domingo, março 29, 2009

Cultura em Portugal?

A propósito do Dia Mundial do Teatro, que se comemorou no passado dia 27 de Março, chegou ao meu email, por via de um amigo, um texto de Fernanda Lapa que ela escreveu para o JN.

Poderei dizer que, ser-se actor hoje, aqui em Portugal, é ser-se uma espécie de farol visto do mar. Ora se vê a sua luz, ora a deixamos de ver. Às vezes com regularidade, outra com largos espaçamentos.

Esta imagem rebuscada é a definição que se me oferece para o nosso estatuto de intermitentes. Somos um pobre farol cheio de arritmias luminosas. Quando a luz é visível e intensa, o actor e o público estão em sintonia, o naufrágio é evitado e a alegria é grande. Quando a luz se esconde, o público fica às escuras, o actor passa mal, sofre e não entende porque razão não pode mostrar aos outros a sua arte, aquilo que o faz “viver” – no sentido lato da palavra. O naufrágio, sucede, então. Mas, desta vez, quem soçobra é o farol!

Esta visão aparentemente pessimista do que é ser-se actor, aqui e agora, não é de forma alguma irrealista.

Todos os anos saem das várias Escolas de Teatro do País, gerações de actores ávidas de darem o seu melhor e, logo são confrontadas com a inexistência de estruturas de acolhimento, de apoios sólidos à Cultura e, especificamente, ao Teatro. Esperam ser chamadas para um ou outro projecto e, no entretanto, desesperam. Muitas vezes desistem e, todo o investimento efectuado na sua formação é deitado ao lixo.

Mas não falamos unicamente das novíssimas gerações de actores. Os mais antigos, mesmo aqueles, de quem o público conhece o nome, respeita e admira sofrem do mesmo mal. É todo um património cultural riquíssimo que fica ao abandono, tão tristemente como esses belíssimos monumentos que, por todo o país, vemos em derrocada.

Enquanto os nossos governantes e, todo um Povo, não entenderem que esta gente, nós, os fazedores de teatro, somos uma mais-valia fundamental para o reconhecimento de Portugal como País civilizado, a situação não se vai alterar.

Que este Dia Internacional do Teatro 2009 possa contribuir para uma chamada de atenção ao Público e, com um pouco de sorte, aos responsáveis pela governação, são esses os meus votos.

Fernanda Lapa – Encenadora/Actriz/ Directora Artística da Escola de Mulheres

Fernanda Lapa é uma Grande Senhora (com G e S bem grande) do Teatro em Portugal na actualidade. Para ela os meus mais sinceros Parabéns e elogios por se ter tornado um grande Farol.

quarta-feira, março 25, 2009

Uma pausa com sabor a café..



O Sol brilha por estre as montanhas que ainda o escondem... As flores despertam com o seu aparecimento, os passaros cantam anunciando a sua chegada... E eu, à semelhança das flores, desperto naquele cenário. Levanto-me da cama, naquele quarto iluminado pelas frinchas da janela, e vou até a cozinha preparar um café... Aquele cheiro invade a casa, misturando-se com o cheiro a pão quente que acabo de torrar... Coloco o café, as torradas, um pouco de doce num tabuleiro e levo até à varanda e sento-me naquela cadeira de baloiço onde me dou o direito a sonhar... Vou saboreando aquela conjugação de sabores, disfrutando da natureza que me rodeia... Fecho os olhos, e consigo ouvir os carros que passam lá ao longe, uma máquina agricolca que trabalha num campo mais distante, e a até a música agitada que sai de uma daquelas casas que estão lá longe e que a brisa suave traz com ela...

Fico naquele estado semi-adormecido durante alguns minutos, uma pausa com um sabor muito além mais intenso do que aquele café e das torradas com doce. De repente, sou chamada ao mundo real pelo toque estridente do despertador atrasado que toca lá dentro. É hora de voltar do mundo dos sonhos...

segunda-feira, março 23, 2009

Para ti, sem velas...

