quarta-feira, dezembro 31, 2008

Feliz 2009



A última noite do ano aproxima-se e é tempo de balanços... Este foi mais um ano que passo com a vossa companhia, com a vossa amizade... Mas não foi apenas "mais um", foi um ano cheio, cheio de momentos e alguns bem intensos... Foi um ano cheio de alegrias, de muitos sorrisos, mas também com algum sofrimento e lágrimas, muitas lágrimas também. Foi um ano de novas amizades, e algumas muito boas... Foi um ano de crescimento e de amadurecimento.

Vem aí um novo ano e com ele surgem pedidos, votos, desejos. Eu desejo que este ano vos traga muita saúde e felicidade... Depois deixo os votos convosco e desejo que este ano vos traga tudo o que mais desejam. Para mim? Para mim, para além de saúde, quero paz! Tenho alguns objectivos pessoais sim, e tenho já estruturado como vou conseguir alguns, mas.. Acima de tudo quero paz de coração e estar bem comigo mesma.

Espero que 2009 seja um ano melhor que 2008, não que este tenha sido mau, mas... Pedimos sempre um pouco mais, não é? Em termos de felicidade temos mesmo que ser ambiciosos. Tenham uma noite muito feliz, e que seja o reflexo de todos os momentos do ano. Feliz 2009!

domingo, dezembro 28, 2008

Silêncio...



A brisa corre, o sol aquece a manhã, o mar toca gentilmente a areia húmida, que os pés hesitam em pisar com medo do que poderão sentir… Por haver falta de melhor solução senta-se esperando que a vontade e coragem de entrar na água apareçam como um súbito desejo. Espera, espera e espera, até que uma tristeza lhe invade o pensamento distraindo-a de tudo o que esperava… Tal sentimento era fruto de algo que tinha ficado por resolver, de alguém que a magoou e não deu justificação para fazê-lo.

Há dias em que as palavras escassam… Por mais que tentemos agarrá-las e fazê-las falarem, elas conseguem sempre escapar. São aqueles dias em que queremos o silêncio, em que as palavras não chegam para dizer o que sentimos, em que nada nem ninguém serve de inspiração para criar conversa.Por vezes, as palavras estão tão gastas que o melhor remédio é deixa-las guardadas num canto e só usa-las quando é mesmo necessário. Daí as palavras rompidas e fartas, serem o objectivo profundo disto tudo… Um dia de descanso, ou até mais, é perfeito para elas não me fugirem para sempre e permanecerem no seu verdadeiro lar.

Brochado publicado aqui.


Hoje deixo-vos este texto excelente de alguém que passa por aqui em silêncio e que pertence a uma turma composta por algumas leitoras mais ou menos assiduas do Ticho. Ao 10º A, em especial à Sofia, à Morim, à Sara e claro à Brochado, um grande beijinho.

sábado, dezembro 27, 2008

Natal dos Sem Abrigo 2008

Já pensei relatar o que se passou no Jantar dos Sem Abrigo de Lisboa que participei, no fim de semana passado, mas como julgo que as palavras serão insuficientes para contar tudo o que aconteceu por lá, o ambiente criado por todos - voluntarios permanente e voluntarios apenas para o jantar, as vivências (melhores ou um pouco mais tristes e de desilusão - porque também existem!), as histórias, os sentimentos, os sorrios, deixo-vos um slide com algumas imagens...

Quero salientar que o João encontra-se em duas fotografias de casaco castanho e gorro preto, acompanhado por uma voluntaria e o Sr. Presidente da Comunidade Vida e Paz.


Quero ainda deixar um beijinho ao Pedro Lira (presente em duas fotografias com crianças) e à Sofia Cunha (responsaveis pela área das crianças) e à Sofia Valente (responsável pela área dos presentes - e que contacto desde há um ano na sequência da campanha das meias, e que tive a oportunidade de conhecer) pela excelente integração que fizeram aos voluntários. Foi um privilégio trabalhar convosco e com a CVP neste projecto. Se não nos encontrarmos antes, encontrar-nos-emos para o ano, sem dúvida!

ps - Obrigada Amiga por partilhares todos estes momentos comigo, foi bom ter-te ao lado a sorrir junto.

Adenda: por questões técnicas tive que retirar o slide e colocar o link... Peço desculpa pelo incomodo.

sexta-feira, dezembro 26, 2008

Numa rua agitada...

