domingo, novembro 30, 2008

Lançamento Mares d'Alma

Amanha será o lançamento do livro Mares d'Alma. Este é um livro que surgiu do sonho de criança de Elsa Sequeira e que amanha torna-o realidade. Eu, que soube há um ano atrás a sua intensão, estarei amanhã com ela a celebrar esta realização. O lançamento é amanhã, dia 1 de Dezembro, na Junta de Freguesia do Retaxo, concelho de Castelo Branco, às 18h30.

Para este dia ajudei tambem a Elsa na organização da propria festa com algumas ideias, com powerpoints que irão ilustrar e complementar todo o lançamento, escolha de músicas, etc. Foi bom poder ajudar na realização de um sonho...

E como esta ajuda não era suficiente, a Elsa pediu-me para ir ler (para não dizer declamar, porque parece-me muito formal) um poema. E pronto... Lá estarei eu a ler "A mansão do silêncio"...


Desejo à Elsa a maior sorte para este projecto, e deixo também o convite para quem quiser passar amanhã no Retaxo para conhecer o Mares d'Alma, a Elsa, a mim, e outros amigos da blogosfera que já confirmaram a sua presença.

sexta-feira, novembro 28, 2008

Numa fugida...

Está na hora! O sol já vai baixo e é tempo de partir… Sim, não é que tenha hora marcada, mas não gosto de dar margem de erro… Deslizo entre as árvores, com aquela armadura que me protege o corpo, e com a astucia que me protege a armadura… Olhos bem abertos, sentidos apurados. A espada preparada para qualquer eventualidade, é a extensão dos meus membros. Atravesso florestas, pontes, subo e desço montanhas… Vou e aproximo-me devagar… Sei que não espera por mim, gosto de ver a surpresa nos seus olhos. Aparecerei de repente… Grito o teu nome para que olhes para trás e me vejas a aproximar… Corro e… Cais nos meus braços. O amor vem ao de cima, e não existe armadura que lhe resista.

Sete horas da tarde e um calor escaldante, tenho que me despachar, o Asdrubal deve estar a chegar a qualquer momento. Levanto a viseira, limpo as gotas de suor, sim, isto da porra das armaduras faz um calor do caraças, e retoco a maquilhagem, uma coisa suave, para que ele ache que é a minha beleza natural. Mantenho-me abrigada debaixo da nogueira grande, por trás do roseiral, enquanto ele se aproxima do ribeiro seco. Gosto de o observar e chegar de surpresa, pé ante pé.Mas… gritam pelo nome dele, não sou eu… espreito entre os espinhos das roseiras… uma flausina corre para ele gritando o seu nome. Não sei que feitiço lhe lançou, mas vejo o terror nos seus olhos antes de cair. Está em perigo… meu pobre amado, irei em teu auxilio Asdrubal da minha vida…“Aguenta-te meu amor!!!” Grito já de espada em punho correndo na direcção deles e o meu pobre amorzinho que recuperava, olha na minha direcção e com a emoção volta a perder os sentidos…

Depois de me cair nos braços e de desmaiar de emoção, vem de lá uma outra mulher, toda esborratada de maquilhagem, armada em fina, como se não desse para se perceber que aquilo é tudo falso… até botox! Com a armadura ainda pode pensar que passa por verdadeiro, mas eu bem sei!! Ele, volta a desmaiar, deve ter sido de susto… Mas quem não desmairia ao ve-la a aproximar-se daquela maneira? Antes de desmaiar, ouço um “ai meu Deus”. Para boa entendedora, sei que se trata de um pedido de ajuda… Pego-lhe ao colo, monto no cavalo e vou… fujimos como que de um dragão em chamas se tratasse…