Um dia entraste na minha vida, foste entrando de mansinho... Foste entrando e ficando por cá. Encontramo-nos de coração e vieram as partilhas, os desabafos, as lágrimas e os sorrisos... A amizade foi crescendo, foi tornando-se mais estavel...

Um dia, esses teus olhos lindos e brilhantes, que sorriem só por si, encontraram os meus... Veio o abraço, o toque, o carinho. Esse dia repetiu-se uma, outra e outra vez e tenho já saudades desse abraço e desse sorriso...

Hoje venho também de mansinho escrever para ti. Sei que não queres velas e provavelmente que não queres grandes festas... Mas hoje venho dizer-te que és uma pessoa linda, por fora, mas especialmente por dentro. Venho dizer-te que és muito importante para mim, que tenho grande felicidade por te ter na minha vida. Hoje venho dizer-te que gosto imensamente de ti... Hoje venho dizer-te, no sabor de um abraço: Parabéns querida!

quinta-feira, março 19, 2009

Carta para ti, pai...




Pai,

Hoje é o teu dia, o dia em que todos dizem quanto amam os seus pais e o dia em que os que perderam os seus pais lamentam a sua “não presença”. Hoje escrevo para ti, aqui neste sítio onde sei que não vais ler...

Lembras-te quando era o teu Tichinho? Quando tinhamos aquele “chamamento” próprio e que eu sabia que era para ir para o teu colo ou deitar-me na cama contigo? Lembras-te das vezes que deixavas que eu me sentasse no teu colo e conduzisse o teu carro, quando ainda nem chegava ao chão? Lembras-te quando isso tudo terminou? Acredita que penso nesse momento com regularidade, mas ainda hoje não tenho a certeza... Sim, é verdade que te culpo de algumas coisas que me aconteceram na vida ou de alguns momentos de ausência de protecção, daqueles em que caí e magoei-me sem que visses que me tinha ferido, ou me tivesses ajudado a levantar... Quantas vezes não estiveste? É verdade que sim, que te culpo mas não devia, pois não? Eu sei que a maioria nem te apercebeste, como ter culpa? Eu sei...

Agora cresci e sei que me fechei para ti e que me tornei nesta mulher independente, tão independente que agora sou eu que não te deixo aproximar para me protegeres. Agora sou eu que não te dou espaço de manobra... Quantas vezes discutimos? Esta é facil de responder: sempre que tentamos falar um bocadinho mais do que três frases seguidas sobre determinado assunto.

Dizes que sou teimosa e orgulhosa e que gosto de fazer as coisas à minha maneira. Mas sabes o que é que a mãe diz? Que somos iguais... E talvez seja verdade, não é? No outro dia, no meio em discussão, disse-te que eras um “poço de virtudes”, “Deus no céu e tu na Terra”... Provavelemente não saibas, mas quero deixar-te aqui que, apesar de achar que não me ligas como ligas ao “teu menino”, acho que, no fundo, sabes o quanto valho e que estás orgulho de mim (bem vi naquele dia as lagrimas de orgulho que não conseguiste disfarçar)... Digo-te aqui que, apesar de tudo, agradeço-te tudo o que fizeste e continuas a fazer por mim...

Desejo-te um Feliz Dia do Pai, que possamos passar ainda muitos dias juntos, e que cheguemos a uma altura em que possamos ser sinceros um com o outro.

A tua filha,
CA

segunda-feira, março 16, 2009

Para ti, uma flor branca...


Há uns tempos descobri uma tradição que consistia em oferecer uma flor branca quando alguém atravessava uma fase dificil. Hoje o Ticho fica em silêncio e oferece estes jasmins brancos para perfumarem a alma de uma amiga.

terça-feira, março 10, 2009

Conversa comigo...

Este poderá ser um texto que devia publicar num outro sitio, mas hoje faço-o aqui...