Estava sentada na esplanada daquela rua movimentada que apenas gosta de passar porque leva sempre a algum lugar, mas que hoje decidiu ir ali, àquele lugar. Sentada na esplanada olha para o ambiente geral agitado, os carros a passarem, as businas a tocarem, as pessoas a correrem de um lado para o outro... A correria de todos os dias, o stress, o mesmo que costuma ter, mas hoje decidiu parar. O stresss que sente agora é diferente daquele outro... Ansiedade? Talvez seja esse o sentimento... Medo? Imenso, embora não o queira admitir.

Hoje está ali, sentada naquela esplanada com a vida a correr-lhe ao lado, e ela ali parada, profundamente parada sem saber o que pensar, o que dizer, como reagir, apenas e só com medo de si própria no momento seguinte.

O relógio parece igualmente estático, o tempo não passa, e o que seriam 15 minutos parecem agora horas sem fim... Bebe mais um pouco de água e levanta-se, caminha devagar como que se isso evitasse chegar ao seu destino. Chega ao numero 1 da tal rua, olha para a porta e entra. Chama o elevador, olha-se ao espelho no seu interior, respira fundo e sobe ao terceiro piso. Procura a porta e empurra-a devagar como se pesasse toneladas.

Por detrás da porta uma senhora já com alguma idade lê um pequeno livro e ouve música classica. Ela entra e senta-se numa das cadeiras daquela sala vazia. Vê os quadros abstratos, as paredes, os tapetes e a carpete... Olha as portas fechadas e ouve vozes por detras de uma delas. "É por ali o caminho", pensa tentando-se convencer.

Algum tempo depois estava a fazer aquele percurso no sentido inverso. Caminhava com passos tremulos, mas com a certeza que tinha cumprido a sua missão por aquele dia, e que... o que se passou entre aquelas 4 paredes só ela saberia.

quarta-feira, dezembro 24, 2008

O verdadeiro Natal...

O João é um Sem Abrigo de Lisboa. Lá vinha ele com as suas vestes cinzentas, chapeu preto e com uma barba branca que lhe tapava todo o pescoço e pouco descobria da cara. Vinha do jardim, com uma flor na mão e uma verdura a acompanhar. Entra no espaço semi-vazio e diz em tom teatral:
- Hoje entrei pela porta do cavalo! Não entrei pela porta principal... - Denunciando o pequeno "crime" que tinha cometido.
- Foi?! Mas pelo menos traz uma flor... - respondeu a senhora que estava ao meu lado.
- E sabe como se chama esta flor? - Aproximando-se de nós, continuando com a sua forma teatral de falar - São tantas as Senhoras- que não sei a quem dar a flor. Mas dou um beijinho a quem souber o nome da flor.
Algumas de nós ainda tentámos dizer o nome, mas a maioria apenas dizia "não sei" ou abanava com a cabeça de forma negativa.
- Pois bem - disse ele - Fui perguntar à minha amiga Sara, florista, que flor era aquela mas que também não sabia. Florista e não sabia?! - Exclamava ele indignado. Mas continuou - Mostrou-me então um compendio de botanica e estivemos a ver e esta flor em latim chama-se ******is( sinceramente não consegui decorar o nome), mas mais conhecida por Não Sei.
Terminou e deu uma gargalhada. Nós todas ficamos a olhar para ele e depois desatamo-nos a rir também. Desejou-nos um Feliz Natal, mas que tinha que ir jantar porque esperavam-no lá dentro.
A cena teatral seria perfeita se não fosse interrompido pelo actor João Ricardo (este real e conhecido da nossa praça) que o queria conhecer (o João Ricardo ao João). Estiveram a falar um bocadinho ali a nossa frente, quando o João virou-se para o João Ricardo e disse num tom mais alto e novamente com a sua voz teatral:
- Agora tenho que ir, que esperam por mim para jantar, depois voltarei para dar autografos! - E seguiu-se nova gargalhada geral.


Pela conversa que estava a ter o João, o Sem Abrigo de Lisboa, é alguém culto e que por este ou aquele motivo foi parar à rua, onde reside. Aquela noite, no passado domingo, foi a sua ceia de Natal, com um prato de comida quente: Bacalhau, legumes e ovo, com arroz doce de sobremesa. Neste Natal lembrem-se do João, do Sem Abrigo de Lisboa, quando tiverem à vossa frente uma mesa farta, cheia de comida e doces, e pensarem que não gostam desta ou daquela comida, ou deste ou daquele presente. O Natal não é consumismo, presentes, e comer a perder de vista! O Natal é a celebração do nascimento de um Menino que nasceu pobre, sem luxos alguns. Natal é amizade, fraternidade, é familia, é sorrir... O João no meio da sua miséria brincava e sorria. Sabio como mostrou ser, talvez saiba bem melhor o que é o Natal que todos nós...

