sábado, agosto 30, 2008
Malmequer..
Uma Estória (10)
Esta noite acendeu três velas no velho castiçal de família, tinha um carinho especial por ele. Era daquelas relíquias que vão passando de mãe para filha. Gostava de pensar que aquele castiçal tinha séculos de existência, que tinha pertencido a parentes importantes, talvez até da nobreza, na altura em que Portugal ainda era uma monarquia.
Nunca percebeu muito bem porquê, mas gostava de ver as velas arderem naquele velho castiçal cheio de história, gostava de ver as chamas dançarem ao som de uma melodia muda. Lembrava-se de que em criança passava horas a olhar para as velas, na noite de Natal, quando a sua mãe as acendia no castiçal.
Hoje não é natal, mas ela também já não é criança e a mãe também já não é viva, faleceu à dois anos num horrível desastre de automóvel.
Estamos no inicio de Janeiro e um frio intenso veste as noites, mas ela não sentia frio, não sentia nada. Sentada no chão olhando as chamas, a sua mente era assaltada por todas as suas memórias, por todos os seus fantasmas, por todos os seus medos e ela via tudo isto desfilar à sua frente como se ela própria fosse alguém de fora, como se estivesse a assistir um filme num cinema.
Não consegue evitar, ela precisa destes momentos, são momentos só dela em que pode meditar à vontade, rever toda a sua vida, todos os seus sentimentos.
Acompanhada pelo seu velho castiçal entra no mais íntimo do seu ser, nas profundezas da sua existência, enquanto lá fora, todo o Universo dorme tranquilamente.
Por Metódica do Método
sexta-feira, agosto 29, 2008
Uma Estória (9)
Cheguei a casa por volta da 1. Eu sabia que o que te tinha prometido era outra coisa, mas não me digas que acreditaste quando fiz o meu ar angelical e te disse:
"Vou só a casa da Joana ver o quadro novo que ela está a pintar, venho antes das 11."
Se tu me entendesses eu escusava de te mentir, mas não, tu insistes em tratar-me como se eu fosse uma miúda. Não vês que eu tenho quase 16 anos?! Há até quem me dê já 17 ou 18. Agora que estou de férias tenho que aproveitar, além disso queria vestir as calças novas e o top. Fiquei mesmo gira.
Tu estavas à minha espera, como eu previa.
"Isto é que são 11 horas? O que é que estiveste a fazer até esta hora?"
"Desculpa, mas distrai-me com a Joana e perdi a noção das horas." – desculpei-me. Acho que já não caís nesta, mas não custa tentar!
"Fartei-me de te ligar... tinhas o telemóvel desligado."
"Fiquei sem bateria..." – Lamentei-me.
Nem sei quanto durou o sermão sobre os perigos da noite, mas foi tanto, que deu para eu viajar no tempo. Encarnei uma princesa fashion, a ser entediada de morte. Tu não paravas:
"Crruac, crruac, crruac..."
E eu, a viver a estória da princesa aprisionada numa masmorra vazia, com o sapo repetitivo como guardião... como no quadro da Joana, que eu tinha visto no dia anterior, mas claro, eu sou muito mais gira!
Por Marta do Conto Aqui
quinta-feira, agosto 28, 2008
Uma Estória (8) [One Story 8]
The winter, in its anger, spent the days tormenting the country side; tearing at old stone cottages, watching them weep crumbling pebbles and it kept the nights company with violent storms that shook all of California...
It was a day like many others... During the night the deafening storms didn't let me sleep... They broke every attempts… Even the old technique of counting sheep...
I had emigrated to that state some months ago. Some people say that this act was just a way to get away from my responsibilities… other ones say that it was simply to call the attention of the ones who were around me… Details aside, the truth is that the homesickness was being gradually felt inside, and the need of hearing that unique friend's voice was already being felt, too.
At the end of stare the word on the steamy window for some minutes, the curiosity to know what was in the other side of the window, made me put my hand over my "good morning" making it slowly fade away...
A big part of my days were shared with two homeless I met when I arrived at San Francisco International Airport. Two splendid people, I must say… They helped me adapting to that new city, so different of mine, showing always being ready to help with whatever I needed.
At the dawn of the day, the quick steps of someone woke me up… Wet by the rain and with cold inside, I sat on the floor and I looked around to observe what was happening.
