeitado Hermenegildo, actualmente com 450 anos, teve três filhos: ANTON, BERTO e CLÁUDIO, eu próprio”.
Eu não sabia bem se havia de acreditar em tudo aquilo, mas ele quase me havia derrubado da cadeira e a sua voz – não era só eu que a ouvia, pois o meu cão Lucky tinha vindo cheirar este curioso homenzinho e sentara-se junto dele, numa atitude de simpática curiosidade.
Assim sendo, rendi-me à evidência de que, se não fosse tudo um sonho, CLÁUDIO estava mesmo ali em frente, ora rindo, ora protestando, sempre com a sua engraçada fatiota colorida, o seu chapéu em bico, os seus olhares expressivos e as suas muitas sardas…
“Desculpe-me” – disse-lhe – “nunca tinha conhecido um gnomo e não sabia muito bem o que dizer. O que propões?”
“Pareces uma boa pessoa. Proponho-me vir aqui contar-te a minha história… mas agora tenho que ir.” – E oscilando as pernas, tomou balanço e pulou da cadeira, onde tinha estado empoleirado, aterrando suavemente no chão, como se o seu corpo pesasse menos do que parecia. Lucky foi atrás dele até à janela, por onde Cláudio desapareceu, voltando de seguida para junto de mim e olhando-me com os seus belos olhos de dálmata, plenos de confiança.
Quanto a Cláudio, que extraordinária aparição! Levantei-me e fui fazer um café, antes de me sentar a trabalhar. No entanto, não podia contar a história sem o auxílio de Cláudio, já não me atrevia a inventar pormenores que estivessem incorrectos. Durante umas horas nada aconteceu e eu tentei concentrar-me nas minhas tarefas – mas a minha mente regressava sempre, teimosamente, ao curioso surgimento de Cláudio e à expectativa que este criara de me transmitir uma história bem mais invulgar do que qualquer uma que eu pudesse inventar.

Quando a Lua já ia alta no céu, e o Lucky já se estendera no tapete junto à cama, deitei-me, virada para a janela como sempre gosto de fazer para ver o céu estrelado e tive um sonho curioso…

Do lado da janela, ouvi um ruído como se se tratasse de alguém a atirar pedrinhas os vidros… Levantei-me a custo, pois estava bastante cansada. O Lucky levantou uma orelha, depois abriu um olho primeiro e só depois o outro, e com um bocejo preguiçoso decidiu-se a seguir-me.
Aberta a janela, vi que Cláudio me esperava, com a cara afogueada e agitando os braços: “Vem, não temos muito tempo, pois ao nascer do Sol terás que estar de volta”.
Saí pela janela, que Cláudio fez fechar com um só gesto, apesar de estar a mais de três metros… O Lucky também saltara pela janela e estava agora colado a mim, movendo-se suavemente na noite tépida.
Metemos por um atalho que eu nunca havia notado e que aparentemente começava ao fundo do meu jardim! Que estranho! Não me recordava nada de o ver ali antes, como se as grandes árvores daquele lado se tivessem afastado um pouco, criando ali um estreito carreiro.
Cláudio foi à frente, empunhando uma lanterna para que eu visse o caminho. O Lucky nem disso precisava, com o seu faro, visão e sentidos apurados. Chegados mais adiante, entrámos numa clareira que o luar iluminava e, para meu espanto, outros gnomos ali se encontravam, à volta de uma fogueira, rindo e cantarolando!
Não sei o que mais me espantou, se a visão daquele mundo, ou a atitude naturalíssima de Lucky, como se desde sempre convivesse com aqueles pequenos seres!