Desejo a todos vós um Santo e Feliz Natal junto da vossa familia, amigos ou pessoas que querem bem. Muita fraternidade e paz para todos vós.

CA

sexta-feira, dezembro 19, 2008

Hoje voltei lá...

Hoje voltei lá, voltei como tantas outras vezes volto num silêncio mais ou menos despercebido. Tudo parece calmo, abandonado, e esse o engano de muitos que lá vão. Olho em volta e vejo nas paredes os quadros que conheço de cor, alguns até pintados por mim, distração de horas que te queria por perto. Pintei para ti palavras que só tu entendias. As paredes, essas, são da cor de sempre, nada muito sofisticado, mas teu.

Caminho pelos corredores, e percorro o espaço. Veem-se aqui e ali fotografias, memórias de muitos momentos vividos, momentos partilhados, teus, tão teus... E nossos, teus e dos teus amigos, incluindo-me neles. Conheço as lembranças, mas ainda olho para elas como as visse pela primeira vez... E já foi ha tanto tempo!

Olho na sala o sofá, aquele que tantas vezes me enrolada esperando que o momento passasse, que passasse a tristeza, o medo... Depois chegavas tu em silêncio e vinhas com aquela fatia de bolo e um colo de leite, conjugação perfeita que partilhavamos. Não dizias palavra, não perguntavas nem questionavas aquele momento. Sabias sempre como chegar até a um sorriso meu, e esse era o momento em que eu sabia que era hora de lutar... Outras vezes era eu que lá te encontrava, e o caminho era o mesmo.

Vou, passo pela cozinha e sinto um aroma a café. Sorrio. Quantas vezes bebemos ali café deliciosamente ao sabor de uma conversa animada, de tanto disparate dito ou simplesmente ao sabor das noticias recentes. E a política? Quantas vezes era esse o assunto? Conversar, trocar ideias e criar novas visões...

Dirijo-me para a porta da rua e sigo para o jardim. Paro e vejo-te ali, de costas para a porta. Sabia que era ali que te iria encontrar... Não tinhamos combinado, mas estás a minha espera... Sabias que viria. Ouves-me os passos, coloco-te a mão sobre o ombro e tu chegas-te um pouco para eu me sentar também. Sento-me ali, contigo. Quantas foram as vezes que nos sentámos ali? Sentava-me ali quando queria sentir-te perto ou quando pedia ao vento para me levar os pensamentos. Muitas vezes dizias querer aquele espaço só para ti mas depois apenas fingias que não me vias por lá, quando ia à tua revelia...

Hoje sentamo-nos juntas ali, naquele nosso baloiço, a olha para o caminho à nossa frente. Sabemos que iremos para lá, mas também sabemos que não iremos sozinhas, caminharemos lado a lado com a confiança e amizade que construimos.

Hoje o Confesso Aqui faz 2 anos, sim faz, porque apesar de aparentemente abandonado, mantem-se visitado por vários. É um espaço especial, que foi e é um refugio meu. Lá encontrei alguém muito diferente e muito igual a mim que me abriu as portas daquela casa, e da sua vida. O baloiço ficará nos nossos corações e mantém-se naquele jardim, que voltamos que nem porto de abrigo. Parabéns ao Confesso e a ti, primota.

quarta-feira, dezembro 17, 2008

Dia de festa...

Existem pessoas que nos enchem a alma de carinho. Existem cantos que nos fazem sentir bem. O More than Words consegue juntar tudo isto: um canto especial de uma pessoa especial. Chegou por acaso e ficou, permaneceu e permanecerá para mim sempre, muito para além deste mundo que dizem virtual. Muita coisa já foi vivida e partilhada entre nós, foram (quase) dois anos intensos de crescimento...

...Porque existem coisas que não se explicam, que não se definem... são More Than Words! Parabéns mana querida, por seres a pessoa especial que és.

sábado, dezembro 13, 2008

Je t'aime...


