quinta-feira, janeiro 21, 2010

Entrevista a Fernando Pessoa...

A minha Entrevista a Fernando Pessoa (FP)...

CA: Muitos perguntam-se o porquê de criar os seus heterónimos. Pode-me revelar o porquê?
FP: Com uma tal falta de gente coexistível, como há hoje, que pode um homem de sensibilidade fazer senão inventar os seus amigos, ou quando menos, os seus companheiros de espírito?
CA: Mas muitos acham-no louco. Que considerações faz sobre isso?
FP: O génio, o crime e a loucura, provêm, por igual, de uma anormalidade; representam, de diferentes maneiras, uma inadaptabilidade ao meio.
CA: E essa inadaptabilidade que sentimentos lhe traz?
FP: A única atitude intelectual digna de uma criatura superior é a de uma calma e fria compaixão por tudo quanto não é ele próprio. Não que essa atitude tenha o mínimo cunho de justa e verdadeira; mas é tão invejável que é preciso tê-la.
CA: Para além da Ofélia Queiroz, que até influenciou a sua escrita, não teve muitos amores. Porquê?
FP: Nunca amamos ninguém. Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de alguém. É a um conceito nosso - em suma, é a nós mesmos - que amamos
CA: E a sua vida é tudo o que desejaria?
FP: A vida é para nós o que concebemos dela. Na verdade, não possuímos mais que as nossas próprias sensações; nelas, pois, que não no que elas vêem, temos que fundamentar a realidade da nossa vida. E viver não é necessário; o que é necessário é criar. Tudo quanto vive, vive porque muda; muda porque passa e, porque passa, morre. Tudo quanto vive perpetuamente se torna outra coisa...


Texto meu enviado na 7ª Jornada do
Campeonato Nacional de Escrita Criativa

6 comentários:

  1. É uma honra para ti conseguires uma entrevista com ilustre pessoa :)
    Está bem criativa, Parabéns !

    Beijo Grande

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  2. Já tinha lido numa revista qualquer que ele te tinha dado esta honra, não imaginei no entanto que o fizesse de form tão sincera. :)

    Gostei no geral, mas aqui acho que foste brilhante: "A única atitude intelectual digna de uma criatura superior é a de uma calma e fria compaixão por tudo quanto não é ele próprio. Não que essa atitude tenha o mínimo cunho de justa e verdadeira; mas é tão invejável que é preciso tê-la."

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  3. fantástico.
    está um texto evoluído, instruído e humano.

    parabéns.

    *

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  4. Cátia... adorei esta entrevista,imagino-vos aos dois na Brasileira ... conversando como se o tempo tivesse parado à vossa volta.
    Está extremamente bem elaborada, e as respostas ás tuas perguntas...são Pessoa em pleno.
    Jinhos de carinho

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  5. Uma ideia destas só podia vir de ti!
    Simples e brilhante !

    Beijos e bom fim de semana.

    PS: Desculpa a falta de assiduidade!

    InesC

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  6. "Com uma tal falta de gente coexistível, como há hoje, que pode um homem de sensibilidade fazer senão inventar os seus amigos, ou quando menos, os seus companheiros de espírito?"

    Gosto muito, mesmo muito desta frase!

    José

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