Quando Cláudio nos apresentou, embora alguns franzissem os sobrolhos ou os alçassem, em ar inquisitivo, na sua maioria foram gentis, embora reservados.
A Mulher de Cláudio era uma jovem de sessenta anos chamada Iolanda. Tinha um ar muito alegre, menos sardas que ele e usava tecidos mais vistosos e coloridos. Fez-me sentar e serviu-me algo quente, parecido com chá, mas com uns aromas tão maravilhosos e misteriosos que era como se eu estivesse a tomar uma tisana de miosótis e violetas.
Ao fim de algum tempo, atrevi-me a lembrar a Cláudio que ainda não me tinha contado o resto da história. Iolanda riu-se com gosto e comentou: “Todos achámos muito engraçado quando vimos o desafio lançado on-line, para os humanos escreverem uma história com tais características!” – e a sua gargalhada era fininha e fresca como um fio de água saltitante – “Embora ficássemos horrorizados com os nomes escolhidos!”
“E a história do sapato nº.32?” – perguntei…
“Bem, há um fundo de verdade nisso” – disse um outro gnomo, aproximando-se. “Sou o Anton” – afirmou, quando viu o meu ar de curiosidade.
“Quando o Cláudio quis casar, tinha havido uma inundação na floresta e todos os cogumelos desabitados estavam em péssimo estado. Como a Iolanda e ele tivessem pressa, para aproveitarem uma lunação favorável, improvisaram um “apartamento temporário” num sapato nº.32 que tinha pertencido a uma criança… até conseguirem remodelar um cogumelo gigante que actualmente à a sua casa”.
“Uma criança?” – perguntei, curiosa.
“Sim, uma menina que há muitos anos costumava visitar-nos. Vinha brincar connosco e com os animais, as flores e as borboletas… “
O meu coração começou a bater. “Como era ela?” – perguntei, num fio de voz…
“Era uma menina com longos cabelos castanhos e olhos ternos. Era tão calma que nem parecia humana, brincava a cantar suavemente e até os animais se aproximavam para ficar junto dela.”
“Posso ver o sapatinho?”
“Claro, ficou no jardim de Cláudio e Iolanda, para que sempre se recordassem dos seus primeiros tempos…”
Iolanda servia mais chá, mas eu levantei-me e gritei: “Venho já!”

Corri até casa seguida por um Lucky espantado mas divertido com aquela noite tão movimentada e entrei pela janela. Ajoelhei-me junto à velha arca de cânfora, que rangeu quando abri a tampa… de dentro, retirei um sapatinho de criança que não tinha par.

Quando cheguei de novo à clareira, Cláudio recebeu-me em festa. Eles sempre tinham sabido quem eu era, só eu precisava de me recordar! Até quase ao nascer do Sol, cantámos e dançámos… Depois, Cláudio acompanhou-nos até à janela.

De manhã, quando acordei, junto a mim estava um sapatinho de criança. Não querendo acreditar, e pensando que tudo não teria passado de um sonho, agarrei o sapatinho azul e olhei para dentro: meio sumido, ainda se conseguia ver o número: 32!
Lucky, ainda com terra seca nas patas, ladrou alegremente.

Isabel do blog Poesia Viva e outros com José António

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Desafio: Os três anões (5)

A Preta de Noite e os Três Anões

A noite caíra na companhia de uma ventania danada e de uns aguaceiros desesperados. Naquela noite, era como se as nuvens parecessem rebentar pelas costuras, tal era a intensidade e a brusquidão do temporal que eclodira. O vento assobiava e a chuva chicoteava as janelas das casas velhas, dando-lhes um ar de derrotadas. O céu negro escondia os mais belos cantos da aldeia, sugando-lhe muita da sua genuína beleza.
A aldeia, de seu nome Dwarfland, tinha o seu próprio encanto, deslumbrava qualquer um que lá entrasse, embora não fossem muitas as pessoas a sujeitarem-se àquele chão. Dizia a lenda, que quem lá entrasse se tornaria um tanto ou nada mais pequeno, anão! Diziam os antigos, que aquele lugar soprava uns pós mágicos que actuavam convertendo os seus visitantes a verdadeiros habitantes daquele lugar magnífico. E a parte mais importante, é que quem entrasse não voltaria a sair. Deveria lutar pela felicidade naquele sítio recôndito…

