quinta-feira, abril 03, 2008

Um Livro: Ensaio sobre a Cegueira

O Ensaio sobre a Cegueira é um fantástico romance, de José Saramago, que aborda a emergência de uma inédita praga de uma repentina cegueira abatendo uma cidade não identificada, inexplicável e incurável. Tal "cegueira branca" — assim nomeada pois as pessoas infectadas percebem em seus olhos nada mais que uma superfície leitosa — manifesta-se primeiramente em um homem sentado no trânsito e, lentamente, se espalha pelo país. Aos poucos, todos acabam cegos e reduzidos, pela obscuridade, a meros seres lutando por seus instintos. À medida que os afectados pela epidemia são colocados em quarentena, em condições desumanas, e os serviços estatais começam a falhar, a trama segue a mulher de um médico, a única pessoa que não é afectada pela doença que cega todos os outros.

O romance mostra-nos o desmoronar completo da sociedade que, por causa da cegueira, perde tudo aquilo que considera como civilização e, mais que comentar as facetas básicas da natureza humana à medida que elas emergem numa crise de epidemia, Ensaio sobre a cegueira mostra a profunda humanidade dos que são obrigados a confiar uns nos outros quando os seus sentidos físicos os deixam. O brilho branco da cegueira ilumina as percepções das personagens principais, e a história torna-se não só um registro da sobrevivência física das multidões cegas, mas também das suas vidas espirituais e da dignidade que tentam manter. Mais do que olhar, importa reparar no outro. Só dessa forma o homem se humaniza novamente.



CURIOSIDADE:

O primeiro apontamento do autor sobre a obra, num pequeno caderno de capa preta que utiliza para quando "vem a inspiração", foi escrito num restaurante, e foi o seguinte:

«Começam a nascer crianças cegas. Ao princípio sem alarme: lamentações, educação especial, asilos. À medida que se compreende que não vão nascer mais crianças de visão normal, o pânico instala-se. Há quem mate os filhos à nascença. Com o passar do tempo, vão morrendo os 'visuais' e a proporção 'favorece' os cegos. Morrendo todos os que ainda tinham vista normal: reacção de estranheza, alguma vezes violenta, morrem algumas crianças. O processo inverte-se até que - talvez- volte ao princípio uma vez mais.»

O Livro veio a ficar muito longe desse apontamento.

4 comentários:

  1. Confesso, nunca li José Saramago. Não tenho justificação alguma, além da obvia, a preguiça.
    Gostei do post, principalmente da curiosidade.
    Estou a gostar deste teu mês da escrita criativa! :)

    Beijo grande!

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  2. José Saramago... não leio, ou melhor nunca li, nunca despertou em mim grande emoção, ás vezes basta um alerta, um tema e aí surge a vontade de ler este ou aquele autor, para mim todos são bons, contando que os temas abordados me interessem, neste caso em particular fala-se de uma dita "normalidade" versus "anormalidade" chegando-se ao ponto de se misturarem valores...
    Gostei mesmo Cátia.
    Vou ler.
    beijinhos :)

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  3. Não sei bem porquê... mas o Saramago não me seduz!...

    Ando há que tempos em mãos com o Memorial do Convento e está a ser difícil de levar até ao fim. Mas que chato!!!!

    Bjão

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  4. ola :)
    li o livro estas férias e fiquei maravilhada... o simples facto de ficarmos sem um dos nossos 5 sentidos (visao) muda completamente a "visao" sobre tudo o que nos possa ropear....
    leiam... nao se arependeram decerteza
    bjinho*

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