Ando num tentativa de dar uma volta geral a minha vida, quero ser mais que sou sendo o mesmo. Quero ir e lutar... Mas isso digo-o hoje que estou assim, virada para aqui, com o sol a bater-me na face. Penso mudar o rumo, virar o leme e ir. Mas não pensem, ninguém pense o que eu já pensei, que fujo, que sigo por um caminho que não é o meu... Nao! Este é tambem o meu caminho, a minha área... É porque assim o quero e decidi. É porque farei para que seja... Muitas são as dificuldades que apanharei, muitos que me tentarão enganar ou dizer exactamente isso: que não sei, que não percebo nada disto. Nessa altura direi que posso não saber tudo, mas que tenho vontade de aprender... Porque não me ensinarem o que sabem? Pois é, a informação e o conhecimento é poder...

Muitas vezes vejo-me como a "miúda de 26 anos", mas como me disseram ainda ontem: "miúda de 16, mulher de 26!". Sim é isso: "mulher de 26!" e como tal terei que ir, lutar e ganhar o meu lugar.... Como já disse lá atras: Vou... porque quero ir!

Este é um desabafo que pode não fazer muito sentido, mas hoje fica assim....

(Daqui a algumas semanas/meses terão noticias minhas e deste meu desabafo...)

domingo, março 08, 2009

Pretty Woman


Porque a beleza de cada um está no coração, a todas as mulheres lindas que eu tenho a sorte de ter na minha vida, a todas as mulheres lindas que passam aqui e que me acompanham um feliz dia.

quarta-feira, março 04, 2009

Desafio: Os três anões (17)

Tridhjetë e dy

Outrora, num local longínquo e assustador aos seres mais sábios e inteiramente conhecedores das magias que sobrevoavam o mundo, assumia lugar um reino encantador para os que o conheciam, mas tenebroso para todos os que o rodeavam e ansiavam desvendar o seu puro e eterno mistério... o Reino da Jam...

O tal reino não apresentava uma área exuberante nem algo que se aproximasse de tal definição… Lá, tudo era infimamente pequeno ou mesmo extremamente minúsculo. Nele habitavam vários seres dotados de características especiais que requeriam cuidados devidamente pensados e repensados para a sua sobrevivência...

No cimo do monte mais alto do reino, vivia em tempos uma família de anões, guardiões de uma relíquia que lhes conferia poderes face aos outros habitantes. Todas as manhãs o anão mais velho, responsável e sério, rebolava pelo túnel secreto e com dificuldade, chegava a uma gruta escura, onde o seu corpo robusto mal cabia. Depois de uma longa caminhada, chegaria por fim a um alto e cheio frasco que continha a tal magia.

Tão reluzente que ofuscava o olhar a todos aqueles que não estivessem preparados para o que iam encontrar. O cheiro caramelizado pairava no ar, e ficava cada vez mais intenso quando se aproximava do frasco. Deixava-o enfeitiçado quando o sentia e só queria poder tocar com as suas mãos minúsculas, na textura cremosa e suave da compota tão apetitosa e frágil. Nada fazia querer que esta era tão poderosa e mágica para os anões, sem saber o que realmente estava por trás daquele frasco gigante.

Certo dia, numa manhã luminosa o pai anão partiu numa missão pela floresta sem nunca mais saber qual seria a data do seu regresso ao Reino da Jam.

Nisto, o seu cargo teria de ser entregue a um dos seus filhos, Becas, Bicas e Bocas.

Becas, o filho mais velho, nunca se entendera devidamente com a família. Deixara o palácio quando tinha quinze anos e nunca mais lá voltara. Vivia agora debaixo da única ponte do Reino da Jam. Devido à instabilidade do seu dia-a-dia e da sua própria pessoa, seu pai não necessitou de ponderar incessantemente se lhe entregaria o cargo ou não. A indecisão permanecia entre os outros dois filhos, Bicas e Bocas.

Bicas, o irmão do meio, era mais alto que os outros dois, esguio e com postura firme, e também aquele com maior sentido de humor. Desde pequeno que sempre tinha uma adoração pelo café, e o seu cheiro forte e predominante ao pequeno-almoço tornava-o ainda mais irrequieto. Sentia-se nas nuvens perto dele e sabia que no futuro teria que fazer do café uma parte integrante da sua vida. Por isso, quando finalmente pode construir, encontrou o lugar perfeito para o seu café, onde permanece desde então.

