terça-feira, janeiro 20, 2009

No Jornal...

Como habitualmente, parei a caminho do escritório para comprar o jornal. Bebi café logo de seguida e lá fui para mais um dia de trabalho. Sentei-me à secretária, liguei o computador e abri o email. Depois de ver se havia algo de importante, fui ler as notícias do dia.

Assim que olho para a capa com um pouco mais de atenção, um titulo chamou-me à atenção: “Mulher morre queimada pelo marido”. O meu coração tremeu, desfolhei apressadamente o jornal à procura da tal reportagem. Leio apressadamente a notícia. Parece que o tal homem, chegou a casa bêbado e tentou agredir a mulher, mas como ela tentou defender-se, regou-a com álcool e ateou-a com o isqueiro.

Senti-me mal disposta, enjoada. Parecia que me tinham dado um murro na barriga. Levantei-me e fui a correr para a casa de banho. Sentia-me tonta, entrei num daqueles cubículos e vomitei o que não tinha comido. Depois, sentei-me naquele chão imundo e frio e fiquei ali, com os pensamentos a andar num turbilhão. O meu pensamento não largava aquela mulher, que sofria em silêncio, que aguentou sabe Deus o quê. Pensei nele, e em como seria ele quando estava sóbrio. Pensei nos filhos que o casal poderia ter e em como eles se sentiriam agora. Pensei nos amigos... Porque nunca fizeram nada? Será que também ninguém se apercebeu? Ninguém viu as evidências? Muitos comentarão agora o sucedido e as suas causas. Falarão e continuarão a falar, lamentar-se-ão por não terem visto.

De repente o pensamento muda de direcção e pensa nos meus amigos, nos meus filhos, na minha família. Também eles pensarão isso no dia em que me acontecer algo semelhante? Penso sempre que um dia ele vai parar, mas quem me garante que um dia não serei eu o motivo de notícia? Tentei acalmar-me, afinal tinha que voltar para o escritório para não transparecer nada. Lavei a cara com água abundante, e olhei-me ao espelho. “Como me tornei nesta que vejo?” – Perguntei-me sem tentar responder. Encolhi os ombros, enxuguei a cara, ajeitei a roupa, e saí para lutar por mais um dia, mais um dia a viver com a máscara posta.

CA.

15 comentários:

  1. Querida Amiga,
    Ausente (por aqui) mas sempre presente!!!!
    Beijinho graaaanddeee
    CA

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  2. :( à medida que estava a ler ..fui perdendo o sorriso..de facto é muito triste..quantas mulheres existirão nestas situações:(? jinhos

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  3. Nunca ninguém se apercebe. Os maridos que assim procedem são na regra "low profile", timidos e na relação e no exterior vivem em aparente harmonia. Em casa já se sabe. Por norma estes homens são cobardes, têm medo de levar na corneta doutro homem, baixa auto-estima e um orgulho exacerbado...É gente boa... E de alto gabarito social!
    Infelizmente falo com conhecimento de causa.

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  4. Para mim são "gente" marcada por muitos traumas.
    De má formação/educação.
    De origem problemática.
    De vidas difíceis.
    De falta de afirmação que torneiam frente ao elo mais franco perante si mesmos.
    Talvez um dia tenhamos homens e mulheres que se respeitem mutuamente.
    Até lá precisam de ser respeitados como ser humanos, coisa que nem sempre acontece em certos "mundos".

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  5. Querida Cátia,

    não te vai acontecer algo de semelhante, porque senão tinha que se ver comigo!!!
    Essas violências que só tomam voz quando existem mortes, fazem-me questionar o quão ainda temos que evoluir como almas e o quão esta sociedade é alienada. Quantos casos deste tipo de violência e doutro tipo se passam entre quatro paredes e ninguém dá conta: ou porque não querem saber ou porque já têm problemas que cheguem ou porque... E vivemos assim de costas voltadas para os outros, num isolamento desumano.
    Despertar as consciências, abanar as estruturas, perguntar que caminho é esse que se está a seguir faz parte da tua forma se ser, algo que muito admiro.
    Parece-te pouco? Lutas com as armas que tens.
    Força!
    Um abraço apertado.

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  6. O mais triste, é que há sempre alguém que sabia, alguém que se tinha apercebido, alguém que tinha ouvido... muitas vezes esse alguém era muita gente, os vizinhos, os amigos, a família.... mas todos calavam... porque entre marido e mulher ... ou porque não temos nada a ver com isso, ou porque ....

    É claro que depois falam.... mas depois, é tarde... é triste, mas é a sociedade em que vivemos.

    Por vezes pergunto-me se não poderíamos fazer mais.

    belo texto
    Jorge

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  7. É o mundo que temos, que nem Obama vai conseguir mudar... coragem amiga! Beijinhos

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  8. a maldade vai sempre assombrar a alma humana.
    alguns casos (q teimam em crescer), mergulha-se na loucura animalesca.
    podridão de coração.

    sejamos fortes.
    bj grande Cátia.

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  9. Pois é primota, primeiro deixa-me dizer-te que eu juntava-me à Cris e dávamos cabo do bandalho. ;)

    Quantas vezes já falámos neste assunto não é? Muitas, mas muitas mais ainda foram as vezes em que alguém perdeu a vida. Segundo um amigo comum da blogosfera, no ano passado 48 mulheres foram assassinadas, não é Jorge?
    Portanto, por muito que se fale nisso nunca é demais. Até porque a maioria das pessoas fecha os olhos. A comunicação social prefere coisas que vendam mais. A justiça... há justiça? Os nossos governantes preocupam-se também com outros assuntos mais importantes, como por exemplo chamarem-se de mentirosos uns aos outros. As famílias, infelizmente preocupam-se com a vergonha, com o que os outros vão dizer. As religiões, vão dizendo (todas) de forma mais ou menos clara, que mulher ainda não é bem gente e que os escravos se devem submeter sempre aos seus donos. E nós vamos falando, talvez apenas, enquanto a coisa não nos tocar na pele...

    "Pensei nele, e em como seria ele quando estava sóbrio." - um merdas! O álcool apenas solta os nossos demónios.

    Parabéns pelo texto!!!

    Beijo grande!

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  10. Ontem estive tambem no espaço do Jorge, e foi na sequência disso mesmo que coloquei este texto... Como diz a Cris, lutamos com as armas que temos e como vamos sempre dizendo "pelo menos falamos"...

    Quanto ao resto, acho que o texto e os números vão falando por si...

    Um beijinho para todos.

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  11. Só para dizer que gostei do papelinho. Já o guardei no bolso como lembrete e já estou confiante de não me enganar... a não ser que perca o papelinho, mas isso nunca acontece!!! :D
    (Espero que tenhas feito cópia.) :P

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  12. Olá amiga Cátia,
    infelizmente é uma realidade por vezes "escondida"só pessoas mal formadas partem para a "ignorância"mas infelizmente ,elas existem:0(
    Espero que estejas bem,eu estou bem;0)ando um pouquinha arredada dos blogs mas o tempo não dá para tudo:0(
    Beijinhos amiga.
    Lia

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  13. Amiga,
    tens um miminho lá no meu cantinho!
    Beijinhos sorridentes;0)

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  14. Não, é por estas e por outras que dou graças a deus pelo meu almoço nao ter mais que uma hora.. é que nunca consigo ler o jornal até ao fim.. e diga-se de passagem que a minha mania de ler os jornais e revistas de tras para a frente também tem as suas vantagens!

    Meu deus... como é possivel!?

    Beijo amiga!

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  15. Infelizmente, coisas horrendas vão acontecendo nos nossos dias.
    Bjo

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