"Aguenta-te meu amor!!!" Volto a gritar. Voando na direcção deles e é nesse momento que a flausina monta o seu burro e o arrasta pelo chão atrás dela. Tudo para me sacar um resgate certamente. Meu pobre amor… não deixarei que sofras nas mãos dessa tirana desbotada. Assobio com classe ao meu trovão, um belo e reluzente cavalo negro, que num segundo se coloca a meu lado. Monto o trovão e num segundo estamos em cima deles. Como pode ela ter pensado (?) que me escapava em cima daquele andrajoso daquele burro e com o Asdrubal agora que recuperara novamente os sentidos, a querer claramente fugir. Eu sei que o Asdrubal é delicado, sensível, mas é também tão forte o meu amor… aiaiiii

Olho para trás e lá vem ela montada num cavalo preto que mais parece um boi a bufar por tudo o que é lado… Deve ser do peso! Ele, agora já acordado, grita qualquer coisa que não percebia o quê pelo barulho… Estava a pedir-me para que fosse mais rapido, só podia ser essa a razão. Os meus anos de aulas de equitação teriam que servir para alguma coisa… Acelerei, curvei e fui… até me perder de vista.

Vou-vos dizer, voou! A bandida voou para longe depois do soco que lhe dei a meio dos olhos. Creio mesmo que deve ter perdido a vista. (bondade minha, assim ganha umas corzinhas e durante um tempo está poupada de ver aquele ar desenxabido…). Comigo é assim, sou uma lady, mas se mexem com o que é meu, ui, ninguém me segura muito menos aquela pirralha desbotada armada em gente.Mas a minha preocupação estava com ele, meu pobre amor… estava traumatizado, via-se… olhava em volta ainda em desespero, mas estava já seguro, enlaçado nos meus braços fortes.

Era uma besta! Fugi, corri, desviei, mas a verdade é que veio atrás e deu-me um murro! Foi aí que eu tive a certeza… Não era botox, aquilo era homem! A maquilhagem era apenas para disfarçar a barba mal aparada e a armadura era para esconder o que não queria mostrar…

“É um homem!”
“É um homem!” Gritava a lingrinhas descabelada já sem a parte de cima da armadura. Despudorada! “Claro que é um homem” Berrei-lhe de volta, estava quase capaz de a fazer lamber o fundo ao tacho outra vez. “É um homem e é meu!” Acrescentei. E foi nesse momento. Foi nesse momento que o meu Adrusbal desatou a correr em direcção ao riacho. Fugia de nós como o diabo da cruz… estava traumatizado coitadinho…

Vi, com os olhos ainda entre abertos, o Asdrubal a correr em direcção ao riacho.. Olhei para ela… Ela olhava intrigada. Desatamos a rir… Foi naquele momento que uma cumplicidade veio ao de cima. Passaram 5 anos e ainda estamos juntas, num amor que apareceu de forma inesperada…
Do Asdrubal, tivemos apenas a noticia que tinha tambem virado gay e que vivia tranquilamente para os lados da montanha.

Demorei ainda uns minutos até me cair a ficha. A deslavada ainda não tinha percebido, olhei para ela em jeito de: dahhhhh, e foi aí que desatamos às gargalhadas.Ele há coisas engraçadas nesta vida. Não é que a sacana me conquistou? A sério. Lingrinhas, deslavada e fracalhota… mas pronto, não resisti. Deve ser por causa do meu instinto protector, quase maternal…O que vos sei dizer é que estamos juntas até hoje… o Asdrubal? Bem, o Asdrubal está a viver com o abominável homem das neves desde esse dia. Foi para lá que fugiu, tal era o medo do cobardolas!

Cátia e Marta


Estes foram os comentários a este texto, mas que viraram estória. Obrigada primota, gosto imenso de viajar contigo neste mundo de fantasia...

terça-feira, novembro 25, 2008

Uma noite especial...

Descobri um tesouro, um video que mostra um dos dias mais marcantes para mim... Música de despedida de uma casa que me marcou, uma casa que me viu crescer e que cresceu connosco... Os primeiros alunos de uma faculdade são sempre quem marca a diferença e nós sentimos essa responsabilidade, a responsabilidade de sermos o exemplo, a responsabilidade de carregar o simbolo da Universidade Católica Portuguesa mas principalmente o simbolo de uma nova faculdade que precisava crescer com valores.