Nessa mesma noite tempestuosa, disfarçada por entre a escuridão, surgiu Preta de Noite. Era tão negra quanto o céu naquele momento, só o grande chapéu vermelho a fazia distinguir minimamente perante aquele ambiente negro. Em tudo se assemelhava com a noite, não só pela cor, mas também pela sua maneira de falar tão calma. Afinal, a noite é uma boa conselheira e, mesmo em silêncio, parece fazer-se ouvir calmamente.

Preta de Noite, após sofrer a transformação devida, que normalmente desfigura aqueles que lhe estão submetidos, continuava de igual forma bela, respirando encanto e serenidade. À parte de tudo isto, tinha um pé de Cinderela, o seu pequeno sapato 32 oferecia-lhe um toque especial. Aquando da sua transformação em anã, um deles permaneceu com o seu tamanho original. E ali ficou, num canto, ligeiramente sob um arbusto.

Num belo dia de Sol, Preta de Noite passeava pelos caminhos de Dwarfland, acabando por encontrar três companhias que viriam a ser muito especiais. Becas, Bicas e Bocas eram três anões irmãos muito simpáticos. Embora existissem várias semelhanças entre eles, existiam alguns pormenores que permitiam a sua distinção. Becas usava sempre um boné azul garrido com uma bolinha branca de algodão na extremidade. Tal característica dava-lhe um ar muito divertido e conferia-lhe muita graça. Era o que se podia chamar um tipo porreiro! Bicas transparecia uma personalidade vincada e parecia bastante eloquente. Os óculos castanhos colocados na ponta do nariz bicudo era uma marca exclusivamente sua. Passava grande parte do tempo a falar sobre o pai, um anão bastante querido na aldeia, que havia morrido há meses com cento e noventa anos, vítima de uma doença no estômago. Por fim, Bôcas ou Bócas, como lhe queiram chamar, era um super-anão. Saltava à vista o seu tamanho, era o mais pequeno dos três irmãos. Contudo, o que era de salientar era a sua extrema simplicidade e humildade. Foram talvez estes dois aspectos que fizeram com que Preta de Noite se apaixonasse por ele.

Bocas e Preta de Noite faziam um par impecavelmente harmonioso. Desde o dia em que assumiram um namoro, eram admirados por todos os habitantes da aldeia. Afinal aquele lugar parecia ser um óptima escolha para se viver… Tinha uma magia incomensurável, além disso, ser anão significava mais anos de felicidade.

Rapidamente chegou o dia em que ficaram noivos. Foi um dia para colmatar algum espaço do coração, onde não tivesse chegado aquele grande amor. Bocas tinha encontrado a mulher com quem queria ficar para sempre, agora restava-lhe finalmente abandonar a casa onde vivia com os seus dois queridos irmãos. A despedida foi custosa, apesar de não significar grande distância, pois ficaria com a sua noiva em Dwarfland. Bicas mostrava-se cabisbaixo ao ver o seu Bocas partir, Becas apesar da sua maneira tão entusiasta de viver, não conseguia esconder alguma nostalgia antecipada. Bocas, esse, não conseguiu evitar o lencinho branco para enxugar as lágrimas teimosas que surgiam no canto do olho. E, assim, Bocas partiu rumo a uma nova vida…

Bocas e Preta de Noite casaram, envoltos por uma festa maravilhosa na aldeia. Daí em diante, tinham a sua própria casa e partilhavam todos os retalhos das suas vidas, que agora eram uma só. A casa era bela e aconchegante. A chaminé soprava o aroma dos petiscos de Preta de Noite e a simplicidade da morfologia da casa transluziam a personalidade do pequeno Bocas. E assim viveram muito felizes, aconchegados no calor de um sapato número 32.