Ben looked at me,
"You're not talking, what's wrong?" his deep smooth voice glided through the air, I found it comforting, however I said nothing. Matthew leant forward,
"You can tell us, you know." I looked into his eyes, his voice was lighter, almost bird like and did not have the soothing qualities of Bens, nevertheless it made me feel just as welcome. I slowly began to tell them...
"Do you think we should go to the police" I asked Ben.
Ben looked troubled and rubbed his brow. His vision drifted to the floor for a moment, his face relaxed in absent minded thought. He turned back to me.
"No," he said, "the police ignore such reports, they think they are merely ghost stories."
“We can do it on our own… We can go there with you again if you feel better with that…” said Matthew agreeing with Ben.
“No! I don’t want... I just want to rest a bit... May I stay with you both again this night?” I answered stammering and expressing fear in my eyes.
"Good idea, sure you can stay", however Ben was looking restless, his thoughts on other things, "sure she can stay, right Ben?" Ben was forced back into reality,
"Yes, yes," he said hurriedly, "yes of course."
As combined, I passed the night with them and I fell asleep observing the stars in the sky and thinking if the girl I listened screaming, still had the opportunity to do such a good thing…
“Gone?” he asked seriously.
“Yes gone” I stammered. Matthew rubbed his ear in thought.
“Where?”
“I don’t know, I just looked and he was gone” Matthew stood up and walked outside quickly, he stood, the rain dusting him. He pointed to a patch of mud in the ground.
“Foot prints” he said seriously, “they lead to the mountain.” I followed them with my eyes, straining to see through the dark.
“We have to go find him” I said. Matthew looked at me and nodded, and began to walk towards the mountain. I followed, scared.
“Matthew, wait… This is the house where I was yesterday… where I listened to the screams… the shots…”
“But the foot prints are in that way… They can be the direction to Ben…” told Matthew.
“And if they aren’t?”
“I won’t ever abandonee Ben and he can be in need of my help, do you understand?”
Matthew turned to the house, walked through its gates and without answer to him, I followed his wish.
“Anybody home?” he shouted.
Nobody answered…
“Thank God! You’re safe Ben…” said happily Matthew hugging his friend.
“Shhhhhhhhhhhhh!” said quickly Ben.
Worried with the situation I asked Ben,
“What’s happening inside? Why are you looking through the lock?”
“See with your own eyes…” said Ben with a tune of surprise in his voice.
What did such a beautiful young girl do locked in a dark room, whispering strange things to a frog with a tune of sadness in her voice?
“SO… DO THESE THREE MOTHER FUCKERS THINK THAT THEY CAN GOSSIP ABOUT MY BUSINESSES WITHOUT ANY CONSEQUENCE? DIE SONS OF A BITCH! DIE!”
quarta-feira, agosto 27, 2008
Beautiful Surprise
terça-feira, agosto 26, 2008
Uma Estória (7)
Quem é mais linda do que eu?
Sou eu,
Responde o sapo,
Sou eu!
Como é isso possível,
Sapo meu?
Como podes ser tu,
Mais lindo do que eu,
Sapo meu?
Sabes menina linda,
Não me conheces como eu sou,
Quem sou e o que posso fazer!
Quem te disse a ti
Que não sou um príncipe encantado,
Uma fada disfarçada,
Ou a mais linda das estrelas?
Porque te vejo,
Sapo meu,
E diante da tua "feiura"
Eu sei que sou bem mais linda,
Sapo meu?
Então aprende,
Menina linda,
Que nem tudo o que reluz,
É ouro,
E que quem vê caras,
Não vê corações.
Ia dar-te todo o meu reino
Ia fazer-te princesa,
Mas como só pensas em ti,
Nem quiseste saber de mim,
Fica a olhar-te ao espelho,
Por toda a eternidade,
Até ficares velha e feia,
Que eu volto
Para donde vim…
Por Joaquim do Que é a Verdade?
