terça-feira, junho 26, 2007

Escuto...


Caminho pela rua... A noite já vai alta, está tudo adormecido... Os passeios estão desertos, as ruas também... Apenas ouço os meus passos e o meu respirar... Olho para as vivendas de um lado e do outro lado da rua, também elas dormem.

Vou seguindo o meu caminho, quando vejo uma vivenda em particular me chama a atenção, esta destoa de todas as outras. A luz está acessa, em todo aquele bairro é a unica que parece ter vida. Vou aproximando-me.. No prumo daquela casa, algo me chama a atenção. Paro o meu caminhar, e fico olhar para aquele cenário. Olho para aquele grande jardim e bem cuidado, aquelas paredes, aquela casa imensa. Olho para aquela luz e algo me prende... concentro-me na luz.

Começo a ouvir aquele som... Todos os meus sentidos estão concentrados ali, naquela casa, naquelas vozes. Começo ouvir e percebo que o timbre é diferente do que esperava ouvir.... Não percebo o que dizem, mas.... Não, não são conversas... Faço um esforço para perceber mas não consigo... Mas há uma coisa que estou certa, não são conversas!! É... Uma discussão que se rola a li... Mas não é bem uma discussão... Um monólogo?? Não faz sentido... Mas de facto só ouço uma voz.. Fico presa ali naquele espaço. Os meus pés, as minhas pernas não se movem. Escuto apenas uma voz naquelas paredes imensas, um homem que fala, que grita. Estará sozinho??

Fico ali durante mais alguns segundos, alguns minutos... Parecem-me horas até. Será que ele está bem? Parece-me que sim, parece-me zangado, irritado... Mas com quem?? Porque?? Será que fala ao telefone?? Até que se ouve um grito... de uma mulher!! É um grito seco, de desespero... Fico gelada... O que se passava ali é bem diferente do que pensava. Ouço algumas portas a bater, uma luz que se acende no 1º andar... Fico ali, gelida... Que faço?? Bato à porta?? Telefono para alguém??

Olho para todos os lados, não vejo ninguém... olho para a casa, apoderou-se dela um silêncio profundo. Continuo ali, as ideias rodam na minha cabeça a mil à hora, mas nenhuma me parece a correcta. Olho novamente para todos os lados... Vejo um grupo de jovens vir lá ao fundo... Aproximam-se. Que faço?? O coração estremece e as pernas moveram-se... Afasto-me primeiro lentamente e depois com passo apressado. Chego rapidamente a casa. Deito-me no sofá e fico a pensar... Aquela voz não me sai da cabeça... E aquele grito... ecoa dentro de mim! O coração bate a mil a hora, e as lágrimas surgem... Adormeço de cansaço.

No dia seguinte acordo numa lástima... doi-me a cabeça, doi-me tudo. Tomo o pequeno almoço apressado e saio de casa... Já estou atrasada! Vou pela rua... Aquela, a mesma de ontem! Mas não estava já adormecida, a agitação tinha-se apoderado... Caminho apressadamente. Vejo aquela casa, aquela que ontem me prendeu ali e o coração voltou a tremer... O que vejo? Policia, bombeiros, ambulâncias... e uma imensidão. Aproximo-me e pergunto o que aconteceu. E responderam-me.... “Morreu, ela que morreu... Ninguém esperava... Ele sempre foi tão bom homem...”

"Se presenciar, suspeitar, ou for vitima de alguma situação de desrespeito pelos direitos humanos, não hesite, contacte o gabinete de apoio à vitima mais perto de si, ou ligue o número único 707 20 00 77 (Portugal)"

23 comentários:

  1. um drama das sociedades modernas.
    a verdadeira raiz desse problema é a educação. Uma educação com disciplina e amor. Claro que outros factores tb contribuem para este mal...!
    Quem sofre muito com este drama possa chegar aqui e ler um post com titulo "escuto...e ajudo"!
    A tua coragem de continuares em chamar atenção deste drama é de salutar.
    Bravo Cátia.
    Devemos todos, pois, levar avante a discussão deste problema, de o resolver(pelo menos algo).
    A chamada violência escondida..., é pena o ser humano ser fraco...pena mesmo!