- Alguma vez eu pensei viver no meu próprio sapato?! – dizia Preta de Noite às gargalhadas.
- Ao menos não pagamos renda!! – respondia Bocas a rir.
Do outro lado da aldeia, Becas e Bicas dialogavam, já mais animados.
- A Preta de Noite calhou na rifa ao Bocas! Será que a Branca de Neve está guardada para mim?! – dizia Becas a rir, com o seu espírito bem disposto de volta.
- Nunca se sabe – respondia Bicas a sorrir.

Patrícia do More Than Words e mais

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Desafio: Os três anões (4)

Os três irmãos anões
Becas Bicas e Bocas
coincidência casados
soltaram amarras
num sapato nº 32
e noutro espaço
pouco importava
a aparência
felizmente
conheceram mundo
e tudo belo
em cânticos de esperança
de voltas e reviravoltas
e de imensa redundância
os anões de aqui hoje
são os homens paz do futuro.

Paula Raposo do Por ti...com os meus olhos e outros

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Desafio: Os três anões (3)

O Bocas resolveu casar e viver com a mulher no sapato nº 32. Os outros irmãos também se casaram e viveram noutros lugares com as suas mulheres e filhos, sempre no nº 32. Curioso.

O que sempre tinha atraído os irmãos Becas, Bicas e Bocas era a ideia de poderem ser felizes mesmo que o resto da população olhasse para eles de soslaio ou até com alguma indiferença.

Estudaram alguma coisa, não muito, pensaram em trabalhar e assim foram sonhando com um futuro.

Tinham 32 anos quando se casaram e 32 anos após, voltaram ao presente e deixaram uma palavra a cada um de nós :'nunca pares de sonhar, porque o sonho mesmo que pareça longínquo ele está aqui a 32 metros de nós...'.

E assim, se desfizeram da fatiota de anões e se envolveram na atmosfera com a felicidade nos seus sorrisos...

Paula Raposo do Por ti...com os meus olhos e outros

terça-feira, fevereiro 17, 2009

Desafio: Os três anões (2)

Bocas

Caminham em fila indiana, pela beirinha do ribeiro, cinco figurinhas miúdas, baixinhas, pequeninas. Tão pequeninas, tão delicadas, que uma brisa, que lhes soprasse, as poderia fazer desequilibrar e tombar sem remédio em direcção ao riacho. Por isso, cautelosamente, a família avança em direcção a uma casinha, num cantinho mais escondido na aldeia dos anõezinhos, que fica na clareira da floresta das magnólias e das hortênsias.
À frente, a mãe guia o seu pequenino rebanho. Atrás, o pai protege-os, orgulhoso da sua prole. O Becas, o Bicas e o Bocas, três destemidos guerreiros (incapazes de fazer mal a um rato), seguem, alegres e travessos, escoltados pelas suas chefias.

Já são uns rapazinhos, não muito criancinhas, mas ainda gostam de brincar às escondidas e à apanhada uns com os outros e, também, aos domingos, com os seus amiguinhos.
O Bocas é o mais pequeno dos três. Não por ser o mais novo, mas porque a sua constituição mais franzina o deixou mais pequeno do que os irmãos. É também este o mais brincalhão e namoradeiro, sempre rodeado pelas mais lindas catraias da aldeia. É engraçado observar as partidas que gosta de pregar às rapariguitas, e que elas, todas sorridentes, não se atrevem a levar a mal, ficando, até, à espera para ver qual é a próxima contemplada com uma maldadezita das dele. Ele gosta de todas elas sem distinção… ah! mas há uma que, aos poucos, lhe vai prendendo mais a atenção.
Coitadito do Bocas!... Quando se acerca das suas amiguinhas, começa a ficar com um apertozinho no coração… e não sabe o que fazer para as tratar todas por igual, pois aquela, para ele, começa a ser muito especial.

