segunda-feira, maio 05, 2008

Não sei como dizer-te...

A pedido de várias famílias aqui, hoje deixo-vos Herberto Helder. O seu estilo destingue-se por ser diferente, tanto em termos de apresentação, como o jeito retorcido com que ele escreve a sua poesia... Por vezes tão complexa, que é impossível de perceber o sentido que o poeta quer dar ao tema.

Herberto Helder é considerado, por muitos, o melhor Poeta Português com vida, no entanto, por recusar aparecer em entrevistas ou sitios / festas famosas, é desconhecido por muitos. Que possamos estar mais atentos, para que não seja outro artista português a ter valor e a ser reconhecido o génio apenas depois de morto.


...

Não sei como dizer-te que minha voz te procura e a atenção começa a florir, quando sucede a noite esplêndida e vasta. Não sei o que dizer, quando longamente teus pulsos se enchem de um brilho precioso e estremeces como um pensamento chegado. Quando, iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado pelo pressentir de um tempo distante, e na terra crescida os homens entoam a vindima - eu não sei como dizer-te que cem ideias, dentro de mim te procuram.
Quando as
folhas da melancolia arrefecem com astros
ao lado do espaço
e o coração é uma semente inventada
em seu escuro fundo e em seu turbilhão de um dia,
tu arrebatas os caminhos da minha solidão
como se toda a casa ardesse pousada na noite.
- E então não sei o que dizer
junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.

Quando as crianças acordam nas luas espantadas
que às vezes se despenham no meio do tempo
- não sei como dizer-te que a pureza,
dentro de mim, te procura.
Durante a
primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço –
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega dos meus lábios,
sinto que me faltam
um girassol, uma pedra, uma ave – qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,
que te procuram.

(Herberto Helder in Poesia Toda)













Gala pintada por Salvador Dali

4 comentários:

  1. :) E uma das familias agradece.

    Gostei muito do poema... é um poema?

    Qual de nós nunca sentiu esse "não sei que dizer-te"?

    Concordo contigo. Que não seja mais um a ser reconhecido apenas depois da morte!

    Beijo grande!

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  2. OPS... :S

    Era "Não sei como dizer-te"...

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  3. então obrigado por este belissimo momento:)

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  4. olá catia como sempre que passo no teu blg gosto muito mas hoje fiquei imocionada é forte o sentinento beijo para ti e paz á alma dessa pessoa que te era tão especial beijo econtinua a ser como´és xau.

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