domingo, dezembro 07, 2008

Pára e pensa... precavê-te!

Arnaldo, 59 anos.
Após abandonar o ofício de sapateiro, Arnaldo, de 58 anos, casado e residente no Grande Porto, passou a dedicar o seu tempo livre a esculpir madeira com um canivete. As criações do artista de mãos habilidosas eram trabalhadas na rua, perante os olhares curiosos de dezenas de crianças que brincavam à sua volta.
Acabava por oferecer as esculturas aos miúdos. Quantos mais brinquedos dava, mas crianças andavam à sua volta. O povo nunca viu malícia naquela proximidade e, mesmo quando surgiram os primeiros boatos, a vizinhança não quis acreditar. Crianças carentes de afectos aceitavam "brincar" com o sapateiro em troca de presentes. Passaram-se anos até à primeira denúncia. Depois da primeira, sucederam-se outras, de meninas com idades entre os quatro e os oito anos, que o sapateiro desnudava, acariciava e pedia que lhe tocassem. Confrontado, negou quase por completo os crimes. Mesmo após a condenação, insistiu que eram só brincadeiras e que nunca seria capaz de fazer mal a uma criança. "Argumentava que jamais magoaria uma criança, até porque tinha familiares menores e que costumava brincar com eles", revela Armando Coutinho-Pereira*. Para o velho sapateiro Arnaldo, eram apenas "jogos" que fazia com as crianças.

António, 39 anos.
Poucas vezes António, tipógrafo, deixava as quatro paredes de casa. Era um solitário, com uma orientação sexual pouco esclarecida. Sujeito de trato fácil, mas muito reservado e introvertido, passava as noites a navegar na Internet, para dessa forma estabelecer contactos e marcar encontros com adolescentes (todos do sexo masculino), ora no seu apartamento, convidando-os para beber um porto ou para jogar bilhar num café pouco recomendado. Nessas alturas, em troca de dinheiro ou de prendas (como sapatilhas e bonés de marca), convencia os adolescentes a trocar favores sexuais. Umas vezes participando, outras assistindo. Na prisão, nunca teve uma vida fácil, pois tinha uns maneirismos/tiques muito singulares. Nunca revelou o seu crime. O psicólogo Armando Coutinho-Pereira* acredita que António nunca o entendeu. Para ele, eram apenas encontros.
Segundo o especialista*, António gozou de certa impunidade, porque os adolescentes em questão, de famílias mais ou menos carenciadas e pouco supervisionados (passavam o dia e, por vezes, as noites sozinhos, nas casas de uns e de outros), com vergonha e com receio de ser conotados com determinada orientação, só muito mais tarde o denunciaram e porque houve uma desavença.


Em Novembro arrancou em duas cadeias do país o "programa de intervenção terapêutica em agressores sexuais", sendo intervencionando em cerca 20 voluntários.

Uma característica dos "violas", como são comummente tratados no meio prisional, é a falta de sinceridade, manifestada através das mais diversas distorções cognitivas, levando a que se isolem. Regra geral, "negam ou minimizam as suas condutas, alegando que estavam alcoolizados ou drogados, que agiram por impulso ou que foram provocados pela vítima. Alguns tentaram convencer de que não pensaram no acto antes de tal acontecer. Muitas vezes, utilizam as distorções cognitivas como forma de minimizar as culpas. Outros há que acreditam que qualquer crime que seja originado por um acto impulsivo lhes poderá determinar uma sentença menor ou possibilitar um veredicto de culpado, mas inimputável. Uma vez condenados, aqueles homens "interiorizam estar no bom caminho", pois são integrados no contexto laboral e não registam medidas disciplinares", diz o psicólogo. Chegam ao ponto de não entenderem por que não beneficiam de medidas flexibilizadoras". (Armando Coutinho-Pereira).


"Não existem programas minimamente estruturados de avaliação, acompanhamento, intervenção e monitorização com agressores sexuais. Enquanto isso, a sociedade teoriza, questiona, reflecte e retém toda e qualquer iniciativa, dando espaço aos "predadores sexuais" para fazerem as suas vítimas, cumprirem penas de prisão e voltarem a fazer vítimas".