O seu pai teria assim que entregar o seu posto a bocas, que era o único que não tinha quaisquer responsabilidades ou obstáculos que o impedissem de ser responsável pelo comando do reino e protecção do frasco da compota.

Bocas, era o mais novo dos três irmãos e também o mais pequeno membro da família. Sempre fora um anãozinho muito calmo e em nada se comparava com os seus irmãos! Apesar de mais novo, a sua responsabilidade aliada a alguns anos de experiência a ajudar o pai a cuidar do frasco, faziam dele o candidato ideal a ocupar o lugar de guardião.

Num lindo dia de sol, Bocas madrugou como já era costume. O seu dever não podia esperar. Assim, pegou no seu saco, o qual carregava pendurando-o numa cana que apoiava num dos ombros, e partiu com enorme vontade de honrar a família cumprindo o cargo importante com o qual se comprometera.

Ao avistar a entrada da gruta, de longe, Bocas ficou com a impressão que algo não está bem! Ao chegar mais próximo, já com o cheiro de compota a perfumar o ar, o anão deparou-se com algo que impedia a sua passagem para o frasco. “O que seria aquilo?” perguntou-se na esperança de que alguém respondesse. De tons garridos e de toque aveludado uma sapato gigante erguia-se sobre o olhar do pequeno anão. Um tamanho 32.

Bocas tentou tudo para remover o sapato que lhe impossibilitava a passagem… Tal habilidade só podia ser obra da famosa Monstropote que andava há séculos a fazer a vida negra a todo o Reino da Jam.

O seu tamanho era assombroso, tinha olhos enormes e esbugalhados que metiam medo a todos os anões do reino. Tinha dentes amarelos e um hálito pestilento, que intensificava o ar marcando a sua presença, tal como as imensas pegadas deixadas à sua passagem pelas suas 50 patas. Poucos eram os que achavam que por detrás daquela figura majestosa e tenebrosa, estaria um ser amável e tranquilo, pois todo o caos que provocava no reino ocultava todos os sentimentos bons que qualquer dos habitantes poderia nutrir por ela.

Bocas ainda se lembrava da lenda leccionada na disciplina de História quando frequentara a escola. Dizia a mesma que apenas a deliciosa compota poderia derrotar a tão temido Monstropote.

Bocas nunca soubera quais os efeitos daquela compota, aliás, nunca ninguém soube, pois nunca antes a situação tinha chegado a uma situação tão delicada.

No entanto, sabia que seu pai guardara há muito tempo um pequeno frasco com um pouco da compota que supostamente continha a sua dose de poderes. Assim, Bocas correu para o castelo e dirigiu-se às masmorras do mesmo. Com um pequeno gesto, que só os membros da sua família conheciam, provocou um movimento giratório na parede que lhe possibilitava a percorrer o caminho secreto até ao cofre dourado.

“Hapur” – pronunciou Bocas num tom confiante. Esta era a palavra-chave que permitia o acesso ao cofre dourado já há centenas de anos. Tal segredo tinha origem nos primeiros membros da sua família, albaneses genuínos, e foi passando de geração em geração sem nunca ser alterada.

Alcançando o pequeno frasco armazenado dentro do cofre, Bocas ingeriu sem hesitar a quantidade de compota aí existente, sem imaginar quais os efeitos provocados por ela. Apenas foi preciso um curto instante, para que Bocas se começasse a sentir zonzo e dormente. O seu olhar começa a alcançar diferentes alcances e as suas pernas distendiam-se em altitude. O tamanho de Bocas superava as dimensões do seu castelo e destruiu-o num só momento. Todas as paredes caíram em cacos, na floresta circundante, o telhado foi pelos ares arriscando a vida de todos os habitantes do reino, que conseguiram ouvir o estrondo profundo a vários quilómetros de distância.

Atordoado por todos os estragos que acabara de causar, Bocas começara a pensar em como agiria o seu pai se estivesse naquela situação. No entanto, nunca ocorrera tal desastre naquele reino, poucas ou mesmo nenhumas eram as respostas de possível alcance.