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  2. Olá Cátia
    por momentos parecia tudo muito real...espero que estejas apenas a chamar a atenção das pessoas para a violência doméstica, cujos números são uma enormidade , mas que na maioria dos casos permanece na escuridão da noite, longe de olhares indiscretos ( como o teu ).
    A violência, qualquer tipo de violência deveria ser severamente condenada pela sociedade e pela justiça. Fechar os olhos não elimina o problema. E esperemos não sermos nós próprios vitimas desse mal tão antigo. Que me desculpe o Fontez, pois a violência é um problema de todos os tempos e de todas as sociedades.
    Beijos grandes

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  3. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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  4. Desculpa, elimina o comentário repetido. Beijos

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  5. Bom dia minha linda. Que belo post. Continua falando deste tema que não é fácil. Muitas vezes pensamos que é só nos meios sociais mais pobres, baixos que estes dramas acontecem, mas infelizmente é nos meios mais abastados que cada vez mais estes casos estão a aparecer.
    Linda um óptimo dia para ti. Fico feliz por saber que estás mais animadita.
    Beijocas.
    Fica bem. fica com Deus.
    Anita (amor fraternal)

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  6. Outro excelente texto sobre a violência doméstica. Parece que este problema tende a aumentar na nossa sociedade...

    Bjs

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  7. Primota, que orgulho, este teu grito é fantástico!
    Não nos podemos calar... não mudamos o mundo, mas podemos começar a mudar o "nosso" mundo, aquele que nos rodeia, que podemos tocar.

    Concordo com a Ofélia, a violência doméstica não é um mal da sociedade moderna, ela é um mal de todos os tempos. Eu arrisco mesmo a dizer que até há menos de meio século atrás ela era mesmo banalizada. Quem se importava que um marido desse uns tabefes na mulher? Certamente ela até os merecia, o jantar salgado, a roupa mal passada, a criança que ainda não estava a dormir, as obrigações de esposa não cumpridas, ou o facto de ela se desinibir um pouco e parecer da vida... uiiii podia falar a tarde inteira dos pseudo-motivos... da cobardia praticada às claras e aplaudida pelos vizinhos e familiares. Afinal... homem que é homem, tem que mostrar quem é que usa as calças lá em casa! Deste descriminar somos todos culpados... ainda hoje o fazemos. Calamo-nos por medo, vergonha, ou por vezes, pq damos por nós a desculpar o agressor.
    A violência doméstica é uma vergonha, para todos nós!

    Bem, eu já me estiquei muito neste comentário... mas tenho que dizer mais uma coisinha, pegando no que a Anita disse, e bem, esta não é uma questão das classes sociais baixas!

    Beijokitas querida, e sim, este é um exemplo de não Amor!

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  8. GRITEMOS TODOS:
    "Juntos contra a Violência"!
    ...

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  9. Eu já assisti a uma cena de violência entre um casal de amigos. Quer dizer, a partir desse dia, deixei de lhe falar a ele. Foi uma cena lamentável. Por causa de uma cerveja vi a minha amiga levar um estalo à minha frente. Fiquei fora de mim e sem pensar duas vezes mandei.lhe um estalo a ele... corri o risco de também as levar senão fossem uns amigos meus cestarem por perto.

    É uma luta diária esta!!
    E o mais importante é não ficar de braços cruzados sem fazer nada. Denunciar é o primeiro passo. O meu foi retribuir o estalo... mas ok, agi de cabeça quente.

    =**

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  10. Adorei o texto, acho que tens uma imaginação interessante, uma forma de contar estórias gira, não menospresando a seriedade do assunto em questão, gostava de te ler sonhar...

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  11. Linda!!

    Poias é mesmo necessa´rio estarmos sempre alerta para todos os indícios!!!
    Gostei muito do post, só revela o coração lindo que tens!!!

    beijinhso!!!

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  12. Antes de dormir fui às amoras... sabes que tinhas razão? :D
    Deves saber... eu é que não estava muito convencida... :S
    Continuo a gostar de amoras... e de silvas ;)
    Boa noite!
    Beijinhos!

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  13. Sou absolutamente hoje contra a violência e sobretudo a violência escondida nas casas de cada um.
    Comigo no entanto passou-se um caso único há já largos anos em Lisboa na rua.
    Um homem agredia uma mulher e eu fui proteger a mulher e acabei por levar um estaço dela, porque não tinha nada que me meter onde não era chamado!!!
    Claro que isso não mudou a minha opinião e hoje faria exactamente amesma coisa.
    Abraço em Cristo

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  14. Cátia,
    felizmente nunca presenciei nada igual, ainda bem e espero nunca o presenciar, mas se acontecer já sei o que fazer.

