quinta-feira, julho 02, 2009

Chuva no Laranjal...

Acordei com a música compassada da chuva de primavera a bater na janela do quarto. Enrolei-me nos lençóis desalinhados na noite passada quando senti os contornos do teu corpo a afastarem-se dos meus. Tinha vontade de te puxar para mim, sentir os teus braços a contornarem-me o corpo e sentir novamente o teu calor a aquecer-me o coração... Mas não o fiz. Fiquei a sentir-te os movimentos lentos pelo espaço... Ouvi a água a correr lá dentro enquanto lavavas o rosto e logo a seguir o armário da entrada onde guardas a gabardina e as galochas que comprámos na feira da aldeia do ano passado. Sorri ao imaginar-te a calçar as galochas sobre o pijama e a saíres para o alpendre... E se alguém te visse que dirias? Dei uma gargalhada silenciosa só pelo pensamento...

Espreitei-te dali. A chuva tocava-te por mim e os pássaros segredavam-te ao ouvido segredos inconfessáveis... Que te diriam? Talvez tudo aquilo que tantas vezes não te disse... Descias pelo laranjal onde, por entre árvores, cheiravas as laranjas lavadas pela chuva. Escolheste as melhores, as mais maduras e as mais cheirosas e trouxeste-as no balde que carregavas contigo.

Pouco depois ouvi novamente a porta mas com os teus passos agora a preencherem o espaço... Ouvi o tilintar da loiça na cozinha, o barulho da cafeteira e... Fui invadida pelo cheiro do café que preparavas. Levantei-me suavemente dos nossos lençóis, desci as escadas silenciosamente para que não te apercebesses da minha chegada. Parei à entrada da cozinha e fiquei a ver-te em silêncio. Tinhas um sorriso terno enquanto preparavas o sumo das laranjas que colheste. Nesse momento o coração estremeceu, via um quadro que jamais quererei esquecer...

CA


Ontem, li o post "2 acordares" neste blog, um post fantástico (não consegui adicionar o link do post, mas procurar no dia 1 Julho de 2009). Apesar de todos os posts serem muito bonitos, este transmitiu-me uma imagem, um flash. Quem já falou comigo sobre a minha escrita sabe que por vezes tenho flashs a passarem-me à frente, como se um filme se tratasse, e devo aproveitar para os escrever ou descrever... Confesso que ontem não o fiz porque o flash original não era meu. Mas hoje, ao voltar lá, nao resisti a escrevo-lo. Espero que a Luísa e o Francisco Ré me desculpem pela ousadia. Obrigada por esta Chuva no Laranjal.

4 comentários:

  1. eu não tenho nada a desculpar, apenas a agradecer.
    as minhas palavras saíram das do francisco (inspiradas nas dele), pois também fiz um filme (o meu filme)... como é meu hábito!
    note-se: meu hábito... e não, mau hábito!
    vivo a fazer filmes, cátia!
    e gosto de os fazer...

    gostei de ver o teu... senti o cheirinho do café matinal, o barulhinho da chuva (e eu na cama)... mas eu agarrei-me a ele e, hoje, não o deixei ir colher as laranjas! eheheh (estava fresca eu! mais que as laranjas molhadas pela chuva).

    beijo grande
    luísa

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  2. Que bom ver-te de volta à escrita. Mesmo inspirada no outro post, está lindo!
    Beijoca

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  3. Luísa,

    Vives a fazer filmes e fazes muito bem... eheh. Gosto de os ler, tu sabes...

    Tambem gostei de o escrever, mas não consegui descreve-lo na totalidade... Gostei do cheiro a laranja e a terra molhada...

    Fresca hoje?! :D Existem outros cheiros e outros sabores tambem muito bons e deliciosos... nao é? ;) Estou certa que ele tambem adorou. eheheh.

    Beijo grande
    CA

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  4. Cris,

    Tenho voltado a escrever, pouco e devagarinho é certo, mas tenho... Nao posso continuar sem escrever. Como sabes, tenho uma certa dependencia!

    Beijocas

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