segunda-feira, agosto 25, 2008
Uma Estória (6)
Quando acorda tem uma espécie de gelatina sobre a boca e os olhos, quase não os consegue abrir. No banho tenta retirar o visco que a cobre. No joelho uma força estranha, uma dormência, uma energia bizarra a cobre, um caldo antigo e primordial sobre a rótula. No médico: "um caso raro"; "é pra ser fotografada"; "não vamos lancetar a coisa"; "Esperemos a evolução!". É medicada com drogas especialmente para doentes crónicos e casos de maleitas hiperactivas. Volta para casa a flutuar. No dia seguinte estava imóvel e vegetal sobre a cama. Um sorriso nos lábios disformes que se decompunham, os olhos gelatinosos desfaziam-se, por ciam dum joelho um girino desenvolvia-se sobre a epiderme. Por dentro do corpo a espinal medula ligava-se à perna esquerda, a respiração não era feita pela traqueia, mas sim por orificios junto à coxa. os lábios colam-se a face implode aos poucos, o cérebro deixa de funcionar. O girino desenvolve-se agarrado ao corpo. Utiliza-o para se deslocar. Numa ultima tentativa os médicos acham o fenómeno bizarro mas esperam mais desenvolvimentos, e através de cirurgia plástica reconstituiem-lhe a cara. Apesar disso os electro-encefalogramas acusam morte cerebral, as ligações sinapticas cortadas, a ligação motora interrompida. Quem controla o corpo como uma marioneta é Jack, O Sapo. É assim que se chama, e chegou para ocupar o seu lugar na carteira de Ana.
sábado, agosto 23, 2008
Uma Estória (5)
-Não entendo...isto antigamente, não era bem assim. Nós é que corríamos atrás do sonho e das princesas perfeitas, do beijo libertador, e tentávamos assumir uma outra personalidade qualquer!! - disse o sapo, encolhendo os ombros, se realmente os tivesse.
- Não me interessa essa conversa de psicologia invertida. Já te disse que só vou continuar a falar contigo se me deixares dar-te um beijo! Até lá...bem que podes procurar outra pessoa que saiba conversas contigo!
- Sabes bem que isso é impossível. Hoje em dia tudo o que foge ao normal é olhado de lado, assim com uma certa indiferença...como se até nem existisse. Ou se tivesse passado. Os da tua espécie têm medo do pseudo-anormal! Na realidade, eu até poderia ser a tua consciência materializada, como um certo insecto que uma outra história atrás. Só não tenho é chapéu, asas e bengala!
- Na realidade, eu posso mesmo deixar de falar contigo...e fazer de conta que não te vejo. É muito fácil. - a menina continuava encolhida no seu canto, de braços cruzados, recusando-se a olhar para o sapo que tinha ao colo.
- Eu não posso ser o teu príncipe encantado. Isso eram só histórias...sabes lá o que é que acontecia quando elas terminavam após aquelas palavras: E Viveram Felizes Para Sempre!"...a rotina, a casa, os filhos...olha, a Cinderela acabou por se viciar em comprimidos para dormir porque o seu príncipe ressonava deamsiado alto e não a deixava dormir!! As coisas não são bem como eram contadas. Afinal, vives num mundo de fadas, ou quê?!
- Não vivo, mas gostaria. Gostaria de acreditar que as histórias têm sim finais felizes e que por detrás de cada um há sempre aquela alma perfeita que apenas precisa de umas arestas limadas...mas tens razão...não posso forçar o que não é real...
- Isso sim...estás a ver? Eu tenho valor pelo que sou...um amigo teu que fala contigo, para além deste aspecto. Não sou mais nada do que isto. Outros tempos foram...
- Desculpa ter insistido tanto. Preciso sempre d eter algo para me agarrar. Olha, vou buscar-te uma folhinha fresca de alface e já venho!
A menina levantou-se e fez uma festa amigável no dorso do seu amigo verdusco. Enquanto fecha a porta, o sapo transforma-se num belo príncipe:
sexta-feira, agosto 22, 2008
Uma Estória (4)
Olhando para ti meu amigo
Mas o que hei-de fazer
Para poder falar contigo
Vou imaginar que tu és
O meu príncipe encantado
Vou procurar de lés a lés
E também por todo o lado
Quero encontrar o meu amor
E ter alguém só para mim
Meu coração é um tambor
Pois sinto-o bater assim
Neste canto à luz da vela
Estou falando contigo
Será a noite mais bela
Tenho-te a ti como Amigo!
Por Belisa do Estrela no Céu
quinta-feira, agosto 21, 2008
Uma Estória (3)
Era uma menina, igualzinha às outras meninas da sua idade. Com uma diferença: era uma papoila rubra, que se transformara numa linda princesa cheia de sonhos.