Atrás dos seus irmãos, o Bocas vai caminhando mas sem sentir muito o caminho, esquecendo-se de brincar amiúde como é seu costume. Vai um pouco pensativo, dando voltas para encontrar uma maneira de descalçar aquela bota, antes de arranjar um trinta e um.
Pois… magicava ele, para com os seus botões, que se não conseguir mudar a situação, um dia ainda haverão de começar a contar assim a sua história:
"Era uma vez um anão que teve três filhos, o Becas, o Bicas e o Bocas. Este último era tão pequeno, mas tão pequeno, que quando casou foi viver para dentro de um sapato número trinta e dois!"

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Desafio: Os três anões (1)

Era uma vez um anão que teve três filhos: O Becas, o Bicas e o Bocas. Este último era tão pequeno, tão pequeno que casou e foi viver dentro de um sapato nº 32. Seria no 34?... 36?... Humm deveria ser por ali, bateu, ninguém atendeu. Esperou, esperou... porém a chuva caia, quase desistia mas insistiu, alguém de dentro perguntou: Quem era, e Bocas respondeu "já Bocage não sou" em jeito de brincadeira, lá de dentro não acharam graça, nem piada, nem era isso que estava em causa, um disparate diziam uns, passou-se diziam outros, divagações concordavam em uníssono! Adiante. A porta abre-se, de par em par, o som de festejos, brindes, e o tilintar. à mistura, os risos, e a música a sobrepor-se a tudo. Entra e abraça a Noiva! O casamento seria ali. Ali mesmo na Graça, na Capela da Nossa Senhora do Monte, com bela vista, um miradouro e ao longe espraiava-se o Tejo e a cidade subia o horizonte. Percorriam-na. Beberam mais um copo e desceram para Alfama, com um banda e fanfarra, era dia de festa, de celebração de casamento! Bocas já ébrio, dançava ao som das ruas, do eléctrico 28, das gaivotas, da cadência das gotas na calçada. Seguido dos milhares de convidados e de sua esposa, que atrás de si rodopiava e dançava, com as suas sete saias de nazarena, multicolorida, e farfalhuda, espalhava a alegria! Todos em Êxtase e euforia! Aproximavam-se do rio, do cais e do cacilheiro, embarcavam rumo à felicidade, ao seu destino alegre e ao Barreiro. Tornaram-se nómadas, deixaram o sapato. Bocas inchou, o físico e o Ego, cresceu, aumentou e quase rebentou. Tornou-se um belo rapaz, prosseguiram caminho sem os convivas, em direcção ao sul, ao sol, ao calor e perseguiam o amor, seguiram a migração dos pássaros, mergulhavam com os golfinhos, fez-se príncipe encantado, pelo caminho fabricavam ninhos, perderam-nos de vista assim que cruzaram o Sado...

João Cruz do apontamentes

domingo, fevereiro 15, 2009

Desafio: Os três anões - pré-publicação

Queridos amigos, amigos silenciosos e visitantes ocasionais,

Começará amanha a publicação das respostas ao desafio dos três anões, que pretendia que escrevessem (em prosa, ou não) seguindo a frase ou ideia:

"Era uma vez um anão que teve três filhos: O Becas, o Bicas e o Bocas. Este último era tão pequeno, tão pequeno que casou e foi viver dentro de um sapato nº 32."

O objectivo deste desafio era, para além de colocar as pessoas sobre um "assunto" comum, era "desconstruir" a lógica do pensamento, escrevendo sobre algo que não faz muito sentido. E, apesar de me ter dado conta que não foi a melhor altura para lançar este desafio, porque foi tempo de testes e exames, chegaram várias respostas ao desafio. Algumas até de pessoas que nem conheciam o Ticho mas tiveram conhecimento do desafio através de divulgação. Quero deixar desde já o meu agradecimento a todos os que embarcaram comigo e responderam a este desafio. Obrigada pela dedicação, pela companhia, pelo esforço e pelo gostar conjunto pela escrita.