Este é um dos videoclips mais marcantes que já vi e ouvi. Aproveito para dizer:

Je t'aime a todos vós, que eu tanto gosto

quarta-feira, dezembro 10, 2008

o combate com a realidade

"fausto olhou para o prédio tinha vidros em frente, vidros grandes assim em frente todo ele em vidros. a estaca zero era uma praça e os vidros reflectiam que os prédios uns tão outros e nuvens nas fachadas a passarem os prédios e as nuvens. a praça com um bar desfocado e a esplanada cheia de miúdas lindas. nem fausto começou era o álcool e tambem comprimidos. do que estava a ver. do que estava a ver começou o fausto chegou à praça e começou a atirar álcool para cima das fachadas e das ruas dos prédios. começou prédios de vidros linhas demasiado direitas e depois começou a entorná-los, como quem enche os folículos da cabeça do cérebro da cerveja eram linhas demasiado direitas. assim a enchere a inchar a cabeça de cerveja. e o ruído da espuma a chiar era a pressão nos ouvidos. e as raparigas sorriam-lhe cada vez mais sorriam cada vez mais elas mais bonitas e fausto cambaleava no meio dos sorrisos delas. e fausto tinha feito um pacto uma vez. fausto tinha feito um pacto, por isso elas sorriam-lhe
e olhava para as fachadas dos prédios eram uma esplanada, era uma praça à parte do mundo com uma esplanada, e as raparigas riam-se belas e bebiam cervejs, e o calor do verão por cima parecia uma cúpulacosmos de calor e as raparigas riam-se e mostravam os lábios sorridentes e carnudos com beijos lá dentro.
mas fausto estava interessado pôs-se a embirrar com a "realidade", estava mais interessado em distorcer a "realidade", porque a "realidade", porque a "realidade", diziam-lha. porque a "realidade" imitava-lhe com aquele arzinho irritante de tão ser a "realidade". por isso fausto entornava bebidas alcoólicas para cima das ruas, para cima dos prédios, enquanto os insectos ainda não lhe subiam as suas pernas aleatórias. e aranhas eram paridas pelas paredes.
primeiro era uma árvore que sofria torção, que cambaleava expressionista, uma árvore com os braços no ar a gritar clorofila verde que era e os ramos torcidos no ar clorofila. depois eram os comprimidos. depois eram as fachadas dos prédios que ficavam líquidas e de linhas bambas. a "realidade" sofria a investida era fausto a avançar odiava a "realidade". porque isso era quando as pessoas chegavam e diziam isto é a "realidade"e depois fausto cortava-lhes a garganta sempre que podia eles não se calavam!, eles não se calavam!, quando lhe diziam "a realidade".
fausto cravou as unhas nas gengivas da "realidade" e levou-a à força era um ringue com centenas de espectadores e de gladiadores. fausto tinha poder de encaixe, por isso bebia bebidas mágicas, a "realidade" batia em fausto, as miudas riram-se excitadas com quando há uma disputa pelos melhores genes, fausto tentava acertar na cada da "realidade" e quando pé no estômago ressentiu-se ao se curvar no ringue e o ringue falava ainda tempo para acabar. e fausto pregou-lhe um murro quando ela no chão depois com um pau no lombo a umas vezes nas vértebras outras nas costelas.
fausto estava francamente bêbado. no entanto estava a ganhar o combate à realidade. "a realidade" estava de gatas no chão a tentear levantar-se e eram cachos de sangue a caírem em cachos de sangue do nariz partido e a cada cabisbaixa quando sangue a cair em que isto sim se pode chamar poesia, o nariz partido e o sangue a cair aos bocados para o chão.
e fausto triunfava com os pulmões do cérebro pneumotórax na cabeça assim cheio de drogas.
nessa altura a cidade já se tinha liquefeito. as raparigas lindas tinham-se derretido com o calor, e boiavam mortas, com lábios entreabertos à esperaque fausto as fosse beijar corpos de princesas. fausto tentavanadar nas ruas liquefeitas, as pequenas ondulações da água eram reflexos de habitações, e os prédios quando se derretem transformam-se em água, nos reflexos ondulados da cidade tornada água. corpos de princesas.
agora que tinha mostrado ao mundo que tinha mostrado ao mundo que a "realidade" era fraca e que podia derrotar a "realidade", e que o mundo tinha derretido numa água cristalina e sem peixes, e qeu o mundo já tinha deixado de existir terra, agora só lhe faltava afundar-se afogar-se no fundo com um milhão de raparigas afogadas como o seu harém de princesas, corpos de."

por Rafael Dionísio em Cadernos de Fausto, Chili Com Carne 2008.

domingo, dezembro 07, 2008

Pára e pensa... precavê-te!