Partilho convosco este video, a música foi cantada para nós, finalistas, no dia de entrega de diplomas.



quinta-feira, novembro 20, 2008

Jantar dos Sem Abrigo - Formação e Campanha 2008

Falei aqui há duas semanas sobre a possibilidade de ir participar no Jantar de Natal dos Sem Abrigo de Lisboa. Pois é, inscrevi-me a mim, à minha mãe, puxei pela Catarina, que puxou por outra amiga, que está a tentar inscrever outra amiga. Na terça-feira (depois de ir buscar o meu popo novo), lá nos encontramos as 5 à hora combinada. Depois de percorrer a cidade universitária toda (que para mim mais pareceu que percorremos a cidade de Lx toda) com um frio tremendo (e quem me conhece sabe que casacos não é comigo), lá chegamos. E logo recebemos a informação: as inscrições estão fechadas e esgotadas!

Entrámos e a sala cheia. Sentámo-nos e começámos a ouvir os números: inscrições de voluntários deste ano: 1000; convidados do ano passado: 2680. O meu primeiro pensamento foi: tantas pessoas que moram nas ruas da cidade e nem damos conta... Passaram então a explicar que iam haver 20 áreas de trabalho, embora algumas não estejam a recrutar voluntários, tal é a sua especificidade.

Para além de ser "apenas" um jantar de Natal, que dura 3 dias, tem uma missão muito mais alargada que nem sempre é mencionada: Tentativa de retirar pessoas da rua. Existem 2 áreas fundamentais na festa: "Espaço aberto ao diálogo" e "Motivação" que pretendem dialogar, dar a conhecer a Comunidade Vida e Paz e tentar de alguma forma dar um primeiro passo para o encaminhamento para ingressarem no caminho da saida da rua. Do ano passado 163 estiveram no Espaço aberto ao diálogo e 18 fizeram o caminho. Como disseram e fizeram passar a mensagem: "Mesmo que fosse apenas 1 já teria valido a pena!".

Entretanto deram-nos a conhecer a Campanha deste ano que está em curso mas que, ao contrário do ano passado, não está a ser convenientemente divulgada pelos média.

Este Natal não olhe só para o exterior... Pequenas Peças, Fazem Grandes Diferenças!
Campanha de Angariação de Roupa Interior para os Sem Abrigo de Lisboa
Comunidade Vida e Paz

Este Natal não olhe só para o exterior... Pequenas Peças, Fazem Grandes Diferenças!Objectivo – angariar 10.000 peças de roupa interior novas - meias e cuecas - até dia 19 de Dezembro!

Para quem estiver interessado em aquecer os dias e as noites... A Roupa Interior - cuecas e meias - deverão ser entregues ou enviadas para:

Campanha – Pequenas Peças, Fazem Grandes Diferenças, Comunidade Vida e Paz
Rua Domingos Bom tempo, nº 7
1700 – 142 Lisboa


Fico a contar com a vossa participação... E nos dias 19, 20 e 21... lá estaremos nós a ajudar!!

quarta-feira, novembro 19, 2008

Desejo de felicidade...

Hoje venho escrever umas palavras para uma amiga, uma amiga do Ticho há mais de 1 ano e meio (não consegui descobrir o primeiro comentário, nem como nos encontrámos neste mundo, mas o primeiro comentario que descobri aqui data 4 de Abril 2007).

Estivemos presentes em momentos bons e menos bons (e existiram alguns, não foi?). Se calhar nunca estive tão presente nem tão próximo como poderia estar, é verdade... Mas é também verdade é que nos vamos acompanhando de forma mais ou menos constante.

Esta amiga está a passar agora momentos de grande felicidade, e dei por mim a ficar feliz, muito feliz com a sua felicidade... Isto não é amizade? A data estava marcada, lembrei-me alguns dias antes, no dia e alguns dias depois, tentando ter notícias. As notícias chegaram e sente-se agora, em cada palavra, uma felicidade que tranparece.