Não havia tempo a perder. O tesouro que se comprometera a guardar tinha que ser salvo. Como tal, entre largos passos, Bocas dirigiu-se até à gruta onde se encontrava o sapato com o nº 32 estampado na sola.

Com as suas mãos gigantescas, Bocas agarrou o sapato e sob um efeito de grua removeu-o cuidadosamente da entrada. Na impossibilidade de esperar mais tempo para enfrentar o perigo, Bocas profere a palavra mágica que permite acabar com os poderes e entra no sombrio túnel. A passos de medo vai avançando para a ala principal onde se encontra o frasco. O seu pequeno coração batia desmazeladamente, parecia que ecoava naquele infindável túnel.

A passos de medo vai avançando para a ala principal onde se encontra o frasco. O seu pequeno coração batia desmazeladamente, parecia que ecoava naquele infindável túnel e quando chega junto do frasco depara-se com o inevitável... Este estava aberto e um pouco de compota jorrava pelos lados. Bocas fica assustado e revoltado consigo mesmo, por não ter conseguido guardar e manter a sua responsabilidade.

Assim, num acto de raiva, corre pelo túnel, sai da gruta secreta e dirige-se para a floresta como se não houvesse amanha. Naquele momento, mais que tudo no Mundo, ele queria descobrir quem se tinha atrevido a entrar na gruta e por em risco toda a magia do Reino da Jam.

Depois de horas e horas de caminho, quase sem fôlego para continuar, Bocas ouve grunhidos a poucos metros de distância de onde se encontrava.

Vinham de junto de uma árvore, que com o seu enorme tronco, parecia encobrir corpos de seres desconhecidos. Bocas, curioso, decidi prosseguir o seu caminho de forma a descobrir quem poderia estar tão longe do reino no meio do nada.

Pé ante pé, procurava manter o silêncio nos seus passos, apenas se ouvindo o chilrear dos pássaros e o som da brisa que tocava nas folhas das árvores. Espreita, receoso, pelo o que poderá encontrar e sem qualquer aviso ouve um grunhido assustador e grave. Bocas, mesmo não sabendo o que iria encontrar decide ver de onde viriam tais sons e descobre que era a Monstropote que estava lá escondida.

Num pequeno ninho improvisado com ramos e folhas secas, a Monstropote estava alimentado seus filhos com a compota que tinha roubado do frasco de Bocas. Enfurecido, sem pensar nas consequências das suas acções, dirige-se, rápido como o vento, à Monstropote atacando-a!

Agarra-se à sua perna com quanta for força tem e mesmo sabendo que é inútil tenta arranhá-la e mordê-la. Num só golpe a mãe Monstropote atira o Bocas pelo ar e é aí que ele percebe que tem de mudar de estratégia. A todo o custo lá consegue manter-se de pé e adopta agora uma postura mais compreensiva.

"Não percebo... de onde vem tanta maldade? É genético??? Porque nos desejas tanto mal?... O que é que nós, pobres e pequenas criaturas, te fizemos para merecer tal?" – perguntou Bocas à Monstropote.

“Não vos desejo inteiramente mal... Apenas o desejo porque só assim vejo maneira de alcançar o bem para as minhas crias... Foi a dificuldade de encontrar bagas na floresta que me levou a roubar alguma compota…” – respondeu tristemente a Monstropote.

A conversa prosseguiu e mais detalhes foram esclarecidos. Com isto, Bocas compreendeu a Monstropote, mudando completamente a imagem que tinha a seu respeito.

Bocas ajudou a mãe Mosntropote a encontrar um lugar onde as bagas e o frio não fossem problema. Conseguiu mostrar que era um anão solidário e ainda um fiel guardião do frasco. Não poderia deixar que alguma situação como esta voltasse a acontecer.

Era então hora de voltar ao castelo. Castelo??? Esse já era há muito!!! E agora onde iria viver Bocas? Debaixo da ponde com o seu irmão Becas??? No café do seu irmão Bicas??? Não!! O destino foi definitivamente outro…

Numa simples e incompreensível visita ao modesto ninho da Monstropote, Bocas fica encantando com a voz de um belo ser que se encontrava a colher as bagas de uma árvore próxima dele. Não conseguia ver o seu rosto, seus cabelos tapavam-no e não tinha como saber de quem se tratava. Encantando com tal criatura, decide aproximar-se num acto de gentileza, oferecendo a sua ajuda. Quando os seus olhares se cruzaram.... Pufff fez-se chocapic!!!