A menina todos os dias colocava a sua coroa de princesinha e sentava-se, durante algum tempo, num canto do seu quarto, alimentando o espírito de devaneios, ao mesmo tempo que esperava pacientemente pela materialização de uma quimera. Por debaixo daquela coroa pequenina, brilhava uma farta cabeleira negra, sob a qual habitava um cérebro idealista e rebelde. No castiçal tremeluziam as suas estrelinhas do êxito, emanando aromas enviados pelas ninfas do lago azul.
quarta-feira, agosto 20, 2008
Uma Estória (2)
Era uma vez…
Esta é a história de uma menina órfã de dezoito anos, a quem a vida escolheu como sendo um membro de uma das famílias mais nobres e ilustres da cidade. Maria, de seu nome, prima pela sua grandiosa maturidade, evidenciando um doce e feminino toque que desnuda a sua idade ainda precoce.
Mãe de Maria morreu tinha ela apenas dois anos de idade. Sempre num meio rodeado de criadas e de motoristas, Maria foi aprendendo a viver segundo regras e rotinas que lhe iam sendo impostas.
O pai da menina, eloquente diplomata, sonha uma carreira invejável para a filha, a quem sempre satisfez todas as necessidades económicas e materiais. Carinho e afecto não é linguagem que conste no seu dicionário, aliás, Maria está muito longe de se sentir amada.
Cabelos negros e longos esvoaçam ao sabor da brisa quando passa, a sua silhueta definida pelas curvas bem acentuadas do seu corpo e as excelentes combinações de vestuário modelam-na numa jovem elegante e atraente.
Maria vive quase sem ambição, dado que não é carecida de luxos ou caprichos. Os seus pequenos sonhos são considerados impossíveis. Apaixonada pela natureza, deseja em segredo ser bióloga, algo que nem ousa pronunciar perante a postura inquebrável de seu pai, que insiste numa carreira política.
Apesar de tudo, é uma rapariga sonhadora que idealiza um príncipe encantado montado num cavalo branco que um dia chegará para a vir buscar e para a libertar da sua vidinha de prisioneira. É assim que passa horas e horas a fio num pequeno sótão de arrumações que constitui um local mais discreto à criadagem.
Sente-se bem ali, talvez por ser a única divisão da casa que menos se parece com um museu, em que tudo tem que estar no sítio certo à hora certa.
Maria tinha um pequeno sapo, Greeny. Era com ele que passava grande parte do seu tempo livre no resgatado sótão. Era ele o bom ouvinte dos seus desabafos, problemas e das histórias dos seus sonhos.
Um dia, contagiada pela magia dos sonhos e da fantasia, achou por bem, uma vez na vida, tentar seguir o rumo do seu sentir e deixar-se envolver pela irrealidade dos devaneios.
Olhou Greeny nos olhos, sentiu-o a aproximar e suavemente o colocou na palma da sua mão. Pensou: “Como é que um animal tão pequeno pode significar mais para mim do que a minha família ou até do que as minhas regalias?”. Foi então que se chegou mais de perto, descalçou as luvas para o sentir na plenitude. Fechou os olhos e só o sentia na sua mão, estava rodeada por uma sensação de uma tranquilidade suprema. Aproximou-se ainda mais e teve a leve impressão de ver em Greeny um sorriso. A magia do momento transportou os seus pequenos e doces lábios para a boca do seu sapinho especial. Deixou-se levar e num sopro só sentiu-se envolvida por um abraço reconfortante. Continuou de olhos fechados… Teria chegado o príncipe? Será que era desta que conseguiria fugir para outro mundo num cavalo branco?
Por Patrícia do More Than Words
terça-feira, agosto 19, 2008
Uma estória (1)
Esta é a minha estória
Esta é a minha estória, neste canto que protege a minha vida… esconde segredos e alimenta sonhos. Acredito na felicidade como dom alcançável e é por isso que tenho estas velas… cuja luz me há-de manter sempre desperta para os subtis sinais da vida.
Ah… e tenho um sapo. Tem os meus olhos pela ternura e esperança com que o olho e assim chegará longe!E este é o meu retrato. Vêem? Sou linda…
Por Ni do Branco Escuro