A publicação dos textos acontecerá de forma semelhante à publicação do desafio "Rai's parta os sapos": Será publicado um texto por dia, seguindo uma lógica de chegada, para que todos possam aproveitar cada estória. De notar que o conteúdo e forma dos textos são da inteira responsabilidade dos respectivos autores.

Quem acompanhou o primeiro desafio sabe que, embora comece a publicação já amanha, aceitarei textos até ao dia em que publicarei o meu texto, que será o último (não sendo isto um concurso, faz todo o sentido que não feche as portas a ninguém!). Por isso fica aqui o convite a quem ainda não teve tempo ou oportunidade de escrever, têm ainda uns diazinhos para mos enviarem...

Conto com a vossa companhia na leitura dos textos, assim como que para a publicação dos mesmos.

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

No Parlamento

O reforço da protecção às vítimas da violência doméstica esteve ontem em debate no Parlamento: 32 mulheres morreram nos primeiros oito meses de 2008.


Para discussão no plenário foram agendadas uma proposta de lei do Governo e projectos de lei do CDS-PP, Bloco de Esquerda, PCP e PSD, sendo que a iniciativa do Executivo visava estabelecer o regime jurídico aplicável à prevenção da violência doméstica e à assistência das vítimas.

Os projectos de lei são também no sentido de conferir maior protecção às vítimas, quer através da alteração do artigo 152 do Código Penal (que prevê e pune a violência doméstica), quer pela alteração do regime de apoio ao acolhimento familiar, conforme propõe o PSD.

"A presente lei procura dar uma resposta ao nível da política social, unificando, pela primeira vez no ordenamento jurídico nacional, o acervo normativo relativo a esta problemática", diz a proposta do Governo.

Para o efeito, estabelece-se, "pela primeira vez, a configuração do "estatuto de vítima" no âmbito da violência doméstica que consagra um quadro normativo de direitos e deveres, não apenas no âmbito do processo penal, mas também no contexto laboral, social e de acesso aos cuidados de saúde de forma adequada".

Consagram-se ainda soluções jurídico-penais dirigidas à protecção integral da vítima, avultando a natureza urgente dos processos de violência doméstica, a criação de medidas de coacção urgentes (aplicáveis nas 48 horas subsequentes à constituição de arguido) e a consagração da protecção da vítima e das testemunhas durante a recolha de meios de prova e no âmbito da audiência de discussão e julgamento, promovendo o recurso à videoconferência e à teleconferência.

O projecto-lei do PSD visa alterar o regime de apoio ao acolhimento familiar, reforçando as medidas de assistência e protecção às vítimas de violência doméstica.

O projecto-lei do PCP propõe o "alargamento do conceito de violência sobre as mulheres" e "a responsabilização do Estado na criação de uma rede institucional de apoio às mulheres vítimas de violência".

Propõe ainda a instituição de uma Comissão Nacional de Prevenção e de Protecção das Mulheres vítimas de violência, à semelhança do que acontece com a Comissão Nacional de Protecção às Crianças e Jovens em Risco.

Para o CDS/PP, é "urgente" fazer reflectir na lei a "especial censurabilidade e perigosidade social" que a violência doméstica merece, tendo em conta o seu "carácter coercivo e o drástico aumento da sua incidência".

O projecto do CDS/PP refere que a violência doméstica "não deve ser tratada como pequena criminalidade", pelo que propõe "o aumento de 5 para 6 anos dos limites máximos das penas aplicáveis às formas mais comuns" deste crime.

Já o Bloco de Esquerda (BE) propõe que "o crime continuado deixe de abranger os crimes contra os bens eminentemente pessoais, o que terá efeitos ao nível da pena".

"Entendemos que essa será uma boa forma de proteger as vítimas não só de violência doméstica, mas também de crimes como o abuso sexual de menores ou de maus tratos", diz o projecto do BE.