Aquele amor tão poderoso não pode esperar muito tempo para que o tal passo sério fosse dado. Assim, dentro de alguns dias Bocas casou-se com a sua amada.

No entanto, havia algo que o preocupava… Onde iriam viver?

Enquanto caminhava em direcção ao café do seu irmão e observava os estragos que tinha causado na tentativa de derrotar a simpática Monstropote que apenas queria alimentar as suas crias, por entre culpas e desculpas, Bocas embateu descontroladamente em algo. O sapato nº 32!

Curioso, o anão resolveu explorar aquele objecto não identificado. Entrou e rapidamente se apercebeu que ali residia um lugar estupendo para partilhar com a sua esposa.

E assim foi… O sapato que tinha causado o caos, tornava-se agora um elemento de felicidade.

Brochado, Sara e Sofia do Philosophia

terça-feira, março 03, 2009

Desafio: os três anões (16)

Era uma vez um anão que teve três filhos: O Becas, o Bicas e o Bocas. Este último era tão pequeno, tão pequeno que casou e foi viver dentro de um sapato nº 32. Até à altura em que vieram os filhos (como é óbvio, netos do anão). Aí, Bocas e esposa, fizeram contas à vida, foram ao banco (à Banca, em economês) e tentaram comprar uma bota de tamanho 35. Se não fosse muito cara queriam um jardinzito em redor. Entretanto os tios dos catraios – O Becas e o Bicas – continuavam solteiros. O Becas tinha uma namorada linda, menina de 18 anos e com 1,90 de altura. Já o Bicas, talvez por fatal destino ou desejo próprio, escolhera um mancebo que da tropa fugia a sete pés. (e era tão grande o desgosto de D. Simão Tadeu, o anão patriarca). A mãe, que não era anã, para espanto dos leitores, acarinhava os seus filhinhos e era toda derretida no seu amor. (Na procura da casa, às escondidas do marido, havia dado ao Bocas uma pipa de massa para a entrada da dita). D. Simão, cauteleiro de profissão, sempre dissera que havia um dia de ficar para si a taluda que não conseguia dar a outros.
E aqui chegados, com a lembrança de um escrito numa carta de Pessoa para a sua Ofélia, direi que se acaba o papel e tenho que deixar o resto da história para outro dia. Ou não, se acharem que assim está bem.

Viajante do Trans-Atlântico

segunda-feira, março 02, 2009

Desafio: os três anões (15)

O sapato-nave-estelar

Era uma vez um anão que teve três filhos
Nasceram rolando feitos grãos de milhos
A família os baptizou cantando estribilhos:
"Becas, Bicas e Bocas". Do primeiro ao último,
Mais pequeno que o antepenúltimo. Bocas
Saltitou pela vida e fez orelhas moucas
A quem, com grande malícia, o desafiou.
Era pequeno, tão pequeno, que casou
e foi viver num sapato número trinta-e-dois.
Lá couberam os filhos que vieram depois.
Num dia de temporal a casa-avião,
Soltos os atacadores que a prendiam ao chão,
Pelos ares se elevou e no espaço
Vogou. Cada vez mais pr'a longe, sem cansaço
E a alegre família do micro-anão
Em festa, sem sustos, aterrou em Plutão.
Não eram anões. "Bocas" era o perdido
Rei-herdeiro. Seu pai, o desaparecido
Imperador daquele planeta inteiro.

TMara do Estranhos Dias e Corpo do Delito

domingo, março 01, 2009

Desafio: os três anões (14)

O Bicas, o Becas e o Bocas

"Era uma vez um anão que teve três filhos: O Becas, o Bicas e o Bocas. Este último era tão pequeno, tão pequeno que casou e foi viver dentro de um sapato nº 32."