Sei que estamos presentes de forma apenas virtual, mas como costumo dizer, existe alguém bem real do outro lado do ecran, alguem com sentimentos e emoções e que é tocada por tudo o que lhe oferecem, mesmo apenas através de palavras... Torço por ti querida, desejo-te, de forma muito sincera, as maiores felicidades do mundo, e que depois de algumas curvas, vás agora directo à felicidade. Nem tudo são rosas, existirão também alguns momentos menos agradáveis, mas que tudo seja tido como uma forma de crescer.

Estas são apenas mais algumas palavras, uma carta aberta aqui no meu sitio. Eram para ter vindo para aqui há um mês atrás, mas não vieram, talvez porque achasse que não chegariam a ti, nessa altura... Mas hoje termino com algo que acho que nunca te disse, mas é sincero: Gosto muito de ti.

terça-feira, novembro 18, 2008

Já sou crescida...

Quando sabemos que estamos crescidos? Quando começamos a votar? Quando acabamos um curso e começamos a trabalhar? Pois bem, as ultimas semanas têm sido uma loucura de uma até saborosa... Agora sinto-me que estou a ficar crescida (ok, não me refiro ao tamanho...) em responsabilidade... Sinto-me crescida e tenho "forçado" a que os outros me vejam assim...

Comprei um carro novo, um carro meu, que tenho a obrigação de pagar nos próximos anos. Fui eu que tratei de tudo sozinha, desde a visita aos stands, escolha do carro, do modelo, test drive, pedidos de simulação de financiamento, negociação do financiamento, pedido de simulações de seguros, negociação (ok, aqui tive ajuda da minha mediadora...), etc. E... daqui a umas horas vou busca-lo.




Vamos dar uma volta?

sábado, novembro 15, 2008

Parabéns...



Hoje queria dizer-te mil palavras, felicitações que tantos já te disseram... Hoje deixo uma música que já assistimos juntas e ao vivo... Uma musica especial que gostas e que te toca...

Ao som desta música digo que gosto muito de ti, daquela mulher louca e uma menina doce que aprendi a conhecer e a gostar... muito! Parabéns Plim!

quinta-feira, novembro 13, 2008

Coração precioso...

Todos na rua conheciam a D. Esmeralda, que apesar de saberem que não era esse o seu verdadeiro nome, todos a tratavam assim. Era um doce de senhora para todos, e por isso muito respeitada também. D. Esmeralda enviuvou muito cedo, e criou, sozinha, filhos muito jovens ainda e três filhos que veio a adoptar depois. Apesar da idade, a D. Esmeralda era uma pessoa linda, com os seus cabelos cinzentos sempre bem penteados, com as suas leves rugas que lhe desenhavam a cara, e com aqueles olhos verdes cheios de ternura.

No bairro onde morava, a porta de sua casa sempre foi uma porta aberta para todos. Todos os dias, a D. Esmeralda colocava sete pratos na mesa, cinco para os filhos, um para si, e um ficava de sobra, porque haveria sempre alguém com fome para alimentar. A comida nem sempre era muita, mas com boa vontade, aquela que sempre teve, juntava um pouco mais de água, mais uma batata ou uma cebola, e lá havia um pouco mais de sopa.

Com algum esforço terminou o curso e tornou-se enfermeira no hospital da zona. O seu trabalho sempre foi conhecido e reconhecido por todos, mas o que lhe era mesmo reconhecida era a bondade com que encarava a vida. Muitas eram as vezes que entravam pessoas doentes no hospital, mas que ela reconhecia no olhar que apenas precisavam de um agasalho e de um prato de sopa quente, e meia hora depois, a maleita estava curada, pelo menos até à próxima noite fria.

