terça-feira, novembro 11, 2014

Vilarinho das Furnas


Vilarinho das Funas... Foi lá onde nasci, cresci e casei. Foi lá que nasceram os meus quatro filhos: três homens e uma mulher. Eles para ajudarem no campo, com os animais. Ela, para me ajudar em casa. Foi ali também que eu me apaixonei pela primeira vez...

Tinha 30 anos. Era Agosto e estava muito calor. Os dias seguiam iguais, com as tarefas de casa, a roupa, a comida dos animais, a ordenha das cabras e ovelhas, as crianças que ainda eram pequenas, principalmente a Lúcia, que ainda não era mais que um bebe de colo. Os dias passavam rapido, muito rapido. Mas aquele Agosto foi diferente. Era dia 15, dia da Assunção de Nossa Senhora, dia de festa e procissão na aldeia. As casas estavam enfeitadas, as mesas cheias de comida, as crianças brincavam pelas ruas e nós preparavamo-nos para ir para a Igreja com a melhor roupa.

As ruas enchiam-se de pessoas das aldeias vizinhas que vinham a Vilarinho. O padre colocava as novas vestes que chegavam de Braga... As velas acendiam-se e os instrumentos já anunciam o inicio da celebração. Passei os olhos de uma ponta a outra para ver o movimento... e foi aí que nossos olhos se cruzaram, foi aí que o vi, foi aí que logo tudo aconteceu.

 

(continua...)

quarta-feira, outubro 01, 2014

Carlos - 3ª parte

Naquele dia Carolina partiu, mesmo sem sair.  Carolina sabia que toda a sua presença não fazia mais sentido. Continua a frequentar a casa, a ir, mas sabia que já não estava. Até que um dia, pegou nas malas e partiu... Da mesma forma que chegou... Mas nada mais errado.

Carlos, de tão envolvido só percebeu o que se estava a passar, quando viu da janela a Carolina a colocar as malas no carro. Correu escadas abaixo, mas quando saiu pela porta, já Carolina estava a manobrar para sair da vaga em frente. Ela lançou-lhe apenas um olhar de quem desistia e ele, viu do meio da rua o carro a desaparecer na curva seguinte... E ficou ali, a ver tudo acontecer em camara lenta...


Passou-se 5 anos desde então e Carlos e Carolina são agora ambos casados, embora não um com o outro. Cada um seguiu reconstruiu a sua vida. Um do outro, ficou apenas a lembrança no passado. Muita coisa se passou entre aquela tarde em que Carolina saiu, até poderem seguir em frente... mas isso são histórias ficam... cicatrizes de uma guerra terminada.Mas no final, ambos têm a certeza que do pior retiraram o melhor, e são hoje são pessoas mais adultas e melhores por se terem conhecido e vivido o amor que nunca o foi.



segunda-feira, setembro 29, 2014

Carlos - 2ª parte

Carlos começou a acordar cansado, sem força nem energia... Carolina sentia que algo não estava bem. Perguntava-lhe mas ele acabava sempre por responder o mesmo: "era trabalho demais, preocupações e pouco descanso... " Ela aceitava a resposta mas os dois sabiam que não era verdade!

Aqueles 3 segundos, os exatos 3 segundos antes de dormir repetiam-se agora diariamente. Os seus pensamentos pareciam desencadear um big bang na sua propria cabeça todas as noites... Até que o sono deixou de vir! E aí os 3 segundos passaram a 3 horas e depois a 3 noites sem conseguir dormir. Carlos estava sem qualquer vontade de trabalhar, de estudar, de falar ou visitar amigos e a Carolina passou de final feliz para ser alguém que era preciso (também) desviar a atenção do que se passava... Mas como?

Os encontros romanticos deixaram de o ser tão romanticos e os beijos apaixonados deixaram de ser tão apaixonados... As conversas de horas, passaram  a ser conversas tão pequenas que muitas vezes pareciam não existir sequer.

Ele estava diferente e não estava a ser capaz de dar a volta... Ela não tinha como interferir, ele não deixava e ela... deixou que tudo acontecesse... como que se visse passar as águas do rio... o rio não corre sempre pelo seu leito? para quê tentar desviá-lo?

Certo dia,  quando estavam juntos, a aproveitar o silêncio ainda confortável, Carlos confessou-se que considerava que nada na sua vida corria bem... Carolina olhou-lhe sem perceber o que ele queria dizer... Questionou-lhe! Mas ele de tão envolvido com os seus pensamentos, já nada respondeu... o silêncio voltou, mas já não era o mesmo... era outro, aquele que incomoda...

Carolina olhou para a pequena vela que ainda brilhava no canto da sala... mas naquele instante ela apagou-se... e ficou escuro... muito escuro...

domingo, setembro 28, 2014

Carlos - 1ª parte

O Carlos era uma rapaz da aldeia. Filho unico. Morava com os pais numa casa distante do resto da aldeia. Talvez por isso tornou-se um rapaz isolado e inseguro. Cresceu assim, mas sendo filho unico tinha que corresponder às expectativas...Acabou por nunca se afastar. Estudou mas não fez faculdade porque tinha que começar a trabalhar, a ganhar o seu dinheiro. Nas horas vagas ia até ao café central encontrar-se com o grupo de amigos. Mas a verdade é que se sentia deslocado dali. Os amigos eram todos mais animados, com histórias novas sempre para contar e as raparigas, essas, só o viam como o rapaz amigo, que as podia ouvir a falar do namorado que não lhes ligava... Mas ele, o Carlos, sofria por um amor secreto que sabia não poder sequer contar...

O tempo passou, os amigos seguiram as suas histórias, os amores seguiram também e ele permaneceu ali... Até que um dia conheceu uma rapariga da cidade. Carolina. Ela era diferente de todas as que tinha conhecido até então. Era envergonhada, mas de opinião formada. Ao contrário do que acontecia sempre, ela não o rejeitou à partida. Ela foi-se mostrando e as conversas foram-se tornando cada vez mais animadas. Passavam horas a conversar e riam... Descobriam assuntos em comum e havia cada vez mais assunto.

Pouco tempo depois Carlos convidou Caroina para jantar. Ambos sabiam o que significava mas nenhum queria admitir. E no final da noite chegou o beijo... aquele beijo que Carlos desejava desde os tempos do liceu... o beijo que tantas vezes não conseguiu dar à rapariga popular da escola nem tão pouco à filha da vizinha... Carlos estava ali agora com Carolina.. O seu final feliz tinha finalmente chegado!

Carlos andava feliz mas por vezes antes de adormecer, naqueles 3 segundos antes de pegar no sono, naqueles exactos três segundos os seus neuronios entravam em colisão e os pensamentos surgiam, aqueles pensamentos que ele não queria pensar... Não, não queria... mas como evitar?