segunda-feira, agosto 03, 2009

Adormeço...

Deito-me sobre a cama como se não suportasse por mais um segundo o peso do meu corpo. O candeeiro sobre mim está acesso iluminando o espaço. Os olhos querem-se fechar mas não posso permitir. Giro, a custo, a cabeça e olho para o despertador electrónico sobre a pequena mesa. Passam já trinta e três minutos da meia-noite, e eu ali como que morta sobre a cama. Se ainda tivesse um pequeno folgo, questionar-me-ia sobre a vida, sobre o que é isso de viver... Mas não consigo sequer pensar em me levantar para trocar de roupa e apagar o candeeiro que me ofusca.

Faço as contas que sei de cor: faltam cinco horas e cinquenta minutos para que o despertador volte a tocar... Depois a corrida de todos dias cheias de contas que também sei de cor: trinta minutos para despachar e acordar as crianças, quinze para lhes dar o pequeno-almoço e fazer o almoço que levo comigo, cinco minutos a pé até ao autocarro, trinta minutos de autocarro, seguidos de dez minutos de comboio, e mais dez a pé. Depois de oito horas de trabalho, são dez minutos a pé e vinte de comboio que me separam do segundo emprego. Depois de mais quatro horas de trabalho, volto para casa que fica a uma distância de uma hora de casa com dois comboios e um autocarro. Quando chego a casa, as crianças já dormem e aí, sem qualquer vontade, atiro-me apenas para cima da cama... E adormeço embalada pelos pensamentos do dia seguinte.

CA

6 comentários:

  1. Vidas demasiado duras...

    ResponderEliminar
  2. Tudo contado ao segundo!
    Um minuto atrasada e "bloqueia" o resto do dia.
    Mas com uma vida agitada, crianças, trabalho,caras novas todos os dias....

    Acredito, que quando te deitas na cama, adormeces feliz, cansada, mas feliz.

    beijo grande
    inesc

    ResponderEliminar
  3. É em alturas assim que nos perguntamos qual o sentido de tudo isto..... o que vale é que resta sempre a esperança de que amanhã, talvez......

    Jorge

    ResponderEliminar
  4. Assim, com mais uma ficção à moda da Cátia, quando tiveres as crianças para levares à escolinha, tudo vai ser mais fácil, tal é a experiência acumulada nos teus contos do Ticho, né?

    Adoro-te!!!!

    ResponderEliminar
  5. "Quando chego a casa, as crianças já e aí, sem qualquer vontade, atiro-me apenas para cima da cama..."

    As crianças já estão a dormir?

    O pior é que este teu conto é vivido por muitas mulheres e também alguns homens...

    Beijo grande!

    ResponderEliminar
  6. Cris,

    Sem dúvida... e partilhada por tantos...!

    Um beijo



    Ines,

    As crianças não sao minhas nem a vida sequer, felizmente. Ficção que é em tantos casos real.

    Beijos


    Jorge,

    Existe sempre um amanha que se espera melhor... existe sempre um futuro, nem que seja para as crianças que se anseia melhor. E por isso há mesmo que lutar.

    Beijocas


    Ti Té,

    Que os meus contos do Ticho, um dia possam ser uma recordação... Gosto de os escrever, gosto de descrever, à minha maneira, o que vejo e o que (felizmente) não vejo.

    Um xi


    Marta,

    Erro de revisão (que juro que revi!!) mas já retificado. Vivido por tantos, tantos... que acho que nem sempre temos a noção.

    Beijo enorme para ti
    CA

    ResponderEliminar

Recebo as vossas palavras de coração...