Numa noite de frio intenso, a meados de Dezembro, entra José Afonso pela porta das urgências, com o seu pequeno filho Gonçalo nos braços, depois de ter sido atropelado por um carro que se pôs em fuga. José Afonso era um dos homens mais ricos da cidade, tinha várias empresas na região e era homem de muitos contactos internacionais. Era um homem respeitado, admirado, mas também temido, tal o seu poder. A sua entrada ali era de todo inesperada, mas não havia tempo para surpresas, o pequeno Gonçalo precisava de ajuda e atenção urgente.

Rapidamente uma equipa de médicos e enfermeiros correu em seu socorro, levando de imediato o pequeno rapaz para a sala de observações. Alguns exames, radiografias, TAC’s e foi levado para o bloco operatório. Gonçalo corria risco de vida e ia ser sujeito a uma longa operação que iria entrar pela noite fora, e que iria ser certamente a noite mais longa de José Afonso.

A D. Esmeralda, que estava de serviço nessa noite, e apesar dos muitos utentes que atendia, tinha sempre uma atenção para os que a rodeavam, e para os que mais precisavam. Naquela noite, tinha ali na sala de espera aquele homem imponente e rico, em sofrimento. Naquela noite, era ele que precisava de um pouco de ajuda. Apercebendo-se da sua aflição, foi informar-se sobre o estado do menino e foi até a sala. Sentou-se na cadeira ao lado de José Afonso, que anestesiado pela dor e preocupação, não se apercebeu da sua chegada. Ela colocou a sua mão sobre o sobre o ombro e sorrindo, tentando passar alguma serenidade, disse-lhe que a operação ainda iria demorar, mas que iria correr tudo bem. Ele olhou-a com surpresa, mas depois encontrou ali, naquele gesto, naquele, naqueles olhos verdes e tão verdadeiros, o carinho, a paz e a confiança que precisava. Ela ficou ali em silêncio mais 5 minutos junto dele, depois teve que voltar ao serviço. As visitas aquela sala foram frequentes durante aquelas horas.

As horas foram passando e no inicio do dia, houve noticias. A operação tinha corrido bem, mas as próximas 48 horas eram fundamentais para o desenvolvimento do estado de saúde da criança. D. Esmeralda ouvia atenta estas palavras que o Senhor Doutor transmitia, do outro lado da sala a José Afonso. Depois do médico ter voltado para dentro, José Afonso virou-se e encontrou, lá ao fundo, aqueles olhos que o observavam como a mesma serenidade e verdade do início da noite. Ela sorriu-lhe e desejou-lhe um bom dia, estava de saída para casa. Ele ainda tentou dizer-lhe alguma coisa, mas antes que o conseguisse, já a senhora tinha saído pela porta.

O dia foi passando e não havia novidades do Gonçalo. Ele estava ligado às máquinas e não havia meio de acordar. José Afonso, desesperado com a situação, e abatido pelo cansaço, decidiu ir caminhar um pouco para apanhar ar. A noite estava particularmente fria, mas isso não o importava. Foi andando sem pensar em nada, mas com um turbilhão de sentimentos no coração. Uma rua atrás de outra, virando aqui e ali, e indo sem destino… De repente ouviu, de uma forma quase silenciosa, uma voz que lhe pareceu familiar. Olhou um pouco mais em frente e viu a D. Esmeralda a sair de sua casa. Ia precipitar-se para ela, quando algo o fez parar, e ficou apenas a observá-la.

A D. Esmeralda transportava consigo algo enrolado que parecia um cobertor. Atravessou a rua, seguiu uns 100 metros mais a frente e foi entregar aquela manta a um homem, que se encontrava por ali deitado, meio enrolado no meio do frio. Naquele momento, ao observar aquele momento e no meio de tantos sentimentos que trazia, José Afonso começou a chorar. No seu íntimo, tinha considerado inicialmente aquela senhora como apenas mais uma profissional, que apenas estava a ser simpática porque o reconhecera, mas ali estava a prova da sua generosidade…

Quando D. Esmeralda regressava para casa, ele escondeu-se nas sombras da noite para não ser visto, não queria que de alguma forma ela fosse surpreendida depois daquele gesto tão pessoal e doloroso, por se confrontar com a realidade daquele homem ali deitado. Depois de ter entrado em casa, José Afonso voltou para o hospital, mas aquela imagem marcara-o.

