A Preta de Noite e os Três Anões
A noite caíra na companhia de uma ventania danada e de uns aguaceiros desesperados. Naquela noite, era como se as nuvens parecessem rebentar pelas costuras, tal era a intensidade e a brusquidão do temporal que eclodira. O vento assobiava e a chuva chicoteava as janelas das casas velhas, dando-lhes um ar de derrotadas. O céu negro escondia os mais belos cantos da aldeia, sugando-lhe muita da sua genuína beleza.
A aldeia, de seu nome Dwarfland, tinha o seu próprio encanto, deslumbrava qualquer um que lá entrasse, embora não fossem muitas as pessoas a sujeitarem-se àquele chão. Dizia a lenda, que quem lá entrasse se tornaria um tanto ou nada mais pequeno, anão! Diziam os antigos, que aquele lugar soprava uns pós mágicos que actuavam convertendo os seus visitantes a verdadeiros habitantes daquele lugar magnífico. E a parte mais importante, é que quem entrasse não voltaria a sair. Deveria lutar pela felicidade naquele sítio recôndito…
Nessa mesma noite tempestuosa, disfarçada por entre a escuridão, surgiu Preta de Noite. Era tão negra quanto o céu naquele momento, só o grande chapéu vermelho a fazia distinguir minimamente perante aquele ambiente negro. Em tudo se assemelhava com a noite, não só pela cor, mas também pela sua maneira de falar tão calma. Afinal, a noite é uma boa conselheira e, mesmo em silêncio, parece fazer-se ouvir calmamente.
Preta de Noite, após sofrer a transformação devida, que normalmente desfigura aqueles que lhe estão submetidos, continuava de igual forma bela, respirando encanto e serenidade. À parte de tudo isto, tinha um pé de Cinderela, o seu pequeno sapato 32 oferecia-lhe um toque especial. Aquando da sua transformação em anã, um deles permaneceu com o seu tamanho original. E ali ficou, num canto, ligeiramente sob um arbusto.
Num belo dia de Sol, Preta de Noite passeava pelos caminhos de Dwarfland, acabando por encontrar três companhias que viriam a ser muito especiais. Becas, Bicas e Bocas eram três anões irmãos muito simpáticos. Embora existissem várias semelhanças entre eles, existiam alguns pormenores que permitiam a sua distinção. Becas usava sempre um boné azul garrido com uma bolinha branca de algodão na extremidade. Tal característica dava-lhe um ar muito divertido e conferia-lhe muita graça. Era o que se podia chamar um tipo porreiro! Bicas transparecia uma personalidade vincada e parecia bastante eloquente. Os óculos castanhos colocados na ponta do nariz bicudo era uma marca exclusivamente sua. Passava grande parte do tempo a falar sobre o pai, um anão bastante querido na aldeia, que havia morrido há meses com cento e noventa anos, vítima de uma doença no estômago. Por fim, Bôcas ou Bócas, como lhe queiram chamar, era um super-anão. Saltava à vista o seu tamanho, era o mais pequeno dos três irmãos. Contudo, o que era de salientar era a sua extrema simplicidade e humildade. Foram talvez estes dois aspectos que fizeram com que Preta de Noite se apaixonasse por ele.
Bocas e Preta de Noite faziam um par impecavelmente harmonioso. Desde o dia em que assumiram um namoro, eram admirados por todos os habitantes da aldeia. Afinal aquele lugar parecia ser um óptima escolha para se viver… Tinha uma magia incomensurável, além disso, ser anão significava mais anos de felicidade.
Rapidamente chegou o dia em que ficaram noivos. Foi um dia para colmatar algum espaço do coração, onde não tivesse chegado aquele grande amor. Bocas tinha encontrado a mulher com quem queria ficar para sempre, agora restava-lhe finalmente abandonar a casa onde vivia com os seus dois queridos irmãos. A despedida foi custosa, apesar de não significar grande distância, pois ficaria com a sua noiva em Dwarfland. Bicas mostrava-se cabisbaixo ao ver o seu Bocas partir, Becas apesar da sua maneira tão entusiasta de viver, não conseguia esconder alguma nostalgia antecipada. Bocas, esse, não conseguiu evitar o lencinho branco para enxugar as lágrimas teimosas que surgiam no canto do olho. E, assim, Bocas partiu rumo a uma nova vida…
Bocas e Preta de Noite casaram, envoltos por uma festa maravilhosa na aldeia. Daí em diante, tinham a sua própria casa e partilhavam todos os retalhos das suas vidas, que agora eram uma só. A casa era bela e aconchegante. A chaminé soprava o aroma dos petiscos de Preta de Noite e a simplicidade da morfologia da casa transluziam a personalidade do pequeno Bocas. E assim viveram muito felizes, aconchegados no calor de um sapato número 32.
