O teu baloiço (II)...

Encontrei-te num dia, como encontrei tantos outros. Mas um dia destacaste-te de tantos pelo tempo que tivemos para nos conhecer. Nesse dia encontrei-te de verdade, encontrei a tua alma e o teu coração... Se havia empatia entre nós, nesse dia nasceu o carinho e a amizade. Desde então as cumplicidades foram muitas, brincadeiras foram muitas também, e a partilha sincera surgiu naturalmente.

Abriste-me as portas da tua casa, chamaste-a nossa. Deixavas-me entrar sem bater, sentar-me e servir-me de um pouco de bolo e leite. Muitas vezes precisava de um pouco de mimo e ia até lá… Tu percebias, mas nunca me perguntaste o que tinha… Servias-me o lanche, fazias-me rir, e passado uns minutos, uma horas talvez, então davas-me um carinho… sabias que eu preferia assim, precisava de uma palavra sem ter directamente.

Um dia partilhaste comigo o teu baloiço. Aquele baloiço que é tão especial, que o teu avô te fez. Aquele que não partilhavas com ninguém para que continuasse a ser o TEU baloiço. Mas um dia deixaste-me baloiçar nele… Desde esse dia, às vezes com a tua autorização outras vezes nem tanto, fugia para o baloiço e ficava ali, horas a fio… Sabes? Eu apenas gostava do baloiço porque era o teu baloiço… sentia-te lá comigo… por vezes ficava lá só à tua espera… à espera de te ver aparecer…

Hoje vieste até mim e disseste-me que tinhas encerrado a tua casa. Já me tinhas avisado, e no fundo sabia que o farias. Mas senti-me lesada! “fechaste a casa que é também minha?? Aquela que eu ia para te pedir colo?? Aquela que eu entrava sem pedir, sentava-me e servia-me??”.

No fundo foi revolta de primeiro instante, porque compreendi as tuas razões, acredita que sim… Construíste uma casa para alguém habitar lá… e esse alguém não existe mais. Fico feliz, sabes que fico feliz, por essa pessoa não existir mais… Sei que construirás um Castelo sobre a rocha e não uma casa como esta sobre a areia… E esse terá a mobília a condizer contigo, não será despersonalizado como a tua casa já estava.

Hoje vejo-te fechar a porta… As lágrimas surgiram-me é verdade… Olhas para mim, dás-me um abraço mas não me dizes adeus… mas até sempre...

E sempre... Sempre é tempo que nos restará!

(http://confessoaqui.blogspot.com/2007/06/est-encerrado-o-confessionrio.html)