Os dias foram passando, e felizmente o pequeno menino acordou e foi recuperando melhor que o esperado. Dois dias antes do Natal, estava recuperado o suficiente para ir para casa. Aquele Natal foi de comemoração intensa naquela luxuosa casa, presentes e mais presentes, comida, doces, e tudo o que tinham direito, naquele momento de felicidade.

Mas aqueles dias passados no hospital, aqueles gestos da D. Esmeralda não foram esquecidos. Assim que pararam as chuvas, começaram as obras de um empreendimento junto aquele bairro, que ninguém conseguia perceber a que se destinava. As dúvidas surgiam, muito se questionava, mas as respostas não chegavam.

Um dia, no inicio do tempo frio, tocaram a porta da D. Esmeralda. Como era hora de jantar, não era de estranhar que fosse algum “convidado” para uma sopa quente. Quando abriu a porta, viu do lado da porta, alguém que não esperava: José Afonso. A surpresa era grande, não poderia sequer imaginar a razão para tal visita. Depois de entrar, José Afonso informou que um ano antes tinha estado ali, naquela rua, e que ela tinha-lhe ensinado o que era a generosidade, o que era dar. E principalmente ensinou-lhe que se pode dar sempre, mesmo quando não se tem muito. Mas quando se tem, deve-se dar ainda mais, porque nunca se sabe quando se virá a precisar também. Durante aquele ano, ele tinha mandado construir um centro de acolhimento para sem abrigos, e vinha ali pessoalmente para lhe agradecer e para lhe pedir que ela fosse madrinha daquele centro.

Ela ouvia-o incrédula mas feliz e aceitou, quase sem palavras, apadrinhar aquela causa que lhe era tão querida. Minutos mais tarde, quando ele se dirigia para a porta, voltou-se para ela, aproximou-se e deu-lhe um abraço. Ela confortou-o nos seus braços, a experiência tinha-lhe ensinado a importância e o significado daquele gesto. Depois, ele disse-lhe: Sei porque todos lhe chamam Esmeralda, porque para além de ter esses olhos verdes que brilham no escuro, tem um coração precioso!

CA.

Este foi o meu conto enviado para a Crioestaminal na sequência do projecto CrioNatal 2008, com contributo para a Casa do Gil. Outros cinco contos foram enviados por amigos do Ticho. Um deles encontra-se aqui.

segunda-feira, novembro 10, 2008

Deixo-te um Jasmim...

Hoje queria dizer-te muita coisa... Hoje queria dizer-te que confio em ti como confio em poucos nesta vida... Hoje queria dizer-te que a nossa Amizade é especial, e que perdurá para além do tempo e do espaço... Hoje queria dizer-te que me preocupo contigo, como me preocupo comigo... Hoje queria dizer-te que és importante para mim e que é muito importante ter-te na minha vida... Hoje queria dizer-te que tive medo, um medo terrível de te ver sofrer ou até mesmo de te perder... Hoje queria dizer-te que gosto muito de ti... Hoje deixo-te um Jasmim, e deixo que o seu perfume fale por mim...

quinta-feira, novembro 06, 2008

Voluntariado?

Certamente que se lembram da campanha que houve o ano passado da Comunidade Vida e Paz, sobre "junta a tua meia a minha", no sentido de juntar meias para os sem abrigo. Referenciei aqui e participei, na medida do que me foi possível. No início de Dezembro o armazém foi assaltado e todos os bens foram roubados: as meias e os bens alimentares e outros a distribuir no Jantar de Natal. Fiquei triste na altura, já que a minha ajuda tinha sido em vão, mas não baixei os braços: fui ao supermercado, comprei bens alimentares e fui entrega-los pessoalmente.