- Alguma vez eu pensei viver no meu próprio sapato?! – dizia Preta de Noite às gargalhadas.
- Ao menos não pagamos renda!! – respondia Bocas a rir.
Do outro lado da aldeia, Becas e Bicas dialogavam, já mais animados.
- A Preta de Noite calhou na rifa ao Bocas! Será que a Branca de Neve está guardada para mim?! – dizia Becas a rir, com o seu espírito bem disposto de volta.
- Nunca se sabe – respondia Bicas a sorrir.
A noite caíra na companhia de uma ventania danada e de uns aguaceiros desesperados. Naquela noite, era como se as nuvens parecessem rebentar pelas costuras, tal era a intensidade e a brusquidão do temporal que eclodira. O vento assobiava e a chuva chicoteava as janelas das casas velhas, dando-lhes um ar de derrotadas. O céu negro escondia os mais belos cantos da aldeia, sugando-lhe muita da sua genuína beleza.
A aldeia, de seu nome Dwarfland, tinha o seu próprio encanto, deslumbrava qualquer um que lá entrasse, embora não fossem muitas as pessoas a sujeitarem-se àquele chão. Dizia a lenda, que quem lá entrasse se tornaria um tanto ou nada mais pequeno, anão! Diziam os antigos, que aquele lugar soprava uns pós mágicos que actuavam convertendo os seus visitantes a verdadeiros habitantes daquele lugar magnífico. E a parte mais importante, é que quem entrasse não voltaria a sair. Deveria lutar pela felicidade naquele sítio recôndito…
Nessa mesma noite tempestuosa, disfarçada por entre a escuridão, surgiu Preta de Noite. Era tão negra quanto o céu naquele momento, só o grande chapéu vermelho a fazia distinguir minimamente perante aquele ambiente negro. Em tudo se assemelhava com a noite, não só pela cor, mas também pela sua maneira de falar tão calma. Afinal, a noite é uma boa conselheira e, mesmo em silêncio, parece fazer-se ouvir calmamente.
Preta de Noite, após sofrer a transformação devida, que normalmente desfigura aqueles que lhe estão submetidos, continuava de igual forma bela, respirando encanto e serenidade. À parte de tudo isto, tinha um pé de Cinderela, o seu pequeno sapato 32 oferecia-lhe um toque especial. Aquando da sua transformação em anã, um deles permaneceu com o seu tamanho original. E ali ficou, num canto, ligeiramente sob um arbusto.
Num belo dia de Sol, Preta de Noite passeava pelos caminhos de Dwarfland, acabando por encontrar três companhias que viriam a ser muito especiais. Becas, Bicas e Bocas eram três anões irmãos muito simpáticos. Embora existissem várias semelhanças entre eles, existiam alguns pormenores que permitiam a sua distinção. Becas usava sempre um boné azul garrido com uma bolinha branca de algodão na extremidade. Tal característica dava-lhe um ar muito divertido e conferia-lhe muita graça. Era o que se podia chamar um tipo porreiro! Bicas transparecia uma personalidade vincada e parecia bastante eloquente. Os óculos castanhos colocados na ponta do nariz bicudo era uma marca exclusivamente sua. Passava grande parte do tempo a falar sobre o pai, um anão bastante querido na aldeia, que havia morrido há meses com cento e noventa anos, vítima de uma doença no estômago. Por fim, Bôcas ou Bócas, como lhe queiram chamar, era um super-anão. Saltava à vista o seu tamanho, era o mais pequeno dos três irmãos. Contudo, o que era de salientar era a sua extrema simplicidade e humildade. Foram talvez estes dois aspectos que fizeram com que Preta de Noite se apaixonasse por ele.