(Notícia Expresso)

[Um pouco tarde, não? Quantas mortes já podiam ter sido evitadas?]

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Ir e lutar...


Existem dias que tudo parece que desaba, como terra a cair pela serra abaixo, em dias de temporal. Existem chapadas que nos atingem, pontapés que avançam mesmo não tendo a certeza da sua direcção ou procedencia. Vêm e atingem-nos com tanta força que nos fazem dar voltas e reviravoltas sobre nós mesmos, duas ou três vezes. Queremos apenas fugir do centro do circulo viciado que apenas roda ao nosso redor. Tentamo-nos enconder sobre nós próprios, resmungamos, choramos... Vem a dor e a furia de quem não esperava por tempestade na primavera. Mas ela vem... E se não queremos apanhar chuva, há que aprender a abrir o chapéu-de-chuva.

Depois de acordar com estalos de realidade, há que aprender a lutar, dar resposta aos ataques e depois seguir em frente. Mazelas? Existirão ou não, mas essas apenas ensinar-nos-ão a estar mais atentos. Ensinar-nos-ão a ser desconfiados, e preparados para o que pode vir. Depois de lição aprendida e de fazer os trabalhos de casa, faço a mala e vou, caminhando... Rapido? Não sei, mas quem sabe o que acontecerá amanha? A vida é feita de improvisos... E eu tornar-me-ei actriz desses improvisos. Faço a mala, calço os sapatos, levo o chapéu-de-chuva e estou pronta para a luta do caminho... Poderei caminhar sozinha, poderei caminhar acompanhada, mais depressa ou devagar, dependendo das inclinações, mas caminharei com passo firme. Desistir e voltar para trás? Não quero, não vou.... Cair, todos caimos, mas a verdadeira sabedoria é saber sempre levantar.

domingo, fevereiro 08, 2009

O tamanho do Universo...

«Um dia, uma criança chegou diante de um pensador e perguntou-lhe: "Que tamanho tem o Universo?" Acariciando a cabeça da criança, ele olhou para o infinito e respondeu: "O Universo tem o tamanho do teu mundo."

Perturbada, ela indagou novamente: "Que tamanho tem o meu mundo?" O pensador respondeu: "Tem o tamanho dos teus sonhos."»


(in Nunca desista dos seus sonhos, Augusto Curry, Pergaminho)


Hoje é o teu dia Sofiiinha, sonha e constrói.

Parabéns minha querida!

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Desafio: Os três anões (parte 2)

Já começaram a chegar as primeiras respostas ao Desafio dos três anões, e que bom que é! Relembro que a ideia é escrever sobre a ideia:

"Era uma vez um anão que teve três filhos: O Becas, o Bicas e o Bocas. Este último era tão pequeno, tão pequeno que casou e foi viver dentro de um sapato nº 32."

Este é um desafio que pretende colocar-nos a escrever, puxando pela imaginação para uma situação menos lógica. A criatividade é algo que se trabalha, desconstruindo a lógica que tentamos sempre colocar em tudo. Esse é o objectivo: construir desconstruindo.


Este desafio está também a ser acompanhado, à distancia, por algumas pessoas com interesse sobre escrita... Estou expectante com o resultado. Fico a aguardar as respostas ao desafio para o email catiaazenha@gmail.com até dia 15 de Fevereiro. Dia 16 de Fevereiro iniciarei a publicação dos textos no blog Ticho.


Conto com a vossa participação e divulgação.

domingo, fevereiro 01, 2009

Hoje... foi assim

Existem sentimentos,
que são sentidos...
Existem palavras,
que são ditas...
Existem gestos
Que são tidos...
Existem momentos,
que não explicamos.

Hoje... foi assim,
Momentos,
sentimentos,
Palavras e gestos,
Num intenso partilhar,
Com a certeza do gostar
Na confirmação do olhar.

CA