    A música lindissima, adoro, adoro, adoro. Aliás, até já a tive no belo blog.:)

    Sereno sorriso

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  15. Querida maninha,
    desde já deixa-me dar-te os parabéns porque este post, está realmente fantástico. Gostei bastante.
    É pena não existirem mais pessoas como tu, a dar valor ao que é realmente importante nesta vida.
    Sabes que a tua forma de escrever prende-me aos teus textos do início ao fim, e isso é muito bom.
    Penso que a violência existe desde sempre, apenas actualmente a sociedade já dá mais voz às vítimas apesar de ainda não ser suficiente o apoio manifestado.
    Cada vez mais é necessário, estar atento a todas as pessoas que nos rodieam e dar muito apoio a todas essas pessoas que sofrem. A maior parte dos casos são "escondidos", por vergonha, ou por medo.. Mas tem que acabar! é preciso denunciar estes casos, porque é um crime maltratar pessoas indefesas, é um tiro certeiro na sua dignidade...

    "Juntos contra a violência" ;)

    Beijinhos grandes e parabéns ;)

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  16. Que os nossos olhos não se cerrem...
    Que os nossos ouvidos não ensurdeçam...
    Que a noss boca não se cale perante a violência doméstica.

    Resta-me dizer obrigado pela tua coragem.
    Beijinhos no coração.

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  17. Minha Querida, uma realidade que NÃO GOSTAMOS, QUE NÃO QUERÊMOS, mas que sabêmos infelizmente que existe!!!

    Enquanto há vida há esperança.
    As Palavras não Chegam, são precisas acções, por isso um Bem Haja às Associações, bem como a pessoas como tu, que aqui revelam uma das partes mais negras da sociedade.

    Deixo uma palavra de esperança:

    Amanhã será um lindo dia
    Da mais louca alegria
    Que se possa imaginar

    Amanhã, redobrada a força
    Pra cima que não cessa
    Há de vingar

    Amanhã, mais nenhum mistério
    Acima do ilusório
    O astro rei vai brilhar

    Amanhã a luminosidade
    Alheia a qualquer vontade
    Há de imperar, há de imperar

    Amanhã está toda a esperança
    Por menor que pareça
    O que existe é pra festejar

    Amanhã, apesar de hoje
    Ser a estrada que surge
    Pra se trilhar

    Amanhã, mesmo que uns não queiram
    Será de outros que esperam
    Ver o dia raiar

    Amanhã ódios aplacados
    Temores abrandados
    Será pleno, será pleno
    (guilherme arantes)

    1 beijo em tu, amiga

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  18. cucu!
    Alguém pediu bolo de chocolate por aqui? =P
    É que a avó Plim faz sempre bolos enormes... é muita gente aqui em casa e então, ela arrisca sempre em grandes quantidades... resolvi trazer pra ti também =)*

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  19. Amiga!
    Queria deixar-te um beijinho e dizer-te que hoje já vim cá três vezes para ouvir a tua música de fundo...

    =^.^=

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  20. Linda venho deixar beijinhos de bons dias.
    Que o sol hoje ilumine o teu coraçãozinho lindo.
    beijocas.
    Fica bem. fica com Deus.
    Anita (amor fraternal)

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  21. Olá Cátia
    o que escreveste é real? ou é só do teu imaginário? seja como for, é bom ler para nos lembrarmos dos dramas da Vida.

    Entretanto...estamos no Verão, e isso significa muita agitação.
    Foi assim que a minha última semana se passou - é só eventos importantes; o lançamento do 1º livro do Amigo Augusto, do blog Klepsidra;
    a exposição de pintura da Amiga Margusta e, para a semana terminar em beleza, queria muito ir ao lançamento do livro do Amigo Mário...mas, não vai dar, pois é em Vila Nova de Gaia.
    Depois de ter recebido os convites...decidi pôr-me a caminho.
    Fui conhecer o bar/restaurante Ondajazz - Travessa Arco de Jesus,7 - Campo das Cebolas.
    Venham comigo a uma espécie de visita guiada.

    Abraços.

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  22. Infelizmente é mais banal do que o que se pensa... :(

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Recebo as vossas palavras de coração...