Bocas e Preta de Noite faziam um par impecavelmente harmonioso. Desde o dia em que assumiram um namoro, eram admirados por todos os habitantes da aldeia. Afinal aquele lugar parecia ser um óptima escolha para se viver… Tinha uma magia incomensurável, além disso, ser anão significava mais anos de felicidade.
Rapidamente chegou o dia em que ficaram noivos. Foi um dia para colmatar algum espaço do coração, onde não tivesse chegado aquele grande amor. Bocas tinha encontrado a mulher com quem queria ficar para sempre, agora restava-lhe finalmente abandonar a casa onde vivia com os seus dois queridos irmãos. A despedida foi custosa, apesar de não significar grande distância, pois ficaria com a sua noiva em Dwarfland. Bicas mostrava-se cabisbaixo ao ver o seu Bocas partir, Becas apesar da sua maneira tão entusiasta de viver, não conseguia esconder alguma nostalgia antecipada. Bocas, esse, não conseguiu evitar o lencinho branco para enxugar as lágrimas teimosas que surgiam no canto do olho. E, assim, Bocas partiu rumo a uma nova vida…
Bocas e Preta de Noite casaram, envoltos por uma festa maravilhosa na aldeia. Daí em diante, tinham a sua própria casa e partilhavam todos os retalhos das suas vidas, que agora eram uma só. A casa era bela e aconchegante. A chaminé soprava o aroma dos petiscos de Preta de Noite e a simplicidade da morfologia da casa transluziam a personalidade do pequeno Bocas. E assim viveram muito felizes, aconchegados no calor de um sapato número 32.
- Alguma vez eu pensei viver no meu próprio sapato?! – dizia Preta de Noite às gargalhadas.
- Ao menos não pagamos renda!! – respondia Bocas a rir.
Do outro lado da aldeia, Becas e Bicas dialogavam, já mais animados.
- A Preta de Noite calhou na rifa ao Bocas! Será que a Branca de Neve está guardada para mim?! – dizia Becas a rir, com o seu espírito bem disposto de volta.
- Nunca se sabe – respondia Bicas a sorrir.
Patrícia do More Than Words e mais
Gostei imenso! Muita imaginação!! Parabéns, Ana! Beijos.
ResponderEliminarPara baralhar nomes sou uma artista!! Parabéns, Patrícia!! Onde é que fui buscar Ana??!! Francamente...beijos.
ResponderEliminarmuito bom.
ResponderEliminaruma descrição fantástica dos lugares/ambientes, ex: "O vento assobiava e a chuva chicoteava as janelas das casas velhas, dando-lhes um ar de derrotadas".
mágico.
nota-se na escrita da dear Pati uma evolução, mais rica, mais descritiva, mais sofisticada.
gosto. e claro a alegria e positivismo continua empregue nas suas palavras, e ainda bem :)
este desafio da Cátia corre o risco de virar a livro lol! Um desafio com muita gente a participar e com textos fantásticos.
É realmente desafios como estes que dão-nos impulso de estarmos a sós com a nossa escrita, as nossas palavras...!...e com a imaginação...! :)
bj
Muito bem, menina Patrícia...
ResponderEliminarmagnífica escrita!... gostei!
Beijinho
Parabéns Patrícia, a nova personagem é de uma orinalidade fantástica e bela.
ResponderEliminarBonita história.
Serenos sorrisos
Obrigada a todos :)
ResponderEliminarBeijinhos grandes
p.s - Paula, não tem mal ;) Por acaso era para me ter chamado Ana, mas parece que o meu nome já era grande o suficiente, eheh ;)
Que belo conto, imaginativo e com sentido de humor! Muitos parabéns!
ResponderEliminarIsabel
Manoquinhas,
ResponderEliminarParabens pelo o conto, está fantastico, muito rico nas descrições e estória.... Para quem nao queria escrever, saiste-te muito bem ;)
Obrigada por estares presente e por alinhares sempre nestas minhas coisas.
Beijinho mt grande
Patrícia,
ResponderEliminarJá disseram praticamente tudo o que eu tinha a comentar, mas que não seja por isso que eu deixe de fazê-lo também.
Gostei imenso, é muita imaginação, bem escrito e divertido, parabéns!
E um Bj!
Emocionante história! Tens muito jeito e tens umas expressões deliciosas ao longo do conto. Parabéns!
ResponderEliminarContinua a tua escrita que acho que ainda te vou ver na capa de um livro!
Beijinhos