Arnaldo, 59 anos.
Após abandonar o ofício de sapateiro, Arnaldo, de 58 anos, casado e residente no Grande Porto, passou a dedicar o seu tempo livre a esculpir madeira com um canivete. As criações do artista de mãos habilidosas eram trabalhadas na rua, perante os olhares curiosos de dezenas de crianças que brincavam à sua volta.
Acabava por oferecer as esculturas aos miúdos. Quantos mais brinquedos dava, mas crianças andavam à sua volta. O povo nunca viu malícia naquela proximidade e, mesmo quando surgiram os primeiros boatos, a vizinhança não quis acreditar. Crianças carentes de afectos aceitavam "brincar" com o sapateiro em troca de presentes. Passaram-se anos até à primeira denúncia. Depois da primeira, sucederam-se outras, de meninas com idades entre os quatro e os oito anos, que o sapateiro desnudava, acariciava e pedia que lhe tocassem. Confrontado, negou quase por completo os crimes. Mesmo após a condenação, insistiu que eram só brincadeiras e que nunca seria capaz de fazer mal a uma criança. "Argumentava que jamais magoaria uma criança, até porque tinha familiares menores e que costumava brincar com eles", revela Armando Coutinho-Pereira*. Para o velho sapateiro Arnaldo, eram apenas "jogos" que fazia com as crianças.

António, 39 anos.
Poucas vezes António, tipógrafo, deixava as quatro paredes de casa. Era um solitário, com uma orientação sexual pouco esclarecida. Sujeito de trato fácil, mas muito reservado e introvertido, passava as noites a navegar na Internet, para dessa forma estabelecer contactos e marcar encontros com adolescentes (todos do sexo masculino), ora no seu apartamento, convidando-os para beber um porto ou para jogar bilhar num café pouco recomendado. Nessas alturas, em troca de dinheiro ou de prendas (como sapatilhas e bonés de marca), convencia os adolescentes a trocar favores sexuais. Umas vezes participando, outras assistindo. Na prisão, nunca teve uma vida fácil, pois tinha uns maneirismos/tiques muito singulares. Nunca revelou o seu crime. O psicólogo Armando Coutinho-Pereira* acredita que António nunca o entendeu. Para ele, eram apenas encontros.
Segundo o especialista*, António gozou de certa impunidade, porque os adolescentes em questão, de famílias mais ou menos carenciadas e pouco supervisionados (passavam o dia e, por vezes, as noites sozinhos, nas casas de uns e de outros), com vergonha e com receio de ser conotados com determinada orientação, só muito mais tarde o denunciaram e porque houve uma desavença.


Em Novembro arrancou em duas cadeias do país o "programa de intervenção terapêutica em agressores sexuais", sendo intervencionando em cerca 20 voluntários.

Uma característica dos "violas", como são comummente tratados no meio prisional, é a falta de sinceridade, manifestada através das mais diversas distorções cognitivas, levando a que se isolem. Regra geral, "negam ou minimizam as suas condutas, alegando que estavam alcoolizados ou drogados, que agiram por impulso ou que foram provocados pela vítima. Alguns tentaram convencer de que não pensaram no acto antes de tal acontecer. Muitas vezes, utilizam as distorções cognitivas como forma de minimizar as culpas. Outros há que acreditam que qualquer crime que seja originado por um acto impulsivo lhes poderá determinar uma sentença menor ou possibilitar um veredicto de culpado, mas inimputável. Uma vez condenados, aqueles homens "interiorizam estar no bom caminho", pois são integrados no contexto laboral e não registam medidas disciplinares", diz o psicólogo. Chegam ao ponto de não entenderem por que não beneficiam de medidas flexibilizadoras". (Armando Coutinho-Pereira).


"Não existem programas minimamente estruturados de avaliação, acompanhamento, intervenção e monitorização com agressores sexuais. Enquanto isso, a sociedade teoriza, questiona, reflecte e retém toda e qualquer iniciativa, dando espaço aos "predadores sexuais" para fazerem as suas vítimas, cumprirem penas de prisão e voltarem a fazer vítimas".

*Armando Coutinho-Pereira, psicólogo, mestre em Ciências Forenses e autor de um estudo sobre Distorções Cognitivas e Agressão Sexual

Nota: Post baseado na reportagem do JN de 21/10/2008 de Telma Roque, denominada «Cadeias tratam "predadores" sexuais».

sexta-feira, dezembro 05, 2008

...uma ordem!

Toda a gente sabe que eu sou uma pessoa sem opinião e submissa, que faz tudo o que me mandam. Ora bem, este é um post que prova isso mesmo! Disseram-me que queriam um post aqui até ao final da manhã, para ultrapassar o anterior, e heis-me aqui bem mandada a escrever.