Ao fim de umas boas duas horas, reunidos em casa deste, com fim a saber sobre o que nos contar sobre as suas vidas, acordaram finalmente, que seria o Becas o responsável pela composição do texto, já que de entre todos, reunia mais condições pelo seu reconhecido conhecimento.

Um pouco orgulhoso por este facto, despede-se alegremente e disposto a iniciar desde já tal projecto.

Estava uma noite linda, de lua cheia, cálida e brilhante que o convidava a aproximar-se do mar. Nunca o tinha feito. Não tinha nunca experimentado sentir a delicadeza de uma pétala nas suas mãos, nem o aroma de uma flor. Não tinha nunca sentido o calor de um raio se sol sobre a sua pele. Tinha o seu cérebro tão repleto de fórmulas matemáticas, que agora temia que o seu coração tivesse mirrado um pouco dentro do seu peito.

Já tinha lido que muitos se sentiam pequeninos perante a vastidão do mar. Imaginem agora eu – anotara no seu bloco de notas – fez-me tamanha impressão, que me afasto e sento-me a vê-lo, tornando-me num ser minúsculo como não conheço outro. Tremo e suo receoso, até que uma brisa fresca passou por mim e me acalmou. Foi aí que o Mar me falou, dizendo-me que tem milhões de histórias para me contar:

– Mas olha que são tão profundas e longas, que precisarias de permanecer aqui por uns dias, para poder contar-te apenas uma. Gostas de bonitas como as sereias? Tenho-as de fantasia, das que não acreditas, pura magia e outras tão feias, de piratas e de tempestades tão fortes e loucas que nem o teu irmão Bocas inventa e tu até gritas!

O Becas, fascinado com tais ideias, não proferia palavra e o Mar sabia no que ele estava a pensar:

– Precisas é de viver uma comigo. E dito isto, estendeu-se até à areia e beijou-lhe os pés.

– Ai que frio! – Queixou-se o Becas, sentindo um arrepio que o fez encolher-se mais ainda. A seguir estremeceu comovido, e, uma lágrima que lhe bailava no olhar, subitamente desprendeu-se e correu em fio até ao Mar, ao qual se uniu. Ele Sorriu. Ajoelhou e afagou carinhosamente a espuma branca que o envolvia e demorava ainda na sua mão, a desfazer-se em pequeninas gotas, lindas, como ele nunca tinha visto. Levou-a à boca e provou-a:

– Sabem ao mesmo sal … e ela agora pertence-te; tens um pedaço de mim.
– Sim, concordou o Mar – assim como tu não esquecerás mais o meu sabor.

Amanhecia, e, o Becas já refeito, anotava no seu bloco: “o Mar é um senhor”. E aí a Brisa de novo surgiu e disse-lhe:

– É como dizes. É um gigante de amor.

O Becas sentiu-se interpelado no seu conhecimento científico e esteve prestes a replicar, incitado por uma réstia de orgulho, mas, a Brisa adivinhando-lhe o pensamento, adiantou-se-lhe:

– Meu amigo, este mundo maravilhoso em que vives e que sabes ser conduzido por uma extraordinária precisão matemática, não o explicas com outra fórmula como esta que te ofereceu o Mar e por muito mais absurda que te pareça em relação a todas as outras que conheces e que igualmente não resolvem a vasta soma dos conhecimentos que já alcançaste sobre o universo das galáxias, dos astros, dos sonhos e da vida.

Até teres dado este salto acrobático em que te vi sair para fora de ti, do teu coração e através de uma simples lágrima incontida, jamais compreenderias isto e poderias salvar todos os teus irmãos, seres, humanos, criaturas, miniaturas ou anões – como lhes queiras chamar – que se sentem viver em sapatos nº 32!

O Becas entendeu. Entendeu a mensagem do Mar que lera nas entrelinhas e viveu muito feliz até ao fim da sua vida naquela praia, com a família e muitos amigos que se foram reunindo a eles.

E o mar continua a ir bater noutras rochas, lá longe, longe… a chamar ainda mais gente e a quem depois, lhes vem beijar os pés.

Malu dA capela