Na altura, embalada pela onda de solidariedade, falei com os meus pais, que também contribuiram com bens, em participarmos como voluntários. Estavamos os três de acordo, no entanto, já haviam mais de 1500 voluntarios inscritos, e a formação já tinha sido dada, e por isso não podemos ajudar. A verdade é que fiquei com esta história na cabeça todo o ano, e agora em Outubro fui ao site e estão a receber os voluntários. Falei com os meus pais e estão dispostos a alinhar, como combinado desde o ano passado.

A verdade é que ainda não nos inscrevi... É muito facil falar e mais dificil de concretizar. É facil escrever aqui sobre pobreza, sobre sem abrigos, e como tantos outros temas que tenho escrito, e acho que todos podemos fazer um bocadinho para ajudar, mas... Há sempre um mas. Os sem abrigo são quase considerados por todos como "paisagem da cidade". Vamos na rua, vemos um, desviamo-nos, como desviamos de um sinal ou de um buraco, e seguimos em frente. Não os queremos ver! Mesmo quem diz que sim, mesmo quem fala no assunto, como já foi aqui falado. E trabalhar para eles, é "ter que" ver, "ter que" ter contacto com a realidade que é dura e por vezes mais cruel do que se imagina...

Estou a adiar a inscrição, embora não o possa fazer por muitos mais dias... Mas acho que no fundo há algum receio da minha parte, algum desconforto... Não é tão melhor andar num bom carro, com roupas de marca, e andar a comer em restaurantes? É verdade... Mas acho que está na hora de passar das palavras à realidade.

Alguém me acompanha? Vamos numa de fazer algo pela comunidade e tomar consciência da realidade?

domingo, novembro 02, 2008

Presente de Aniversário...

O Ticho fez dois anos, há menos de 1 semana. Muitos foram os amigos, amigos queridos, que apareceram para celebrar comigo o início desta casa que é nossa. É bom ser acarinhada, é bom ter presente, nas datas importantes, aqueles que de que tanto gostamos.

Hoje o Ticho recebeu um presente de aniversário. O presente chegou-me através de um mail da Cristina que felicitava a existência do Ticho, felicitava a amizade e o carinho que se vive por aqui, e que se sente. Felicitava ainda este mundo da blogosfera por criar a oportunidade de nos conhecermos e de criar uma verdadeira amizade, assim como conheci tantos outros amigos especiais por este meio.

O presente foi assim explicado: "Não é uma estatueta de ouro (até porque de actriz não tens nada: és muito autêntica!), mas é um "B" de ouro para que possas colocar no Ticho distinguindo-o, assim, como blog de ouro!". O Ticho foi assim classificado e eleito como Blog de Ouro.




Cristina, a ti e a tantos outros amigos que me leem aqui digo que, o que torna esta casa especial é a tua e a vossa presença aqui, a tua e as vossas visitas constantes, a tua e a vossa Amizade... O facto de me permitires e de me permitirem que eu entrasse na tua e nas vossas vidas assim, de coração aberto. O Ticho permitiu facilitar o encontro, mas coube-nos a nós fazer com que a Amizade acontecesse. Existem amigos aqui, que me acompanham há quase dois anos, alguns mais, outros há apenas alguns meses, mas a Amizade reina. O meu dia-a-dia mudou, a minha vida mudou, e eu cresci com todos vós, aqui.

O facto do Ticho ser considerado um blog de ouro, deixa-me orgulhosa. Orgulhosa de algo que eu criei, mas orgulhosa de mim mesma. Este é o prémio que reconhece e assinala tudo de bom que tenho feito e construido aqui, convosco... Inclusive, eu mesma e a minha forma de ver o mundo.

Obrigada por tudo, pela Amizade, pelos momentos felizes, pelas lágrimas e desilusões partilhadas, pelo aprender, pelo sofrer em comunhão. Obrigada pelo silêncio que nos fala ao coração...