O post anterior retrata uma situação muito complicada pela qual passei e que deixou marcas bem fundas em mim. Sei, e a pessoa que me ordenou tirar o post anterior de primeiro tambem o sabe, que não é por passar aquele post para segundo que vou ficar melhor mas, em todo o caso, é uma forma de não pensar tanto nisto, ou não ver esta imagem assim que entro aqui... Quero ainda agradecer a todos os que comentaram ou que fizeram chegar até mim algum conforto mediante assunto tão sensível. Fica no silêncio o que tanto queria dizer...

Para terminar em grande este post cheio de conteúdo, vou colocar uma música que me põe sempre a cantar... Aproveitem e juntem-se a mim, durante 2 minutos, a ouvir esta música fantástica!

quinta-feira, dezembro 04, 2008

A minha herança



A fraqueza é inata,
e essa foi a minha herança
a unica que trouxe
A unica que me deste...

A recordação mais nitida
que tenho de ti,
foi aquele momento
que te vi ali prostrado
diante de mim...

Foste cobarte,
não falaste...
escondeste-te...
e quando te fartaste,
decidiste partir...

Eu vi-te assim,
naquela figura
horas e mais horas
continuavas ali...

Ninguem reparou em mim
ninguem percebeu o que vi
ninguem percebeu o que senti
ninguem se preocupou...

Desde então achei
que tinha encontrado um solução
seguir-te... seguir o teu exemplo...

Muitas vezes pensei
que não conseguia continuar
Muitas vezes achei que era o fim
muitas vezes desisti...

Não fui...ainda...
faltaram as forças...
a coragem (ainda) não veio...
Um dia talvés nos encontraremos
aí onde estás...

Dir-te-ei que me marcaste,
que me magoaste,
que não te respeito
que não te amo...
que não me recordo de um beijo
muito menos de um abraço...

...recordo apenas aquele homem prostrado... diante de mim!

Faz 13 anos...

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Prémio Dardos



Hoje é dia de distinções por aqui... A Maria Oliveira , a Marita Ferreira e a So Maria distinguiram o Ticho como o prémio Dardos. Quero agradecer-lhes a distinção porque, apesar de não comentarem o Ticho, mostram que o conhecem, que sabem o que se vive por aqui, e reconhecem-no (será que estou a dizer algo que não o seja?!). A Maria Oliveira, a Marita e a Só Maria fazem também parte de uma serie de blogs que visito com alguma regularidade. São três blogs algo diferentes, mas também iguais, pela partilha que se vive: a Maria escreve "simples desabafos", muitos com que eu me identifico bastante (já lhe disse várias vezes, embora não sei se ela tenha consciência do quanto...), a Marita é mais como que uma defensora de causas LGBT, dando-nos a conhecer o outro lado de uma forma séria, sem extremos, mas por vezes também de forma engraçada; a So Maria mostra através da fotografia situações, sentimentos, estados de espírito, curiosidades que nos fazem pensar, mas também dizer os maiores disparates... Obrigada às três!


"Os Prémios Dardos destinam-se a distinguir os blogues que contribuem de forma significativa para o enriquecimento da cultura virtual, através da veiculação de valores culturais, éticos, literários, pessoais… premiando os blogueiros que demonstram a sua criatividade através do pensamento vivo e através das formas de comunicação que utilizam para o expressar. Estes selos, foram criados com a intenção de promover o salutar convívio entre os bloggers e como forma de demonstrar carinho e, reconhecimento por um trabalho, que agregue valor à Web.”

Quem recebe o “Prémio Dardos” (e o aceita) deve:

Exibir a respectiva marca /imagem;
Linkar o blog através do qual recebeu o prémio;
Escolher quinze (15) outros blogs aos quais atribuirá o “Prémio Dardos”.

A capela
Branco Escuro
Carracinha Linda
Contemplar
Conto Aqui
Gostar de Viver
Jardim dos Segredos
Maça com Canela
MaMaRiso
More Than Words
Partilhas em Fa Menor
Procurar-se
Sonhar que é possivel acabar com a pobreza
Sonhos ao Luar
The Sound of Silence

A selecção destes blogs teve duas origens: ou são blogs que eu comento bastante, há muito tempo e que são já de amigas que ficarão, que me cativaram; ou são blogs novos que apesar de recentes (para mim), considero merecedores de tal premio pelo primeiro impacto que me causaram. Parabéns a todos.