Saimos de casa depois de jantar. Tinhamos uma missão, seguir as indicações que nos tinham dado, passar pelos locais pre-estabelecidos, recolher o que haveria a recolher, tentar desviar dos perigos que nos prepararam e chegar lá... ao fim. As coisas nunca corriam assim de forma tão simples, sabiamo-lo. Todos sabiamos... menos os recém chegados. Mas esses, no fundo até tinhamos prazer os ver amedrontados. Nós, da velha guarda, tinhamos já feito caminhos semelhantes vezes sem conta... Eram terrenos irregulares, eram canaviais, eram pomares, por vezes eram riachos... uma ou outra vez foi o cemitério. Sabiamos que os perigos viriam, sabiamos que nos iriamos perder, sabiamos que iriamos ter alguma fome. Mas também sabiamos o que fazer, como agir... Caminhar todos juntos com alguém destemido à frente e alguém responsável atrás para nos guardar as costas, fazê-lo em silêncio para que não dessem pela nossa passagem com muita antecedência. Para além disso deviamos caminhar com a lanterna apagada, mesmo nos espaços desconhecidos: a lua é a melhor guia, faz-nos ter perspectiva de todo um espaço e não apenas de uma parte.
Eram mil ataques com medo e sobressalto. Mas sabia que chegariamos, com vida e entusiasmados por reencontrar quem gostamos, com mil histórias para contar, histórias de uma sobrevivência...
Eram mil ataques com medo e sobressalto. Mas sabia que chegariamos, com vida e entusiasmados por reencontrar quem gostamos, com mil histórias para contar, histórias de uma sobrevivência...
Lembro-me de uma dessas noites, em que exausta cheguei a uma praia. Cheguei às portas da morte, com fome e sede, depois de ser atacada por uns e outros, depois de me perder por caminhos desconhecidos e ter que entusiasmar e cuidar dos mais novos que já choravam... Cheguei tarde, mais tarde do que desejaria, mais tarde que a hora marcada. Mas cheguei e lembro-me de ter ver e de ver o teu sorriso... Lembro-me de nos sentarmos lado a lado na areia, pegares na viola e cantares para tranquilizares os que ainda tremiam... E fez-se silêncio. Eu olhava para o mar tranquilo da meia-noite e para a lua cheia enquanto sentia a brisa gelada do oeste e ouvia-se apenas a tua voz embalada pela viola...
... Esse era o meu tesouro.
Gostei de te ler. Beijinhos.
ResponderEliminarHum, há algumas perguntas que queria fazer...já sabes como sou, muito perguntadeira, mas deixo-te mais um pouco com o teu tesouro e a minha curiosidade fica para depois, ok?
ResponderEliminarBeijinhos
Paula,
ResponderEliminarObrigada. :) Eu gosto sempre de te ter por cá...
Muitos beijinhos,
CA
Cris,
As perguntas poderás faze-lo. Este texto é dedicado a alguém que nao me lerá aqui... Mas que me apeteceu dedicar-lhe uns momentos...
Beijinhos
CA