*Armando Coutinho-Pereira, psicólogo, mestre em Ciências Forenses e autor de um estudo sobre Distorções Cognitivas e Agressão Sexual

Nota: Post baseado na reportagem do JN de 21/10/2008 de Telma Roque, denominada «Cadeias tratam "predadores" sexuais».

11 comentários:

  1. É preciso pensar que estes males não acontecem só aos outros, não acontecem por pessoas estranhas que passam. Não! Não os predadores sexuais não têm escrito na testa que o são... São pessoas comuns, que um ou outro motivo desencadeiam estas atitudes bestiais (de besta, claro!).

    Cuidem das nossas crinças, mil olhos bem abertos, são sempre poucos...

    Aos senhores governantes deixo apenas a repto: teorizem menos, e ajam mais, afinal não têm tambem filhos, sobrinhos, netos?!

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  2. Sabes uma coisa..feliz daquele que vive na ignorância ...quanto mais conhecemos o ser humano ...mais triste ficamos...:(:(:( beijinhos para ti

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  3. Os governantes estão preocupados com estatísticas para tapar os olhinhos da União Europeia! Os problemas a sério não são para resolver.
    Faço coro contigo, Cátia: Cuidem das nossas crianças!

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  4. Se vamos estar sempre a pensar em tudo o mal que existe nesta sociedade penso que nem conseguimos viver na plenitude da palavra...

    Obrigada pela visita no meu canto-Shakti é um nick que já uso desde 1999, anteriormente ninguém (ou quase ninguém)sabia o seu significado, agora começa a ser mais divulgado !

    bj

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  5. Shakti,

    isso são palavras de quem nunca viveu de perto ou sentiu na pele aquilo de que se fala neste post.

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  6. O problema não é Português, é do mundo. O problema não me atinge directamente, pelo menos para já. E eu quero pensar nos males do mundo e depois e beber um cafézinho e esquecer-me. Mas, acontece que eu vivo em Portugal e é em casa que começo por querer as coisas organizadas. Mas, se o problema me atingisse directamente eu até tenho medo de pensar no que seria capaz de fazer ao predador. Mas, seria mais fácil ir beber um cafézinho e esquecer, se soubesse que há penas decentes a serem cumpridas. E que para os predadores há um tratamento capaz para que ao saírem, não volte a acontecer. Castração química por exemplo?!

    Quanto aos pais, aos avós, aos tios... cuidem das crianças, educando. Estando atentos...

    Parabéns pelo post primota!

    Beijinhos!

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  7. Amiga,
    Parabéns pelo post!!
    Sabes o quanto este tema me preocupa, sabes o quanto tento estar de olhos bem abertos... Mesmo assim o medo prevalece... Tal como a Marta diz: não sei o que faria!!!
    Dada a impotência ou prepotência dos nossos governantes e a ineficácia da justiça, resta-nos cuidar das nossas crianças... Acho muito pouco face a situações aterrorizadoras que vamos constatando, MAS.... O que podemos fazer mais??.....
    Beijinho grande
    CA

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  8. ...NO BRASIL ELES CORTAM ESTES TIPOS EM VARIOS BOCADOS...parece um pouco barbaro,mas a verdade e que nao vejo punicao suficiente para o que fazem!!

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  9. Olá Cátia,
    parabéns pelo post!Como dizes:mil olhos bem abertos, serão sempre poucos...beijinho cheio de luz.

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  10. É um problema para o qual se tem sempre que estar alerta!

    A pena de prisão para os "violas" não é castigo suficiente! O melhor castigo era mesmo ir cortando uma determinada parte do corpo aos bocadinhos e muito lentamente!...

    Bjs!

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  11. Por mais que estejamos atentos há coisas que escapam ao olhar menos perspicaz.
    Quando criança fui muito assediada por tarados desta espécie. Nós naquela época nem abertura tínhamos para falar do assunto aos nossos pais e os predadores até podiam ser vizinhos com o ar mais sério deste mundo e até pais de família.
    Por isso também eu digo, redigo e repito:
    MUITA ATENÇÃO!
    PROTEJAM AS VOSSAS CRIANÇAS!

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Recebo as vossas palavras de coração...